quinta-feira, 25 de junho de 2009

Peru - Chiclayo

Estava a chegar ao fim a nossa aventura e estávamos na cidade mais a Norte que iríamos visitar, desta vez para conhecer duas novas culturas: Sipan e Sican.

No dia anterior tínhamos combinado um tour (S/.30 cada ) passando pela Huaca Rajada e correspondente museu de sítio, pelo museu das tumbas reais de Sipan e por Tucume, que correspondia a uma mistura de dois percursos. À hora marcada estávamos na agência onde uma varina barafustava por todos os lados. Esta queria a todo o custo dissuadir-nos para mudarmos os pontos de visita pois, de acordo com ela, todas as estradas estavam cortadas por manifestantes. A cidade de Chiclayo estava uns caos a nível de trânsito e mais de uma hora depois do nosso motorista dizer que estava a chegar com o carro ainda esperávamos por ele.

O nosso guia era um arqueólogo bastante conhecedor dos locais que iríamos visitar tendo inclusivamente participado activamente nas suas escavações e está actualmente a escrever um livro histórico sobre as mesmas.

Dirigimo-nos inicialmente à Huaca Rajada e correspondente museu de sítio, local onde aparentemente não iríamos conseguir passar. Felizmente, manifestantes nenhum, na estrada só muitos abutres e uma raposa (El Zorro).

Na Huaca foram encontradas 14 tumbas, muitas delas pilhadas e destruídas pelos saqueadores, das quais podem ser visitadas 7. Pensa-se que no meio da pirâmide aparentemente maciça ainda existam pelo menos três tumbas por escavar. Naquelas que foram encontradas intactas, após a retirada do seu conteúdo, foi reconstruída toda a disposição original quer com cópias quer com os originais após tratamento contra a erosão. A disposição dos artefactos assim como dos corpos, não era feita ao acaso: no caso do enorme túmulo do senhor de Sipan tinham sido enterrados juntamente mais 7 pessoas, todas sacrificadas para o efeito, ficando nos níveis superiores o guardião (ao qual terão sido amputados os pés, aparentemente para não fugir à sua responsabilidade de guardar o túmulo) e o ancião, símbolo de sabedoria em posição fetal. A mulher jaz acima da cabeça do Senhor, as concubinas abaixo, o porta estandartes à esquerda e o guerreiro à direita.

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Tumbas do Senhor de Sipan (esquerda) e do Velho Senhor de Sipan (direita) na Huaca Rajada

O nome Senhor de Sipan foi atribuído devido ao enorme tesouro encontrado enterrado com o corpo, comparativamente com os túmulos adjacentes descobertos até então. Apesar dos muitos saqueadores que levaram muito do conteúdo de vários túmulos há que felicitar o facto destes terem feito um furo prospectivo (visível aquando da visita à Huaca) a meros 50 cm das paredes deste túmulo, não encontrando o que pretendiam e passando ao lado de um dos maiores tesouros do Peru – parece que o guarda amputado cumpriu com o seu dever. Anos mais tarde foi descoberto novo túmulo, ainda mais valioso, ao foi atribuído o nome de Velho senhor de Sipan, por este se encontrar a um nível inferior, e portanto ser mais antigo.

Junto ao tempo pode-se visitar o museu de sítio (S/. 3,00) cujo conteúdo, exposto e descrito detalhadamente, corresponde quase na totalidade ao que foi encontrado na tumba 14, ao que pelo conteúdo encontrado se presume ser de um sacerdote importante. Este terá sido sepultado com a sua mulher, e 1 lama assim como com dezenas de peças cerâmicas, adornos corporais (escudos, armaduras, orelheiras, narigueiras, peitorais, elmos, etc…) em ouro e prata, amuletos e estatuetas. É curioso o facto de tudo o que foi encontrado em ouro ter a respectiva cópia em prata, representando assim o equilíbrio, os dois braços da balança, o bem e o mal…

[16.040]_Sipan_Huaca_Rajada2  [16.021]_Sipan_Museu_de_Sitio_Huaca_Rajada_Tumba_14_Peça_em_Bronze2  [16.012]_Sipan_Museu_de_Sitio_Huaca_Rajada_Peça_de_Colar_de_Bronze2
Huaca Rajada (esquerda) e Artefactos em bronze no Museu de Sítio encontrados na Tumba 14 (centro e direita)

Todo o conteúdo das restantes sepulturas está exposto no Museu das tumbas reais de Sipan

A senhora da agência não parava de ligar dizendo que estava tudo interrompido e que a estrada por onde tínhamos passado tinha acabado de ser cortada, por isso não íamos conseguir regressar… mais uma vez falso alarme. Fomos almoçar a um restaurante que nos indicou dois pratos como sendo rápida a sua saída (e tinha de o ser pois o nosso atraso inicial estava a por em risco o cumprimento da visita a todos pontos do tour)… mais de meia hora depois já desesperávamos e duvidávamos do significado da palavra rápido. O restaurante era muito mais caro do que os que estávamos a ir e no fim de contas a comida também não era grande coisa… fracasso total.

Seguimos para o magnífico museu das tumbas reais de Sipan (S/. 10). Não se parecia em nada com o que tínhamos visto até então no Perú: Arquitectura moderna tal como se de um recente museu se tratasse, seguranças, revistas individuais… tivemos todos de deixar telemóveis e máquinas fotográficas e carteiras no bengaleiro.

Não foi preciso muito tempo para saber o porquê de tanta preocupação e controle e segurança. No interior do museu encontravam-se todos os artefactos recuperados dos túmulos da Huaca Rejada à excepção dos da tumba 14, expostos no museu de sítio visitado anteriormente. Entre todos os túmulos salienta-se o do Senhor de Sipan e o do velho senhor de Sipan com muitos quilos de ouro cada.

Na nossa opinião seria possível passar um dia inteiro no interior do museu sem nos fartarmos do que víamos e de modo a nos inteirarmos de tudo o que terá sido encontrado em cada uma -das campas mas, infelizmente, os nossos atrasos iniciais e no restaurante obrigaram-nos a uma visita de 2 horas em passo de corrida, pois as 18 horas já se aproximavam e com estas a noite e o fecho da entrada nas pirâmides de Tucume (S/. 8,00 adulto e 3,00 estudante).

Mesmo correndo não chegámos a tempo … a bilheteira, recepção e a cancela de entrada já se encontravam fechadas mas isso não parecia ser impedimento para o nosso guia … fomos entrando como se não soubéssemos de nada… contornámos a cancela enquanto o nosso motorista distraia/negociava com o segurança local. Acabámos por assistir ao por do sol do topo de uma elevação, de onde se viam no horizonte mais algumas pirâmides parcialmente destruídas entre a vegetação, tal e qual enormes formigueiros de barro castanho avermelhado, e grupos de abutres voando sobre os seus ninhos. Nesta elevação localizava-se o santuário onde seriam feitos sacrifícios, comprovados pela descoberta de vestígios de sangue.

Tucume correspondia a um complexo habitacional onde cada uma das pirâmides correspondia à habitação de um governante. Nenhuma destas, inclusivamente as de Tucume onde se estão a desenvolver trabalhos de escavação, está ainda aberta ao público geral não sendo por isso possível visitar o seu interior. Tucume pertence à civilização Sican com costumes muitos parecidos com os de Sipan mas, de acordo com o nosso guia e embora nos parecesse quase impossível, com técnicas mais aperfeiçoadas de trabalhar o metal, nomeadamente o ouro, expostas no museu de Sican que infelizmente não tivemos oportunidade de visitar.

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Ruínas Tucume                                                                 Abutres (Cathartes Aura)

No fim da visita tivemos de pagar o pequeno suborno ao guarda (S/. 5,00) antes de irmos embora, de volta a Chiclayo. No caminho de regresso trocámos contactos com o nosso guia ficando este de nos enviar por email alguns capítulos do livro que anda a escrever sobre as culturas, os túmulos e os templos Sipan e Sican – Até hoje… NADA.

Salientamos o facto do esforço que tem vindo a ser feito pelo governo peruano de modo a trazer de volta ao seu país todos os artefactos que se encontram distribuídos pelo mundo fora, resultantes das pilhagens por parte dos saqueadores

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