Depois de mais uma efémera passagem por Lima estávamos na Cordilheira Branca. Esta prometia ser a nossa maior aventura no Peru assim como o maior rombo na carteira (250 USD por pessoa). No terminal onde esperávamos pelo nosso Guia Lucho só se via gente com material de escalada e alpinismo. Como tínhamos enviado um email antes a confirmar a hora da nossa chegada como combinado, esperámos por quem nos viesse buscar. Depois de muita espera tentámos ligar para o telemóvel do Lucho mas não dava qualquer sinal. O Nuno foi a um botequim de internet para ver se tinha alguma resposta … mas nada… como nos lembrávamos que iríamos ficar no Hotel Galáxia com quem o Lucho trabalhava, ao vermos na internet o número de telefone, tentámos a nossa sorte.
A não ser o pequeno percalço com o “paro” entre Cusco e Puno estava tudo a correr de acordo com o nosso planeamento mas, à segunda chamada para o Hotel fomos informados que o Lucho estava na montanha voltando apenas no dia que tínhamos previsto para a saída de Huaraz. Já no Hotel e olhando para o quadro com planeamento dos guias não constava lá o nosso nome, perguntaram-nos quando teríamos disponibilidade para a subida ao Nevado Pisco. Quando referimos que tínhamos tudo combinado com o Lucho e que por isso já tínhamos os dias todos preenchidos ficámos todos apreensivos.
Entretanto fomos posar as mochilas no quarto e tomar um necessário banho. Enquanto nos lamentávamos já nos batiam à porta a dizer que tinham arranjado novo guia e que este estaria a chegar para nos dar umas noções básicas para andar na neve. Por sinal era Marco o irmão mais velho do Lucho, supostamente reformado destas andanças mas que lá nos fez o “favor” de remediar os erros do benjamim da família. Com isto proporcionou-se uma enorme coincidência: o único português com quem tínhamos estado no Peru, quando estávamos em Machu Picchu, disse-nos que tinha subido o Nevado Pisco. Ele perguntou-nos com quem íamos aconselhando que deveríamos ter cuidado e escolher empresas qualificadas. Não sabíamos o nome da nossa empresa mas quando referimos Lucho e Hotel Galaxia ele disse que tinha ido com o irmão Marco. Depois de tantas voltas calhou-nos o mesmo.
Feitas as apresentações começou a aulinha: o que levar, o que tínhamos, o que precisávamos, o que nos forneciam, como utilizar o equipamento etc… Para ver a nossa capacidade física e de habituação à altitude fomos fazer uma caminhada, da qual resultaram aparentemente muito boas indicações.
Depois da caminhada almoçámos e fomos procurar o que não tínhamos, nomeadamente “pantelones” (ceroulas de lã) e churros (gorros para a neve). Gorros havia por todo o lado agora as ceroulas foram difíceis de encontrar, conseguindo-se apenas junto da banca de uma senhora idosa.
No dia seguinte acordámos, esperámos e desesperámos pelo Marco e na presença deste preparámos as mochilas de cada um fazendo uma última “check list”. Seguimos de táxi para um terminal de combis, e entrámos numa. Embora parecesse cheia cabia sempre mais uma pessoa, atingindo-se o máximo de 26 pessoas numa carrinha de 9 ou 12 lugares. Na última paragem o Marco negociou novo táxi para nos levar ao início da caminhada. Pelo caminho parámos para comprar o bilhete do parque nacional de Huascaran (S/. 65.00) e dar boleia a duas raparigas todas excitadas com o taxista.
Fomos alugar dois transportadores (um cavalo e um burro) e seguimos para uma caminhada até ao acampamento base no sopé da montanha. No início da caminhada íamos atrás dos animais o que não foi muito agradável pois o cavalo não se devia estar a sentir muito bem com a altura fazendo uma descompressão sonora e ritmada a apenas 1 metro do Nuno. Depois de conseguirmos passar as bestas chegámos ao acampamento onde montámos as tendas e esperámos que o nosso cozinheiro Marco nos fizesse uma massa com frango. O Marco parecia ter comprado comida para um batalhão ou para passarmos uma semana na montanha. Enquanto descansávamos um pouco na tenda vimos mais uma vez uma vizcacha (Lagidium Peruanum). Do acampamento podia-se ver algumas montanhas entre as quais o Nevado Pisco (5752m) e o imponente Huascaran, ponto mais alto do Peru com 6768m.
Tivemos de ir dormir cedo pois à 1:00 devíamos estar a começar a andar. Tínhamos pela nossa frente 4 a 5 horas de subida em rocha e depois mais 3 a 4 horas de subida na neve. Quando acordámos estava a nevar mas tínhamos esperança que com o passar do tempo as condições melhorassem. Começámos à 1:30 conjuntamente com mais dois ou três grupos. Ao fim de pouco tempo as velhinhas botas da Mónica estorvavam mais do que ajudavam: Como a sola estava solta ela amarou os cordões por baixo do sapato que, pelo facto de estarem húmidos, juntavam muita neve, o que dificultava imenso o andar. Junto do Glaciar a Mónica ponderava em desistir mas depois de calçar as botas de neve o os grampões e andar um pouco ganhou novamente confiança. Infelizmente o tempo não acalmou, continuava a nevar e o nevoeiro não nos deixava ver mais do que 2 ou 3 metros. Ainda assim continuámos, fomos subindo pela neve , com mais ou menos dificuldade, com, ou não, recurso às cordas e ao piollet, atravessámos uma fenda no gelo e tirámos algumas fotos. Ficámos a uns meros 150 metros do cume mas como não se via nada foi mais prudente não avançar mais.
Nós e o nosso Guia Marco Nevado Pisco
Voltámos para baixo e com o acalmar do tempo e a luz do dia podemos observar a extensão de rocha que tínhamos percorrido durante a noite assim como o que havia para ver nas redondezas.
Lagoa Descida até ao acampamento base
Quando chegámos ao acampamento e pensávamos descansar tivemos de andar a limpar a nossa tenda pois estava completamente encharcada mesmo pelo interior. Aproveitámos o resto do dia para descansar e confraternizar com os nossos vizinhos. A noite custou muito a passar para a Mónica devido ao muito frio que se fazia sentir, tanto frio que até o Nuno dormiu de pantelones.
Acampamento base: Huascaran Acampamento base: Nevado Pisco
No dia seguinte o céu estava completamente limpo, se tivéssemos programado as coisas um dia depois teríamos visto tudo de lá de cima mas… foi a sorte que nos calhou. Acordámos cedo para arrumar as coisas e esperar que chegassem os nossos “burros de carga” (literalmente) enquanto as tendas secavam. Quando chegaram, descemos até ao “rent a burro” onde supostamente estaria à nossa espera o táxi, o que não aconteceu. Ainda esperámos mais de uma hora, inclusivamente jogando futebol com 2 miúdos até ficarmos sem ar (uns 10minutos depois). Ficámos a perceber como é que a selecção de futebol da Bolívia ganhou 6 a 1 à Argentina na qualificação para o mundial – escusado será dizer que também perdemos mas apenas por 2-1.
Desistimos de esperar, apanhámos outro transporte, uma carrinha de 9 lugares que vinha buscar outros estrangeiros. Como estes quase não falavam nem percebiam castelhano o nosso guia e o motorista arranjaram forma deles pagarem muito mais que nós pela viagem.
Em Huaraz pedimos para tomarmos banho no hotel uma vez que já tínhamos dado saída, pedido concedido a troco de alguns soles. Antes de sairmos do hotel conhecemos finalmente o Lucho que tinha acabado de chegar da montanha. Descansámos um pouco e depois de aceites as desculpas pelo sucedido, seguimos para o terminal de autocarros partindo para Trujillo.
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