terça-feira, 29 de maio de 2012

América do Sul - Take 5/13 - Colômbia - Parte IX - Deserto Tatacoa

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2012/05/22

Tendo partido de Bogotá pela meia noite, chegámos a Neiva às 5:00 onde esperámos no terminal até quase às 8:00 por transporte para Villa Vieja, povoado mais próximo do deserto e anterior capital do distrito Huila, antes de Neiva.

Em Neiva, e à semelhança do que tinha acontecido em Bogotá, na rádio anunciavam a chegada do herói nacional, Radamel Falcao Garcia para um jogo particular numa digressão do Atlético de Madrid pela Colômbia. Na Colômbia as capas dos jornais desportivos são quase sempre notícias do Falcao e na televisão os anúncios são com este ou com o James Rodriguez, havendo inclusivamente um em que aparecem imagens da cidade invicta e do Douro... conhecer algo do mundo do futebol e ser do Porto é sempre um bom desbloqueador de conversas por cá.

No centro de Villa Vieja, em menos de 2 minutos fomos abordados pelo Chiki que nos oferecia um tour ao deserto... fizemo-nos difíceis mas acabámos por aceitar. Antes visitámos ainda o museu de paleontologia do local onde se podem ver alguns ossos fossilizados de mamíferos e repteis já extintos, assim como fosseis de plantas, todos encontrados no deserto.

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09:13 Igreja de Villa Vieja (esq.), 09:24 Nós no mototáxi (centro) e 09:39 Mototáxi (dir.)

O nosso veículo era uma mototaxi, algo com três rodas, muito instável e que dificilmente dá mais de 60km/h.

Partimos em direção ao deserto, parando várias vezes pelo caminho para tirar fotos da singular paisagem.

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09:44 Mapa do deserto (esq.) e 09:43 Deserto (dir.)

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Deserto: 09:48 (esq.) e 09:52 (dir.)

Numa das paragens existe um observatório astronómico, junto ao qual tínhamos lido que poderíamos acampar. Por um lado o nosso guia insistia que devíamos ficar num local que ele conhecia e que nos levava lá, por outro insistíamos no observatório pois era nossa ideia passar lá pela noite para ouvir uma pequena apresentação dos astros feita pelo astrónomo local e posterior observação dos mesmos com um potente telescópio... pernoitar nas imediações do telescópio teria um custo de 5000COP mas não era ainda certa a possibilidade de cozinhar... decidimos também averiguar as condições da hospedagem sugerida...

Pouco depois tivemos a oportunidade de fazer uma pequena caminhada com início em Al Cuzco, debaixo de um sol abrasador, mas até bastante suportável comparado com alguns locais húmidos por onde já tínhamos passado. Aqui o Chiki deu-nos a conhecer, e a provar, dois novos frutos: cucua (semelhante a um pequeno tomate com sabor mais ácido) e pitaya (semelhante a um pequeno pimento, cor rosa e por dentro um kiwi “mexido” de cor branca e sementes pretas); também nos mostrou algumas curiosas formações rochosas e um local onde a Shakira terá dançado para um dos seus videoclips.

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09:13 Observatório (esq.) e Deserto: 10:06 (centro) e 10:11 (dir.)

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Deserto: 10:15 (esq.), 10:43 (centro) e 10:21 Local onde dançou a Shakira (dir.)

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Pitaya: 10:32 Fruto no Cacto (esq.), 10:29 Fruto (centro) e 10:30 Depois de uma dentada (dir.)

Em seguida parámos no acampamento “El Tigre” que o Chiki nos queria mostrar, e onde poderíamos pernoitar em cabana (15000 COP/pessoa), tenda (nossa 5000 COP) ou hamacas (alugada 10000 COP, nossa 5000 COP)... dado termos as hamacas o custo seria semelhante ao observatório, com possibilidade de utilizarmos a cozinha pelo que, decidimos ficar, pousando as mochilas, seguindo com o tour  e planeando pela noite caminhar a meia hora de “distância” até ao observatório.

O ponto seguinte seria La Ventana, um miradouro com paisagem bastante diferente das anteriores, nomeadamente a cor predominante, que passava a ser o cinza em detrimento do castanho.

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La Ventana: 11:29 (esq.) e (centro) e 11:34 (dir.)

O último ponto foi Los Hoyos, onde caminhámos novamente entre algumas formações rochosas, passando por fim numa piscina, artificial, onde nos podemos banhar a troco de algum dinheiro (3000 COP).

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Los Hoyos: 12:11 (esq.), 12:13 (centro) e 12:23 Piscina (dir.)

Voltámos ao acampamento onde almoçámos sardinhas com pão e cozinhámos massa com legumes e arepas de alho para o jantar e almoço do dia seguinte. Antes que o Chiki se fosse embora combinámos para que nos viesse buscar entre as 8:00 e as 10:00 no dia seguinte, ao que ele respondeu preferir o mais cedo possível.

Voltando ao futebol, ou melhor ao Falcao, por coincidência o Chiki levou-nos para o acampamento El Tigre (alcunha do jogador por estes lados, uma vez que Falcao não quer dizer nada) e, ao fim de lá estarmos à alguns minutos posou um falcão peregrino (halcon em espanhol) numa árvore próxima...

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14:41 Falcão peregrino

Ao final da tarde e embora o céu tivesse totalmente coberto decidimos arriscar (também não tínhamos mais nenhuma oportunidade) e seguir até ao observatório. Quando lá chegámos já se viam algumas estrelas e o tour começou... Foram duas horas onde nos foi transmitida imensa informação continuamente sobre os astros. Infelizmente o céu nunca descobriu o suficiente e não tivemos oportunidade de observar os astros através do telescópio. Note-se que dada a localização geográfica do observatório assim como o facto de não haver quase fontes de poluição atmosférica no local, o astrónomo residente consegue por vezes tirar fotografias fantásticas, e com equipamento muito inferior a de muitos outros observatórios. Um dos pontos altos do tour é quando temos a oportunidade de ver Saturno e os seus anéis nitidamente e, colocamos a nossa objectiva da máquina fotográfica no óculo do  telescópio e fazemos o disparo... não foi possível, mas foi deveras interessante.

Voltámos ao acampamento, jantámos, montámos as hamacas e fomos dormir pois tínhamos de acordar por volta das 6:30.

2012/05/23

Acordámos antes das 6:00 para termos tempo de arrumar tudo antes do Chiki nos vir buscar... às 7:45 estávamos prontos mas, para nosso espanto, vimos o carro dos nossos companheiros de visita ao observatório, com o Chiki no banco de trás. Acabámos por esperar quase até às 10:00 pois este teve de acabar o tour que estava a fazer, e que tinha começado às 5:00 e ainda pegar na sua trotinete desde Villa Vieja até nos apanhar. Como tínhamos tempo para chegar a San Agustin ao fim do dia e tínhamos o monopólio para jogar nem nos chateamos e o tempo passou depressa. Também acabamos por descobrir da maneira menos boa que apesar de não existirem mosquitos, como nos tinham indicado no dia anterior,existem pequenas moscas cuja picadela e tamanho não alarmam, mas que se fazem notar umas horas depois de forma muito intensa... pelo que acabamos com as pernas totalmente picadas... novamente.

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Amanhecer: 06:04 (esq.), 06:09 (centro) e 06:10 (dir.)

Neste acampamento existe um pequeno jardim repleto de borboletas e procurado por alguns colibris, canários e outros animais... fotografa-los foi mais uma forma de passar o tempo.

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Borboletas: 2012-05-22 11:08 (esq.) e 2012-05-22 11:11 (dir.) ...

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... e mais borboletas: 08:32 (esq.) e 08:33 (dir.)

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07:18 Canário (esq.) e 08:29 Colibri (dir.)

Em Villa Vieja voltámos ao Museu pois não tínhamos pago a visita no dia anterior e iniciámos a nossa viagem até San Agustin: primeiro 1 hora na caixa de uma carrinha até Neiva, onde a principal noticia da rádio tinha a ver com o descontentamento e consequentes distúrbios gerados pelo facto do Falcao, principal atração e motivo porque muitos tinham ido ao estádio, não ter jogado sequer um minuto; depois 4 horas em mini bus até Pitalito; e finalmente mais 1 hora em nova caixa de carrinha até San Agustin.

América do Sul - Take 5/13 - Colômbia - Parte VIII - Zipaquirá

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Antes de mais, um pouco de história...

O território onde nasceu Zipaquirá já foi o fundo do oceano, no entanto, com o aquecimento global e o movimento tectónico, a água foi-se evaporando até se formar um “lago de sal”. Durante o processo de geração dos Andes, deu-se a elevação de camadas rochosas de ambos os lados do lago, até que estas cobriram o mesmo. Assim, formou-se um núcleo de sal com aproximadamente 1km2 em planta, 500 metros de profundidade, a uma altitude de 2650 sobre o nível do mar.

O início da exploração do sal remonta ao século V, tempo da cultura Muisca, em que partiam a pedra para obter o sal (primeiro superficialmente e depois através de minas subterrâneas), depois adicionado a água para o limpar... utilizando-o essencialmente para fabrico do pão.

Em 1801 com a necessidade de melhorar o processo de produção de sal, realizou-se o primeiro sistema de túneis, pelo método de câmaras e pilares, com dimensões de 10x10m em planta e 18m de altura, utilizando como recurso picaretas para recolha do sal e posterior passagem por sistemas de caldeirões metálicos para o seu tratamento. Este sistema encontra-se a 2732m de altitude, designado de primeiro nível ou nível Guasa (água salgada).

Em 1880, iniciou-se a exploração do segundo nível, denominado Potosí, á cota 2710m, através de um novo método de exploração de câmaras compridas (dimensões: 10m de largura, 100m a 200m de comprimento e 16m de altura), com avanço através de explosivos controlados.

Em 1932, Luis Ángel Arango teve a ideia de construir uma capela subterrânea levado pela devoção que os operários demonstravam antes de iniciar a sua jornada de trabalho.

A 7 de Outubro de 1950 começou a construção da primeira catedral, nas antigas galerias cavadas pelos muiscas dois séculos antes (no segundo nível), tendo sido inaugurada a 15 de Agosto de 1954. Esta era composta por três grandes naves, dominadas por uma grande cruz iluminada, tinha um comprimento de 120 m, uma superfície habitável de 5.500 m² e uma altura de 22 m . No seu interior podia albergar 8.000 pessoas.

Em 1978, começou a exploração do terceiro nível, a Fabricalta, a 2674m de altitude, com um modo de exploração semelhante ao anterior, mas com incorporação de pilares a todo o comprimento de cerca de 10 de largura.

Com o passar dos anos a antiga catedral tornou-se insegura, tendo sido encerrada por em 1990. Posteriormente foi aberto concurso de Arquitetura para a construção de uma nova, tendo ganho o projeto do arquiteto Roswell Garavito Pearl.

A partir de 1991 iniciou-se o método de exploração de dissolução in situ, técnica aplicada em jazidas de minério permeáveis e profundas, como é o caso do quarto nível designado de subsavana, e consiste na injeção de água por gravidade ou pressão que dissolve o sal transportando-o para fora da mina, deixando as impurezas no lugar, por outro lado a pressão no interior do espaço era mais constante. Nas fases anteriores a rocha retirada da mina era transportada para o exterior por camiões até uns tanques (transformados no museu) onde eram “lavadas” com água posteriormente transportada por tubagens para zonas de tratamento e obtenção do sal, sendo os resíduos retirados com recurso a pás escavadoras.

Em 1995, foi inaugurada a nova Catedral (com inicio de construção em 1991) dividindo-se em três secções principais, mantendo muitas das características da sua predecessora, 60 metros acima:

  • A Via Sacra, ao longo do túnel de entrada,onde se encontram pequenos altares talhados em rocha de sal, que posteriormente conduz para a Cúpula;
  • A Cúpula, que nos leva a uma rampa de descida e varandas sobre as diferentes câmaras;
  • As câmaras da Catedral, situadas já no terceiro nível, sendo que na nave central se pode observar uma cruz de 16 m e no outro extremo uma obra talhada em mármore do escultor Carlos Enrique Rodríguez Arango, designada de "A Criação do Homem", em homenagem a Miguel Angelo.

2012/05/21

Para chegar a Zipaquirá tivemos primeiro de apanhar em Bogotá a eficiente e bem organizada rede de autocarros Transmilénio (que funciona como um metro de superfície) até ao Portal del Norte, no extremo da cidade e depois um autocarro de uma hora.

A caminho do Parque de la Sal passámos pela praça principal da Cidade e entrámos na catedral.

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Catedral de Zipaquirá: 10:12 Exterior (esq.) e 10:09 Interior (centro e dir.)

Por volta das 10:00 chegámos ao Parque onde escolhemos a modalidade de bilhete A5, que inclui: entrada e visita à Catedral de Sal; visionamento de vídeo em 3D sobre a história da mina e construção da Catedral; percurso Ruta del Minero; e entrada no Museu da Salmoura (apenas não escolhemos o comboio turístico e a parede de escalada). 

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15:18 Parede de escalada e Plaza del Minero - Acesso à Catedral de sal  (esq.) e 15:15 Túnel de entrada na Catedral (dir.)

Começámos por visitar a Catedral numa visita guiada, mas cedo nos separámos pois o grupo era tão grande que não conseguíamos tirar fotos sem gente à frente, ou sequer ouvir parte das explicações. Decidimos assim ir ao nosso ritmo, apanhando algumas informações de outros grupos guiados que passavam por nós de 5 em 5 minutos (nem queremos imaginar qual é a afluência de pessoas ao Domingo).

A entrada é feita por um túnel de onde a água escorre pelas paredes formando-se cristais de sal. Até à nave principal caminhamos algumas centenas de metros por túneis seguindo a via sacra, com todas as figuras de cristo representadas por cruzes, sendo que estas, com o passar das cenas se encontram cada vez mais enterradas, representando o sofrimento de Cristo até à sua crucificação e morte. As galerias são enormes e a iluminação perfeita.

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Via Sacra

A Catedral que visitámos é uma obra recente começada 1991 e terminada em 1995, tendo sido o ponto turístico mais votado na escolha das 7 Maravilhas da Colômbia. A base do seu desenvolvimento arquitectónico/geométrico tem muito a ver com a forma como foi feita a exploração mineira de sal, com o aproveitamento e alargamento dos túneis existentes para a sua construção...

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11:45 Vista superior sobre a nave principal (esq.), 11:59 Nave secundária: Capela Nossa Senhora do Rosário com imagem proveniente da anterior catedral (centro esq.), 12:21 Sacristia: Mónica e o bastão (centro dir.) e 12:22 Cúpula da Sacristia (dir.)

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Nave Secundária - Baptistério: 11:53 Vista superior sobre a nave (esq.), 12:14 Presépio (centro) e 12:16 Altar La Cascada (dir.)

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Nave principal: 12:25 Cruz do Altar Mor (esq.), 12:32 Altar Mor (centro) e 12:43 Réplica d”A Criação do Homem” de Miguel Angelo (dir.)

Depois de 3 horas saímos finalmente da catedral, entrando num túnel comercial a 180 metros de profundidade. Aqui entrámos num grande auditório para assistir a um filme 3D onde nos foi explicada a história da mina e catedral. Daqui seguimos para um espetáculo de luzes (nada de especial) e para o espelho de água, antes de almoçarmos e ingressarmos na Ruta del Minero. Esta consta apenas de um percurso de 200 ou 300 metros, muito deste feito em total escuridão, sendo o principal atrativo o facto de podermos nós próprios pegar na picareta e extrair o nosso próprio pedaço de sal e a simulação de uma detonagem.
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13:47 Escultura esculpida na parede da mina (esq.), 13:54 Espelho de água (centro) e 14:44 Demonstração da colocação de explosivos (dir.)
Saímos do interior da terra e visitámos o museu da salmoura, nas instalações onde se tratava a rocha retirada da mina, de modo a se obter o sal...
Por fim fomos ao miradouro sobre a cidade de Zipaquirá e voltámos ao centro para regressar a Bogotá.

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15:20 Museu da Salmoura (esq.) e 15:53 Miradouro sobre Zipaquirá (dir.)

Na capital, jantámos nos vendedores ambulantes: 3 hamburgers, uma maçaroca de milho e um saco de churros... tudo por pouco mais de 4€ seguindo para o hostel para levantar as mochilas e depois terminal, de onde partiríamos pela noite para Neiva, em direção ao deserto de Tatacoa.