quarta-feira, 22 de junho de 2011

Bolívia – Rurrenabaque

Dia 14 _-_17/06/2011 De La Paz até…

Pela manhã fomos tratar dos vouches  do tour que tínhamos reservado para a selva e comprar algo, seguindo de táxi até ao outro extremo da cidade para o terminal regional de autocarros em Villa Fátima.

Fomos em busca da nossa agência de autocarro, perguntando quase de porta em porta, até que nos indicaram qual o autocarro, que estava a ser carregado, e de que forma, e que sairia já… mas isso só aconteceu mais de uma hora depois, quando o autocarro já tinha mais de um metro de carga em cima do mesmo. Passava o mesmo com todos os autocarros das redondezas cheios de enormes sacos de folhas de coca.

Começávamos assim uma viagem que se previa ser de 18 horas, tendo a chegada prevista para as 6 da manhã do dia seguinte, a tempo de entrar no nosso tour.

Nem tínhamos saído da rua e já havia gritos… o autocarro estava tão alto que não conseguia passar por baixo dos cabos elétricos. Assim sendo o assistente do motorista saiu por uma janela do autocarro, trepando pelos sacos até ao topo e, muito engenhoso e despachado, foi de cruzamento em cruzamento levantando os cabos à mão até sairmos da cidade, demorando mais de 1 hora para fazer uns meros 500 metros.

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Pesado de mercadorias ao qual em Portugal chamamos de carro (esq.) e Gaivota Andina – Chroicocephelus Serranus

Começava a fazer sentido o slogan da empresa Trans Totai pela qual viajávamos: “TU AVENTURA EMPIEZA AQUI”.

A viagem era acompanhada por música nos altifalantes em altos berros, de tal modo que tivemos de por tampões nos ouvidos.

Parámos em Yolosita, automaticamente saíram todos, já deviam saber do que se tratava ou estar habituados a estas paragens e saber do tempo de espera. Aparentemente havia um problema com o motor, mas ao menos tínhamos parado em local estratégico, perto de uma banca de comidas… terminámos provando um Zelleno, uma bola de arroz frita, recheada com carne.

Passada meia hora arrancámos novamente saindo da estrada pavimentada e entrando no que parecia ser a Estrada da Morte, a qual tínhamos “sobrevivido” no dia anterior: Igualmente estreita, curvas apertadas, ravina de mais de 1000 metros, mas com as agravantes de agora estarmos num grande e largo e pesado autocarro de dois pisos e de a estrada ser transitada por veículos nos dois sentidos, maiormente camiões. Não sendo suficiente, em caso de cruzamento, quem desce deve ceder a passagem, se necessário recuando até um local suficientemente largo e, ao contrário do resto de todo o país, circula-se pela direita.

Nas curvas era necessário fazer manobra para a frente e para trás várias vezes, nos túneis encaixávamos certinho vendo a rocha pelo vidro a menos de 10cm do nosso nariz e quando recuávamos fazíamo-lo até que a roda traseira saía da estrada ficando a voar no ar. Em andamento normal, da janela víamos um pouco da estrada e de repente só víamos o rio lá em baixo, mas o autocarro seguia sempre. Nós os 4 estávamos com medo, muito medo, os restantes passageiros estavam como se nada de anormal se passasse.

Haviam muitas obras que interrompiam a estrada e com isso muitas mais e longas paragens. Não basta-se isso, sempre que o autocarro desligava o motor  automaticamente saiam todos, o que atrasava tudo pois havia que esperar sempre que todos entrassem para voltar a andar. Uma vez que a viagem tinha apenas 400km de percurso mas se previam 18 horas assumimos que todas estas paragens estivessem minimamente estimadas.

Chegou a noite e deixámos de ver por onde andávamos acalmando um pouco e conseguindo dormir, excepto o Nuno. Depois de descer até ao rio, houve que subir nova cordilheira de floresta e aí voltaram os problemas: primeiro andávamos uma hora e parávamos 5 minutos mas para o fim andávamos 5 minutos e parávamos meia hora… resultado avaria e havia que trocar de autocarro a meio da noite.

Dia 15 _-_18/06/2011 … de algures até Rurrenabaque

Em plena madrugada e dentro da selva estávamos todos na estada esperando que passasse outro autocarro que nos levasse… o primeiro não parou mas o segundo, que vinha quase vazio sim. Vimos 4 bancos vazios e aí nos fomos sentar, eram os últimos de trás… foi má decisão pois nos quilómetros seguintes haviam muitos buracos e lombas nos quais saíamos voando do acento, tocando com a cabeça no tecto do autocarro.

Perguntámos aos do autocarro se chegaríamos a tempo do tour e a resposta foi que sim. Já com dúvidas a Mónica perguntou onde era a vila mais próxima para poder ligar à agência e informar da nossa situação e a resposta foi estávamos a chegar a uma que ficava perto. Andámos e andámos e chegámos a um posto de abastecimento mas sem telefone. Depois de mais algumas perguntas e nos responderem sempre o mesmo, mesmo já estando atrasados foi a vez de perguntarmos a um passageiro: segundo ele faltava bastante e só deveríamos chegar pelas 14:00, oferecendo-se para ligar para a agência do seu telemóvel. Explicado o caso disseram não haver problema que íamos noutro dia.

Ultrapassada a cordilheira chegámos a terreno totalmente lamacento e para variar… nova paragem. O motorista analisou a situação mexeu no autocarro mas havia que empurrar… muitos Bolivianos e a Mónica fizeram o esforço, com sorrisos por parte das senhoras que a viam desde a janela do autocarro, e a verdade é que o autocarro voltou à vida chegando ao destino às 14:30, quase 28 horas depois de sair de La Paz… agora sim sobrevivemos à verdadeira Estrada da Morte.

Fomos diretos à agência para saber como se ia processar o tour mas informaram-nos logo de uma possível greve dos motoristas e como tal o nosso tour do dia seguinte poderia estar comprometido, podendo se quiséssemos trocar o tour Pampas pelo tour Selva.

Seguimos a sugestão da agência e fomos para o hostel mais barato, o Madidi onde alugámos quarto para os 4 no último piso com vista para toda a cidade.

Ainda não refeitos do susto da viagem fomos logo comprar o regresso, desta vez de avião, não queríamos passar pelo mesmo, nem tínhamos tempo para isso.

Demos uma volta conhecendo o lugar e o seu mercado, jantando e voltando para o merecido descanso.

Dia 16 _-_19/06/2011 Tour Pampas

Ás 6:00 já estávamos na agência para confirmar a saída ou não. A resposta foi afirmativa pelo que voltámos ao hostel para buscar as malas.

Saímos 16 turistas divididos por 2 jipes, sendo que o nosso era metade português e os restantes um casal de israelitas e 2 japoneses.

Parámos em Santa Rosa para almoçar ao ar livre num jardim com muitos animais, incluindo várias araras e um Pecari de Colar (espécie de javali), que dormiu debaixo da nossa mesa toda a refeição.

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Osga de estimação na casa de banho do hostal (esq.), Sapo (centro) e Pecarí de Colar – Pecari Tajacu (dir.)

Comprámos as entradas no parque e chegámos ao Rio Yacuma, à volta do qual se ia passar todo o tour. Tivemos de esperar que chegassem os nossos guias que, quando chegaram ainda discutiram sobre qual o grupo que cada um levaria.

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Santa Rosa: Nosso transporte (esq.), Canoa (centro) e Bolivianito (dir.)
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Santa Rosa: Ligeiro de Passageiros (esq.), Pescando Piranhas (centro esq.), Bolivianito (centro dir.), Bandeira boliviana - A bandeira atual foi adoptada em 1851:"la bandera nacional consta de tres fajas horizontales de igual anchura y dimensiones, colocadas en este orden: una roja en la parte superior, una color oro en el centro y una verde en la parte inferior". La franja de color rojo representa la sangre derramada por los héroes para el nacimiento y preservación de la república, la de color amarillo a las riquezas y recursos naturales y la de color verde a la riqueza de la naturaleza y la esperanza" (dir.)

Durante a espera já avistámos um crocodilo, garças e tartarugas pelo que o resto da viagem prometia.

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Tartarugas do Rio (podocnemis unifilis) com… Garça Branca – ardea alba (esq.) e Borboleta (dir.)

Partimos então para uma viagem de 3 horas no bote Tiger II até ao Lodge, que passou rapidíssimo entre as várias centenas de fotografias tiradas a tudo o que mexia. Foi impressionante a quantidade e diversidade de animais

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Rio Yacuma, Viagem de canoa até ao acampamento
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Jacaré (caiman yacare)
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Capivara (hydrochoerus hidrochaeris), maior roedor do mundo
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Corvo Marinho Castanho - anhinga anhinga (esq.), Tartaruga de Rio – podocnemis unifilis (centro) e Macaco Uivador – alouatta caraya (dir.)
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Garça Morena (ardea cocoi)
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Jabirú (jabiru mycteria)
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Garça Branca – ardea alba (esq.), Corvo Marinho – phalacrocorax brasilianus (centro) e Mocho (dir.)
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Macaco esquilo (sairimi boliviensis)

Chegados ao lodge fomos distribuídos por quartos, jantando de seguida e saindo de barco até um bar, com um caimão gigante de estimação, onde vimos o por do Sol e depois volta noturna para ver os olhos dos crocodilos. Curiosamente e sem querer pescámos vários peixes que assustados saltavam da água para o barco. Se de dia não haviam quase insectos, nem mosquitos, de noite era quase impossível andar de lanterna pois éramos completamente bombardeados por todo o tipo de bichos atraídos pela luz.

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Cardeal da Amazónia – paroaria gularis (esq.), Arara Azul e Amarela – ara ararauna (centro) e Aranha (dir.)
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Garça Castanha – tigrisoma lineatum (esq.), Águia (centro) e Caimão Negro – melanosuchus niger – chamado Pepe, animal de estimação do bar (dir.)
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Por do Sol (esq.), Macaco Uivador Vermelho – alouatta seniculus (centro), Aranha (dir.)

Dia 17 _-_20/06/2011 Tour Pampas

Tomámos o pequenos almoço bem cedo para sair em direção às pampas na tentativa de nos cruzarmos com uma Anaconda.

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Caimão Negro – melanosuchus niger (esq.) e Lua (dir.)
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Lodge (esq.) e Águia (dir.)
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Serere ou Hoatzin (opisthocomus hoatzin), julga-se ser o parente mais próximo do Archeopteryx, sendo que as crias nascem com garras nas asas para trepar os ramos das árvores

Calçámos umas galochas emprestadas pela agência para entrar no pântano mas, tinham tantos buracos que não foram de grande utilidade.

Ao principio parecíamos investigadores, todos alinhados para varrer a maior área possível e ter a “sorte” de ver ou calcar uma anaconda. Com lodo até quase aos joelhos não era nada fácil andar, não sabendo se teríamos muitas hipóteses se víssemos uma anaconda e esta nos atacasse.

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Garça Morena - ardea cocoi (esq.), Las Pampas, em busca da Anaconda perdida (centro) e Frade (dir.)

Depois de 3 horas e com as pernas já doridas, só o Pedro e um Luxemburguês tinham visto algo, que poderia ser uma pequena anaconda.

Voltámos ao lodge para almoçar e descansar um pouco nas redes antes de sair para a pesca de piranhas.

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Descansando na rede (esq.), Aranha (centro) e Falcão (dir.)

Parámos numa margem e o guia forneceu-nos carne como isco. Enquanto o nosso guia ia apanhando piranhas para o jantar, os 8 turistas davam de comer às mesmas ou apanhavam sardinhas (assim chamados todos os peixes que não são piranhas). No final 8 piranhas para o guia, 1 para a Mónica, 1 para o António e 2 para um dos Japoneses, sendo que 3 das dos turistas foram devolvidas por serem pequenas.

Antes de voltarmos o guia Bismar, arranjou o peixe sacando logo as entranhas e espetando-as num pau em L entre as guelras e a boca. A Mónica quis participar mas foi logo avisada de que mesmo sem entranhas ainda podem morder.

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Pescaria: Mónica com uma sardinha (esq.), Piranha – pygocentrus nattereri (centro esq.), António com o seu prémio (centro dir.) e Mónica com toda a pescaria (dir.)

Seguimos para outro bar onde se fez um joguinho de futebol com outro grupo de turistas e alguns locais, o qual ganhámos com golos do Bismar, Mónica e António. O Pedro também ganhou… uma grande bolha de jogar descalço.

Voltámos ao lodge para jantar, tendo oportunidade de provar as piranhas fritas com limão, que a Mónica ajudou a confeccionar.

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La Cancha (esq.), Piranha Frita para o jantar (centro) e Rã (dir.)

Dia 18 _-_21/06/2011 Tour Pampas

Acordámos para ir ver o nascer do Sol nas pampas…

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Nascer do Sol
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Nascer do Sol

Voltámos para o pequeno almoço saindo novamente para a última atividade: nadar com golfinhos rosa.

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Lodge

O guia parou o barco e disse que podiam entrar na água porque não havia crocodilos onde há golfinhos… “Então o que é aquilo?” questionou o Nuno que apontava para um grande crocodilo que estava na margem. O guia respondeu que podia haver na margem mas que não entrariam na água… dito isto o crocodilo entra na água… o guia voltou a desdramatizar a situação dizendo que estes não atacam quando há golfinhos por perto… ficámos logo mais descansados!!! Também nos disse não haver problemas pelas piranhas, a não ser que tivéssemos alguma ferida aberta… nisto o Pedro mostra-lhe a sua gigante bolha do pé rebentada ao que ele responde não haver problema.

Posto isto e com total confiança no guia… todos para a água, excepto o Nuno… primeiro os portugueses, depois os japoneses e depois os israelitas.

A água era tão castanha que nem se via 5 cm abaixo da superfície por isso surgia sempre a duvida quando se sentia algo a raspar nas pernas… ramo? golfinho? piranha? Crocodilo?

Enquanto havia muita gente na água os golfinhos não se aproximaram muito mas, quando ficou o Pedro sozinho começaram a jogar com ele chapinhando com as barbatanas e ele a retribuir os salpicos.

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Nadar com Golfinho Rosa do Rio – Bufeo – inia boliviensis
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Água (esq.), Garça Morena - ardea cocoi (centro) e Tartaruga de Rio – podocnemis unifilis (dir.)

Voltámos ao lodge para almoçar e regressar a Rurrenabaque, primeiro de barco e depois de carro.

Como tínhamos tempo, fome e o nosso hostel tinha onde cozinhar, fomos de compras para o jantar. Entre as coisas trouxemos massa que ao comer reparámos ter quase tantos gorgulhos como cotovelos… comemos tudo.

O António já nos tinha comentado algo sobre profissionais do prazer a laborarem no hostel mas durante o jantar também nos apercebemos do rodopio de homens que saía de vários quartos, dos quais saiam senhoras alguns minutos depois.

Dia 19 _-_22/06/2011 Rurrenabaque - La Paz

Bem cedo fomos à agencia da TAM deixar as mochilas. Além do voo ainda tivemos de pagar o transporte até ao aeroporto e uma taxa do mesmo. A carrinha deixou-nos mesmo na pista onde aguardámos que chegasse o avião Fokker F27 FAB-90 da TAM - Transportes Aéreos Militares Bolivianos.

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Gare do Aeroporto de Rurrenabaque (esq.) e Pista do Aeroporto de Rurrenabaque - Fokker F27 FAB-90 TAM (centro e dir.)

Seria apenas uma curta viagem de uma hora mas, entre o atraso do avião e o facto de ainda termos feito uma escala em Ixiamas, onde a pista estava cheia de gente a pé, de moto e a cavalo, só chegámos a La Paz cerca de 4 horas depois do check in. A Mónica estava totalmente KO de enjoada, tal que saíram todos do avião e esta continuou sentada no seu lugar até que a chamaram. Pelo lado positivo serviram-nos bolo de chocolate e amendoins.

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Pista do Aeroporto de Rurrenabaque - Fokker F27 FAB-90 TAM (esq. e centro) e A caminho de Ixiama (dir.)
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Aterragem em Ixiamas (esq.) A caminho de La Paz (centro) e Vista sobre El Alto (dir.)

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