2012/06/18
A terceira semana começou com a descoberta de um bonito (no nosso entender) hóspede na roupa de trabalho da Mónica.
7:05 Aranha nas meias de trabalho da Mónica (esq.) e 8:24 Aranha já no quintal (dir.)
Na obra foi mais fácil que na semana anterior talvez pelo corpo estar mais habituado, ou porque o fim de semana foi mais sossegado, ou talvez os dois...
O número de trabalhadores estava reduzido em três, faltavam o David e o Cristian talvez devido aos exageros dominicais e o Óscar que comemorava o seu aniversário... mas o número de pessoas na obra aquando a nossa chegada era superior uma vez que também se encontrava o Arquiteto e duas senhoras que trabalham consigo, os palhaços Massimo Mariotti (como um dos gémeos hoquistas) e Nicoletta Marinelli amigos da Cecília e Francesco (compraram um “pão de forma” e estão a viajar pela América Central e Sul no mesmo, fazendo alguns espetáculos como forma de sustento) que foram conhecer a casa, o Miguel um amigo que está a ajudar a construir a cisterna e os homens que aí iriam trabalhar.
A manhã começou dedicada à limpeza do espaço... ao nível das paredes tirando os excessos de cob com catanas para aprumar as paredes e ao nível do pavimento apanhando esses desperdícios para fazer novas mesclas (basta juntar água ao cob seco para que este volte e ser trabalhável podendo portanto ser recolocado), bem como outros detritos.
Pelo final da manhã e tarde fizemos cob e colocámos nas paredes...
2012/06/19
Tínhamos pedido o dia de folga para ir visitar o local onde crescem as árvores de Tágua, geradoras das sementes de Marfim Vegetal, no entanto o nosso contacto trocou-nos as voltas passando a visita para Quarta. Como na Quinta e Sexta teríamos já coisas marcadas na obra, combinámos com o Francesco ficar nesse dia pela oficina afim de trabalhar no painel solar construído com garrafas e latas de refrigerante... era a altura ideal para metermos as mãos neste projeto, algo que queríamos fazer desde que soubemos que o Francesco estava a fazer um painel e algo que este tinha posto quase de parte por algum tempo por não ter gente interessada a ajuda-lo a finalizar.
Foi um dia muito mais leve... cortámos um painel de aglomerado de madeira nas dimensões necessárias para apoiar o sistema de tubos (já construído com tubagem de cobre e lâminas de latas de refrigerantes coladas e uma demão de tina preta), pincelámos liquido anti-fungos e pintámos com duas demãos de tinta branca... pintamos o sistema de tubos com mais uma demão de negro... cortámos as garrafas nas medidas projetadas... nem demos pelas horas passar e no final acabámos por trabalhar mais de 8 horas, nem parando para almoçar.
Soldadura e pintura de negro do sistema de tubagem...
Corte e pintura de branco do painel de suporte...
Corte das garrafas nas medidas projetadas...
2012/06/20 (folga)
Saímos bem cedo pois teríamos mais de 1 hora e meia de caminho de Quito até à “plantação” de tágua e teríamos de voltar para almoçar. “Bem cedo” implicava estar às 7:00 em Quito onde nos iriam buscar, e como tal teríamos de sair de casa pelas 6:00. Assim foi, fechámos as janelas (algo que nunca tínhamos feito) e a porta e apercebemo-nos que não tínhamos chave connosco... não podíamos voltar a entrar para ir busca-las, mas também não podíamos sair do jardim pois precisávamos da chave para abrir o portão. Lembrámo-nos de um duplicado que os Franceses tinham deixado junto da janela mas infelizmente o nosso novo acto de segurança inviabilizava lá chegar. Tentámos então o comando do carro para abrir o portão, novamente para fechá-lo, correndo os 50 metros até à saída antes que isso acontecesse... da primeira vez não resultou mas da segunda sim. Em todo o caso passámos o dia preocupados pois nem sabíamos onde tínhamos as chaves nem se o Francesco teria uma outra cópia das mesmas para nos abrir a casa.
Na realidade não se trata de uma plantação mas sim um lugar onde estas palmeiras crescem naturalmente. Assim sendo no local existem algumas palmeiras (em número bastante diminuto) sendo que destas algumas são machos e outras fêmeas, portanto nem todas produzem as sementes. Se isto não fosse suficiente para tornar a matéria prima algo raro, deve-se ainda dizer que são necessários pelos menos 20 anos até que a planta comece a gerar cementes, tendo produção por mais 20. As sementes estão no interior de uma grande esfera espinhosa chamada mococha que pode atingir 20kg e conter 80 sementes.
O próprio processo de amadurecimento é longo: nos primeiros meses o interior da semente é líquido podendo ser bebido; após 6 a 8 meses passa a consistência gelatinosa continuando a poder ser ingerido (tivemos essa oportunidade e o gosto foi praticamente nenhum); por fim enrijece (apenas no interior da mococha pois fora desta apodrece) podendo ser trabalhada após alguns anos obtendo-se um acabamento final similar ao do marfim, provindo assim a designação marfim vegetal.
Trata-se de um processo natural sem qualquer intervenção humana até à extração das sementes, que inclusivamente não invalida a continuação de produção por parte da árvore. Do mesmo modo quer as folhas quer as sementes ou restos destas tem como fim a construção ou a produção de farinhas para alimentação de animais.
10:48 Árvores macho (esq.), 11:04 Árvore fêmea (centro esq.), 11: 21 Mónica com mococha madura (centro dir.) e 11:38 Mococha verde - comestível (dir.)
De volta a Tumbaco ainda houve tempo para trabalhar um pouco no painel solar antes que escurecesse. Dado o acontecimento da manhã tivemos de tocar à campainha para entrar, no interior esperava-nos o Francesco com uma cara entre o sorridente e o preocupado, com um monte de cartões rasgados e cortados na mão... ao procurarmos as chaves de manhã tínhamos posado as cartas de monopólio no parapeito da janela esquecendo de as voltar a colocar na mochila... a cadela não teve meias medidas e mal saímos foi lá e espalhou as 102 cartas pelo jardim, começando a desfazê-las. Por sorte o Francesco acorda cedo e estranhou a euforia que se passava no exterior e apanhou o que pôde. Contámos as cartas e temos todas... mas faltam alguns pedaços... e encontrámos as chaves.
Para jantar cozemos um bocadinho de lentilhas que cresceu tanto que iria dar até ao fim de semana, sempre misturadas com acompanhamentos diferentes.
2012/06/21
Voltámos à obra e ao trabalho do costume... cob, pelo menos o Nuno pois a Mónica foi ajudar na colocação de troncos para fazer-se o pavimento entre o rés-do-chão e o primeiro piso.
Em casa demos mais algum avanço no painel e fizemos um bolo de chocolate para oferecer aos trabalhadores no dia seguinte.
2012/06/22
No nosso último dia de obra as mesmas tarefas do dia anterior, mas parece que ficaram finalizadas as paredes para posterior colocação do tecto.
Fomos almoçar com todos os trabalhadores e tivemos oportunidade de observar uma nova ninhada de cachorritos da senhora que cozinha a refeição e futura vizinha do Francesco.
A nova ninhada e a nossa equipa de trabalho...
Na obra a cisterna apresentava um avanço significativo.
Despedimo-nos de todos e saímos com algum alívio pelos trabalhos forçados terem acabado, tristeza por não termos hipótese de ver a obra concluída, mas muito satisfeitos com o que fizemos, aprendemos e os músculos que ganhámos.
Em casa cozinhámos uns legumes com natas acompanhados de courgete e beringela grelhadas na chapa que comemos acompanhados da Cecilia e do Rumi, uma vez que o Francesco se encontrava um pouquito adoentado.
No dia seguinte iríamos de fim de semana para Otavalo, regressando Domingo à noite, para tentar acabar o painel solar na Segunda ou terça antes de seguirmos para as Galápagos e depois continuar viagem... pelo menos era este o nosso plano...
Evolução da obra: Início da Semana - 2012-06-15 (igual ao fim da semana anterior) (esq.) e 2012-06-22 (dir.)
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