sábado, 31 de março de 2012

América do Sul - Take 1/13 - Guiana Francesa - Parte V

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2012/03/28

Depois de 3 horas de taxi colectif chegámos a Saint Laurent du Maroni às 6:49 onde, à chegada ao rio Maroni, fomos abordados por muitos condutores de piroga desejosos para nos levar para o Suriname... “vamos fazê-lo amanhã, hoje não”.

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8:35 Rio Maroni

No nosso planeamento tínhamos apenas apenas a visita ao camp de la transportation, onde os prisioneiros aguardavam o seu processamento:transporte de volta a França (caso tivessem cumprido toda a pena e tivessem 2000 francos para pagar o regresso - mesmo tendo cumprido a pena, sem o dinheiro não poderiam sair do campo ficando portanto, em muitos dos casos, em prisão perpétua), ou transferência para outra instalação prisional como Cayenne ou Iles du Salut.

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9:33 Portas Camp de la Transportation (esq.) e 10:18 Área Les Renegades (dir.)

Como resultado do nosso fraco francês, junto com um guia que falava depressa, baixo e comia palavras e ainda com a reverberação de grandes salas vazias, entendemos e retivemos muito pouco do que foi explicado...

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10:37 Celas Comunitárias (esq.) 10:50 Solitária (centro)10:53 Solitárias (dir.)

Em todo o caso podemos dizer que no local os presos eram classificados de primeira a terceira categoria consoante o tempo de permanência no local. Do mesmo modo os trabalhos forçados eram tanto maiores quanto mais recente teria sido a entrada no campo. As condições de cativeiro seguiam a mesma proporcionalidade.

Vimos celas singulares, casas prisão, celas conjuntas, solitárias com mais ou menos isolamento com o exterior ou com mais ou menos aplicação de sistemas de impedimento de movimentos...

Curiosas eram duas alas: uma para Les Renegades (vagabundos que em princípio nunca iriam sair do campo) e outra para Les Libérés (os livres que só realmente sairiam do campo após o pagamento das suas despesas de transporte).

Numa das celas existe a inscrição do nome Papillon mas não se sabe se foi o próprio ou se outra pessoa que o fez, no entanto há registo deste ter passado pelo campo.

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11:18 2 Carrinha 2 Cavalos

Depois estivemos a tentar por este blog em dia enquanto esperávamos pelo nosso novo anfitrião Aurélien. Já em casa deste continuámos esta árdua tarefa.

2012/03/29

Acordámos cedo para aproveitar a boleia do nosso anfitrião para o porto onde tratámos dos carimbos do passaporte e seguimos para o Suriname... Take 2/13... deixando assim a Guiana Francesa, território Francês onde o desporto favorito parece ser o que nós chamamos “passear o pássaro”, isto porque durante todo o dia vemos pessoas em qualquer sítio, a pé, de carro, ou de bicicleta, literalmente a passear uma gaiola com um pequeno pássaro.

América do Sul - Take 1/13 - Guiana Francesa - Parte IV

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2012/03/23

Saímos de casa pelas 7h acompanhados do Adrian na sua bicicleta, seguindo viagem para o centro de Cayenne a ritmos muito diferentes sob chuva... o Nuno parecia uma tartaruga de carapaça amarela e a Mónica de carapaça negra, atendendo ás cores das protecções das mochilas que tínhamos tanto atrás como á frente... teríamos um registo fotográfico não fosse a chuva...

Passámos por casa dos nossos anteriores anfitriões pois tínhamo-nos esquecido lá de umas coisas.

No centro comprámos umas hamacas melhorzitas com padrão de tropa como a Alizée nos havia sugerido, não são as ideais para dormir mas são bem melhores do que as nossas e não ocupam muito espaço...

aproveitámos o pouco tempo que nos restava antes de apanhar o autocarro para comprar fruta no mercado, alguns ramboutan, bacoves e uma chadéque (espécie de Toranja).

9h00-10h00 bus CAYENNE-KOUROU

No centro de Kourou andámos um pouco ás voltas até encontrar um mapa e depois lá seguimos até a casa dos nossos seguintes anfitriões, parando perto da praia para almoçar e fazer tempo até eles chegarem a casa.

Fizemos companhia à Alana durante o seu almoço aproveitando para conhecer-nos, e ao Vincent que acordou depois da sua noite de trabalho no centro espacial devido ao lançamento de um foguetão Ariane 5 com um satélite, pelas 1h34.

14h30 saímos para ver de onde partiam os barcos em direção ás iles du Salut, cuja reserva o Vincent já nos tinha feito por telefone e depois passámos no super para comprar ingredientes para o jantar, que nos propusemos a fazer, e para as refeições dos próximos 3 dias na ilha Royale. Pelo meio gerámos confusão entre um grupo de pescadores que se desentenderam após termos perguntado se podíamos comprar-lhes peixe... enquanto um dos serventes, brasileiro, disse que sim enquanto se vangloriava por ser o único no local que nos percebia e que sabia o que queríamos, o seu chefe foi perentório em recusar e a não permitir que fosse consumada a venda.

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15:32 Garça Branca

20h00 como entrada provámos um fruto de palmeira cozido (parépou), com cheiro entre batata doce, castanha e inhame (não convenceu o nosso paladar). Jantámos arroz com estufado de legumes, por nós preparados e para sobremesa um delicioso leite creme... que até a Mónica comeu :)

2012/03/24

Saímos de casa pelas 7h30 com o Vincent que nos foi levar ao barco onde tínhamos de estar pelas 7h45 para efectuar o pagamento dos bilhetes supostamente reservados no nome da Mónica. Supostamente pois lá não havia qualquer registo. Por sorte chegámos cedo e pudemos comprar bilhetes na hora.

Já no barco o Nuno reconheceu uma língua... Português e de Portugal... somos poucos mas estamos em todo o lado. Só existem 2 Portugueses a trabalhar no centro espacial e um estava connosco no barco, por sinal um gajo do Norte carago... Em pouco tempo de conversa já nos estavam a oferecer guarita para quando regressássemos das ilhas.

Á chegada, todos se separaram e dirigiram-se a velocidades distintas para pontos distintos da ilha. Nós não sabíamos muito bem para onde ir por isso ficámos para último. O nosso objectivo era saber se e onde poderíamos acampar e aproveitar para saber onde e como seriam os refúgios onde poderíamos colocar a nossa hamaca e ficar sob um tecto por dez euros. Acabámos por andar e andar e dar uma volta á ilha com tudo às costas.

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10:21 Plantas das 3 ilhas (esq.), 15:45 Ile de Saint Joseph (centro) 15:57 Ile du diable (dir.)

Por sorte ou pura coincidência o primeiro edifício por onde passámos era uma museu com a história das ilhas e dos seus reclusos, entre os quais o famoso Papillon, de nome verdadeiro Henry Charriere. Pelo que apuramos junto do museu, a história contada por este e retratada em filme não é totalmente verídica ou pelo menos não se passou com Papillon mas sim com outros reclusos. No que respeita a Papillon depois de ter sido condenado por assassinato, passou cerca de 2 anos nas iles du Salut, tendo sido enviado depois para uma prisão em Cayenne de onde escapou. No total terá escapado 3 vezes, tendo sido capturado uma vez ainda na Guiana e outra na Colômbia, à terceira escapuliu-se para a Venezuela onde não existia acordo de extradição, conseguindo assim a sua liberdade... em jeito de conclusão ele não escapou das ilhas e pouco lá viveu, no entanto o que foi retratado (eventualmente com alguma dramatização) não deixou de ser verídico na pele de outros reclusos.

Conceituada foi a prisão do Comandante Alfred Dreyfus, supostamente condenado por traição à pátria... acabando por ser liberto e novamente condenado sem qualquer tipo de provas, sendo por fim sido reconhecida a sua inocência e tendo voltado a ocupar o seu cargo. No total passou mais de 14 anos preso na ile du Diable com 14 guardas, existindo no museu cópias dos seus cadernos com rascunhos de fórmulas matemáticas e do nome da sua amada... na altura em que estaria já algo demente.

Depois do museu seguimos em direção ao Hospital, já muito degradado, à capela, presbitério, casa do médico e guarda faroleiro, enfermaria, quartel e messe dos vigilantes... onde vimos inúmeros agoutis (dasyprocta agouti)... descemos pela zona do cemitério das crianças e acabámos perto do porto onde nos teriam indicado ser o lugar de campismo e onde aproveitámos para almoçar o resto do jantar do dia anterior e frutinha da zona... depois de sair o barco de regresso a Kourou verificámos junto dos guardas que afinal o parque de campismo era noutro lugar, junto da piscina (de rochas).

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2012-03-24 11:29 Hospital (esq.), 12:21 Capela (centro) e 2012-03-26 10:26 Celas (dir.)
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11:06 Lagartixa (esq.) e 11:24 Agouti - dasyprocta agouti (dir.)

No parque montámos a nossa tenda por um lado para guardar as coisas e outro porque não tínhamos corda suficiente para as hamacas, nem cobertura para estas no caso de chover... depois foi tempo de preparar uma fogueira para aquecer o jantar, salsichas com lentilhas, a qual deve ter demorado pelo menos 30 minutos dado que a lenha lá encontrada não estava bem seca e pois pensávamos que não tínhamos nenhum isqueiro connosco.
Fizemos fogo...

Cerca das 20h fomos dormir ao som dos zumbidos das cigarras...

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2012-03-24 14:17 Casca de Cigarra e 2012-03-25 10:16 Cigarra

2012/03/25

Levantámo-nos cerca das 7h para um pequeno passeio em torno da ilha, durante o qual vimos um enorme cruzeiro aproximar-se da ilha e vários macacos capuchinho castanho (cebus apella). Depois de largos minutos a observá-los e muitas fotos tiradas quisemos provar a especialidade local... apanhar um dos milhares de côcos do chão e sofrer até conseguir provar a água ou o próprio côco. Normalmente quem está habituado e tem as ferramentas para tal consegue fazê-lo com uma catana em aproximadamente 5 segundos mas nós, munidos apenas de uma pedra demorámos quase meia hora. Para juntar a isto não sabíamos se havíamos de abrir um côco verde ou um seco. Primeiro tentámos um verde: tinha muita água mas a parte branca parecia gelatina. Depois um seco: não tinha água mas parecia não estar em boas condições... ficámo-nos por aí.

Esta é a altura em que damos muito valor aos nossos amigos agoutis que, sendo pouco maiores que um porquinho da india, conseguem abrir um côco e comer o seu interior em poucos minutos.

Voltámos para o acampamento para montar as nossas hamacas aproveitando cordas já existentes nas árvores, que a juntar às nossas foram suficientes para nos sustentar no ar. Nestas passámos toda a tarde mas embora não nos tenhamos mexido muito, não nos faltaram distrações. No parque passeavam muitos agoutis  e galos, e as formigas carregando os restos das nossas refeições deram-nos entretenimento por largos minutos. Os macacos que anteriormente tínhamos visto no lado oposto da ilha também decidiram fazer-nos uma visita e ao fim da tarde apareceram dois barulhentos, e persistentes Sairimis (sairimis sciureus) que nos levaram pão e deram origem a nova e longa sessão fotográfica. Depois de termos almoçado pão com sardinhas em lata o jantar foi igualmente enlatados, desta vez salsichas com ratatuille, mas com a diferença que fizemos uma fogueira para aquecer a comida.

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2012-03-25 9:48 Macaco capuchinho castanho - cebus apella (esq.) e 2012-03-26 12:19 e 12:21 Sairimis - sairimis sciureus (centro e dir.)

Sairimi (sairimis sciureus) atacado por casal de kiskadees (pitangus sulphuratus) em defesa do seu ninho

Importa dizer que isto a que chamamos parque de campismo não é mais que um espaço com palmeiras onde podemos colocar as tendas e/ou as hamacas. Até tem 1 sanitário misto com lugar para 3 pessoas ao mesmo tempo, mas não era muito mais que o mesmo número de buracos no chão de aspecto duvidoso... nem sequer lavatórios... ou água.

A juntar a este facto não tínhamos qualquer garfo ou colher... pedaços de baguete e uma navalha foram os nossos talheres. As mãos e cara eram lavadas com água da garrafa.

Era nossa intenção dormir nas hamacas mas os Gendarmes (polícias) da ilha aconselharam-nos a não o fazer pois se previa muito vento, que normalmente gera queda de côcos ... ocasionalmente mortal. Inclusivamente ofereceram lugar para ficarmos mas acabámos por dormir na tenda.

2012/03/26

Acordámos por volta da mesma hora do dia anterior... os côcos não tinham feito baixas.

Demos novo passeio pela ilha, desta vez pela zona das celas e por outros locais esquecidos por nós até então.

Novamente no campismo almoçámos atum com pão e milho na companhia dos Sairimis que imploravam e quase nos atacavam para obterem um pedaço de pão. Uns minutos depois vimos semelhante ritual com outros grupos de visitantes na ilha.

Após arrumadas as coisas, dirigimo-nos para o porto a fim de regressar a Kourou mas não sem antes ter nova oportunidade para ver o grupo de Macacos Capuchinho e de uma nova tentativa de abrir um côco. Este custou bem mais que os outros... mas compensou: era enorme, estava cheio de água e a parte branca era consistente... sabia mesmo a côco ralado.

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2012-03-25 15:19 Campismo (esq.), 19:14 Jantar (centro) e 2012-03-26 16:04 Côco (dir.)

Quando voltámos ao barco reencontrámos os nossos compatriotas. Parece incrível como, por um lado o mundo é tão pequeno para encontrarmos um dos dois únicos Portugueses a trabalhar no centro espacial , por outro lado numa ilha com apenas menos de 1km comprimento máximo por menos de 0,5km de largura máxima, em 3 dias nunca nos cruzámos.

Note-se que apenas estivemos na Ile Royale (maior), sendo também possível visitar a Ile Saint Joseph (a troco de 5 euros, podendo apenas permanecer nesta um par de horas). A ilha mais pequena, Ile du Diable não pode ser visitada.

Já em Kourou ainda tivemos direito a boleia para casa, tendo ficado combinado um reencontro para jantar, adiado para o dia seguinte pois os nossos anfitriões já tinham planeado fazer-nos umas pizzas. De modo a aproveitarmos o aquecimento do forno acabámos por fazer pão de alho.

2012/03/27

Este dia estava destinado à visita  ao Centro Espacial mas que só teria início pelas 13:30.

Como era dia de mercado fomos ver que especialidades de frutas diferentes havia para provarmos. Desta vez comprámos algo a que chamam golden aple (spondias dulcis), pomme d'amour (syzygium samarangense), caimite e carambole. Os sabores de cada um não se parecem com nada que tivessemos provado. Apenas o caimite reuniu o consenso quanto aos nossos gostos.

Passámos ainda pelos correios e fizemos um pequeno passeio pela floresta (mas no centro da cidade), onde a Alana nos disse ser regular encontrar-se preguiças. Não as vimos mas foi engraçada a sensação de estar no centro de uma cidade mas em floresta cerrada. Ainda acabámos por ver um grupo de Tamarins de patas douradas (saguinus midas).

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18:51 Fruta: Caimite (esq.), Pomme D'Amour (centro), Golden Apple (dir.) e Carambole (frente)  - (esq.) 10:59 e Tamarim de patas douradas - saguinus midas (dir.)

A visita ao centro espacial não é nada de especial (embora sejam mais de 2 horas, grátis), assim como o museu (4€). Deu no entanto para perceber o porquê da Guiana Francesa ter sido escolhida para local de lançamento de foguetões europeus: Primeiro por ser o território europeu, mais próximo da linha do equador, local mais central para definição de qualquer trajectória e, não menos importante, dado o achatamento da terra a força necessária para colocar um objecto no espaço é muito menor e, consequentemente, menos gasto de combustível (aqui, para uma mesma carga, gasta-se metade do combustível que na plataforma de lançamento da Rússia). Depois as condições atmosféricas são geralmente favoráveis e a proximidade ao mar permite que sempre que possa haver um problema num lançamento os foguetões caem sempre no mar, não causando baixas humanas.

Também aprendemos como são feitos os foguetões, quais as diferenças entre os três tipos que cá se fabricam (Ariane 5, Soyouz e Vega), nomeadamente a capacidade de carga de cada um, ao nível de peso e número de satélites a colocar no espaço.

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12:21 Réplica à escala 1:1 de foguetão Ariane 5 (esq.) 12:51 Museu do Espaço (centro) e 15:53 Plataforma Lançamento Ariane 5 (dir.)

Á hora do jantar fomos convidados pelo Hélder e pela Sandra para irmos a um restaurante típico comer brochettes (pequenas espetadas). O serviço é deveras estranho: temos de ser nós a pegar no menu, caderno e caneta, escrever o que queremos, entregar no balcão... mas as espetadas são muito boas. Provámos 6 brochettes diferentes- boef (boi), poulet (frango), merou (garoupa), acoupa (peixe mais comido cá), crevettes (camarão), requin (tubarão).

Arrumar as coisas todas e acordar às 3 da manhã para ir para Saint Laurent du Maroni.

quinta-feira, 22 de março de 2012

América do Sul - Take 1/13 - Guiana Francesa - Parte III

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Este post resume a nossa curta passagem pela selva onde estivemos, 3 dos últimos 4 dias, a participar num estudo sobre o Cock of the Rock da Guiana Francesa (rupicola rupicola), ou Galo da Serra em Brasileiro.

Os machos apresentam cor laranja forte e as fêmeas castanho, sendo portanto fácil a sua distinção, enquanto adultos. Os machos costumam ter um local de pernoita e, durante o dia deslocam-se para o denominado Lek onde se pavoneiam, no chão ou, subindo nos ramos com a ausência de luz no solo, em frente aos seus semelhantes e fêmeas, a fim de conseguirem arranjar parceira. Por outro lado as fêmeas pernoitam nas grutas, nos ninhos, onde colocam os ovos e também passam no Lek para a escolha do parceiro que se efectiva com o arrancar de uma pena do eleito. Normalmente as ninhadas são anuais e de 2 crias, no entanto algumas fêmeas conseguem duas ninhadas. Comem frutos, pelo menos 60 diferentes, e vivem de 12 a 15 anos.

2012/03/19

Acordámos antes das 5 da manhã para nos levarem para a Reserva Kaw. Não tínhamos ideia do que íamos fazer ou de como poderíamos ajudar no estudo mas o importante é que estava combinado. Por sorte a responsável pelo estudo, Alizée, fala português, sendo portanto fácil a comunicação e daí que fizéssemos muitas perguntas e obtivéssemos as respostas.

A meio da viagem de 1h15 fomos buscar mais 1 participante, militar da força aérea francesa e amante de pássaros.

No local tentámos localizar o indivíduo que iríamos monitorizar nos dias seguintes e, tendo identificado que este se encontrava perto do ninho, deixámos a nossa guia e responsável pelo estudo, e fomos visitar um local mais turístico (pelo menos é do conhecimento público) onde normalmente se avistam alguns machos (Lek). Esta foi a única oportunidade de vermos os machos pois estivemos os restantes dias seguindo uma fêmea.
11:33 Cock of the Rock macho

A localização consiste na identificação do local onde um indivíduo previamente capturado e marcado com um transmissor (preso nas costas), através de uma antena que capta a frequência do emissor salientando-a com impulsos ritmados de maior ou menor intensidade consoante a distância do nosso local ao indivíduo. A direcção é determinada pela maior força do impulso rodando a antena 360 graus em torno de um ponto.

Neste dia não fizemos qualquer tipo de trabalho, apenas apreciámos a natureza. Por volta das 18h, um pouco antes do anoitecer os pássaros voltam para o seu ninho e o dia é dado como terminado. Resumindo são aproximadamente 12 horas atrás de um pássaro que tanto nos pode fazer estar sentados no mesmo sítio o tempo todo, como de repente nos faz correr alguns quilómetros no seu encalce. Na única correria a que a “nossa” fêmea, de nome Lola, nos obrigou tivemos a sorte de ver alguns macacos.

Devido às constantes, por sorte curtas, chuvadas, haviam diversas rãs no solo, por sinal muito peculiares por se assemelharem a folhas secas.

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11:37 Cock of the Rock fêmea (esq.) e 12:13 Rã (dir.)

2012/03/20

Foi basicamente um dia perdido... a ideia seria reservar um carro que iriamos alugar de 23 a dia 26 mas ou só estavam disponíveis os mais caros ou não os havia sequer... como resultado tivemos novamente de refazer planeamentos.

Nos nossos muitos quilómetros percorridos neste dia aproveitámos para comprar redes mosquiteiro para as nossas hamacas, almoçámos uma baguete com Steak Haché e queijo (sandes de hambúrguer picado, uma para os dois), procurámos o McDonalds para fazer comparação de preços e prova do cá muito anunciado McFlurry Bounty (nada de especial principalmente para os 3€ despendidos)

Aproveitámos o regresso a casa para fazer o pequeno percurso de Montabo, onde vimos um enorme ninho de formigas castanhas que tinham dizimado todas as folhas das árvores circundantes.

Ao jantar fizemos massa com atum e ananás e para sobremesa um leite creme com “Merci” escrito a canela como forma de agradecimento pela hospitalidade (dado ser a nossa última noite).

2012/03/21

À mesma hora de segunda, mas agora com todas as nossas coisas às costas saímos de casa no encontro da Alizée que nos vinha buscar novamente, agora para dois dias seguidos de estudo, com dormida na reserva.

Neste dia a fêmea decidiu não esticar muito as asas tendo-se mantido perto do ninho e passado lá algumas horas, pelo que permanecemos todo o dia nas redondezas da sua gruta.

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7:33 Formiga (esq.) 8:04 Milípede (dir.)

Aproveitámos parte do tempo para introduzir alguns dos muitos dados sobre anteriores pássaros monitorizados e descansar... a meio da tarde fomos visitados por um grupo de macacos Saguim de Mãos Douradas (Saguinus midas).

Enquanto a Mónica perseguia o grupo de macacos, quase atingida pelos restos de frutos atirados, apareceram perto da gruta dois furões (Galictis vittata), aparentemente muito difíceis de serem vistos por estas bandas, tendo desaparecido e voltado a aparecer no mesmo local mais duas vezes, já a Mónica havia regressado.

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13:53 Alta tecnologia na Selva (esq.), 14:03 Saguim de Mãos Douradas - Saguinus midas (centro) e 15:11 Furão - Galictis vittata (dir.). As últimas duas fotos só constam como registo do seu avistamento... a qualidade é muito fraca

18h07 a fêmea entrou no ninho para aí passar a noite, 15 minutos depois saímos em direcção ao abrigo do TRESOR disponibilizado para aí passarmos a noite.

Começámos logo por montar as hamacas o que gerou grandes risadas, principalmente pela parte da Alizée que referia nunca ter visto tais redes, principalmente para dormir. Ao que parece seriam redes de jardim, para crianças, tudo bem que sejamos pequenos mas dormir lá seria ainda assim muito desconfortável, se não impossível... sorte a nossa que o Thomas, que também iria passar a noite connosco, teve tempo de passar por casa de uns amigos para arranjar mais um par delas. Note-se que em Portugal poucas hamacas encontramos e seriam todas em rede e muito semelhantes às nossas, por isso,conselho para quem for para terras de hamacas... é comprarem-nas por lá e pedirem conselhos a locais. Também aprendemos a dormir nelas,não... não é só deitar, para dormir é suposto deitar atravessados (enviesados em relação ao eixo da rede) de forma a que o corpo fique na horizontal... e sim desta vez conseguimos dormir bem... pelo menos bastante melhor do que no México.

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06:29 Verdadeira Hamaca para dormir... onde dormimos (esq.) e rede de brincar... as nossas (dir.)

20h30 jantámos, á luz das velas, um Poulet Boucane com alface e picles

2012/03/22

Desta vez foi possível dormir até ás 5h30 uma vez que já estávamos mais perto da reserva, levantar... recolher hamacas... e sair...

Ás 7h iniciámos mais um dia de monitorização, logo em direcção á gruta uma vez que a Lola já se encontrava nas redondezas... embora com um comportamento muito distinto do dia anterior, sempre perto da gruta mas pouco tempo lá dentro... ainda colocámos em questão a possibilidade de estar relacionado com a proximidade dos furões no dia anterior, mas vamos aguardar pela próxima semana em que a Alizée vai averiguar os restos das ementas bem como o conteúdo no ninho...

Durante o dia fomos ainda agraciados com a passagem de uma grande vespa a transportar uma grande aranha, bem como com um caranguejo que andava a tirar as folhas que caiam nas suas redondezas.

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15:30 Onde está a Lola?? (esq.) 16:40 Caranguejo (dir.)

Pelas 19h fomos até a casa dos amigos da Alizé e Thomas agradecer as hamacas, onde mais uma vez foi a gargalhada total...

Cerca das 19h30 fomos deixados no SuperMontabo onde apareceu o nosso anfitrião Adrian dessa noite, para nos levar à sua casa que partilha com mais duas pessoas,onde simpaticamente nos ofereceu uma quiche para o jantar e conversámos um pouco sobre a nossa viagem, principalmente os objetivos no Equador onde já tinha estado... infelizmente o tempo para o conhecer foi pouco, mas ficou vontade de o voltar a encontrar.

quarta-feira, 21 de março de 2012

América do Sul - Take 1/13 - Guiana Francesa - Parte II

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Neste fim de semana estava previsto uma saída com os nossos hospedeiros, no entanto, por razões alheias a nós não foi possível. Tivemos portanto de redesenhar o nosso plano, não só para o fim de semana mas também para os dias seguintes.

Convém dizer também que é a época das chuvas e, embora tenhamos tido sorte nos primeiros dias o diluvio fez-se sentir nos dias 16 e 17. Várias foram as molhas apanhadas, mas a esta temperatura a roupa seca 10 minutos depois da chuva parar (até soube bem).

2012/03/17

Sábado é dia de mercado em Cayenne e lá fomos para pelo menos provar dos diferentes frutos e legumes locais ou de lugares próximos (alguns já aparecem nos nossos supermercados mas a preços proibitivos). Como resultado da nossa ida ao mercado obtivemos a compra de banana (se as da Madeira e Açores, sim porque também as há lá e bem boas, são pequenas, estas tem 1/3 do tamanho), banana bacove (tamanho normal mas formato não tão cilindrico de sabor mais ácido), maracudja (maracujá enorme de casca verde), granadilha (maracujá enorme de casca laranja), ramboutan (com interior semelhante a lichias) + abricot pays (não se assemelha a nada que haja em Portugal mas já tínhamos provado no Peru algo muito semelhante ao que chamavam Mamei: sabe a uma mistura de manga com banana).

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13:22 Especiarias no mercado (esq.), 13:27 Chuvada (centro) e 15:44 Resultado da ida ao mercado ...conseguem identificar??? (dir.)

Depois do mercado passámos pelo mesmo restaurante que tinhamos comido na Quinta-feira, e desta vez provámos Poulet Boucane avec Cra-manioc Frite (frango fumado acompanhado com uma mistura de legumes e mandioca frita, como batata frita), muito bom!!! Mais uma vez uma dose foi mais que suficiente para os dois.

Ao fim da tarde fomos fazer uma pequena caminhada pela praia e mangais: Sentier des Salines com aproximadamente 2,5km

Depois de dois dias com a cozinha a nosso cargo, à hora do jantar, e aproveitando a ida ao mercado, provámos algumas iguarias locais, nomeadamente Pimentade (basicamente uma caldeirada de peixe com muito limão) acompanhada de arroz e couac (farinha de mandioca local) e para sobremesa doce de Cupuaçu (fruto da familia do cacau)... estava tudo delicioso.

2012/03/18

Acordámos bem cedo para fazer uma caminhada debaixo de sol intenso e temperaturas elevadas (teria sabido bem uma chuvada).

É impressionante a quantidade e variedade de artropodes (insectos, aranhas e afins) no local assim como o facto de em 5 minutos podemos passar de praia de areia para selva ou para zona de mangal.

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10:12 Libélula (esq.), 10:17 Rã (centro) e 15:47 Libélula (dir.)

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11:33 Praia (esq.), 11:37 Caravela Portuguesa (centro) e 11:39 Caranguejo (dir.)

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16:03 Mangais

Pelo jantar mais uma vez os nossos anfitriões apresentaram-nos uma comida mais light á base de salada de diversos legumes e para compensar comemos como sobremesa um bolo de giromon (espécie de abóbora), cenoura e amêndoa.

PS: Não sabemos se é costume cá mas, desde o primeiro dia, só ontem, e porque estivemos na selva das 5:00 às 19:30, não encontrámos dinheiro no chão. Hoje compensou o dia em branco, tendo sido recolhidas 3 moedas. São das pretas mas ao fim de seis meses dará uns almoços: Ganho total até hoje (dia 20 de Março) 27 cêntimos em 8 moedas.