sexta-feira, 10 de junho de 2011

Bolívia – Parque Nacional Torotoro

O Parque Nacional Torotoro pertence ao departamento de Potosí, nosso destino seguinte, mas o único acesso existente é por Cochabamba, por uma estrada de 135 km em más condições. É um local com paisagens muito bonitas, percursos, grutas e muitos vestígios de dinossauros, como tal o ideal seria passar vários dias, no entanto, com 3 semanas de viagem por toda a Bolívia só tínhamos um dia, servindo de aperitivo para um futuro regresso.

Dia 7 _-_10/06/2011 _-_ Cochabamba - Parque Nacional Torotoro

Ao contrário da viagem até Santa Cruz onde tínhamos coisas marcadas e nos atrasámos provocando o adiamento de um tour, para Cochabamba o autocarro adiantou-se e chegámos pelas 5:10, de noite além de ser fora do terminal, até onde tivemos de caminhar.

Esperámos pela 6 para que o posto de informação abrisse mas aqui apenas nos deram o contacto telefónico de uma empresa que fazia viagem ao Parque Torotoro. Ligámos mas os autocarros só saem dia sim dia não voltando no dia seguinte e… era dia não. Tentámos ligar a uma agência turística mas não atenderam nem abriram o seu guiché. Voltámos ao posto de informação onde nos disseram que alguns taxistas também lá iam. Chamou um que disse o seu preço inegociável, não nos agradou muito, mas como era a única hipótese de ir ao parque aceitámos.

Entrámos no carro e a primeira coisa que o taxista nos disse foi que precisava de mudar os pneus pois o caminho era um pouco mau, fez um telefonema e iniciou um desvio por ruas e ruelas inclinadas de um morro, num agrupamento de casas semelhante a uma favela. Estávamos um pouco preocupados pelo que nos pudesse acontecer até que vimos uma senhora à espera à porta de casa com um pneu debaixo de cada braço. O taxista saiu pegou nos pneus cheios de terra e atirou-os para a bagageira por cima das nossas mochilas. Logo depois arrancou dizendo à mulher “te llamo” (ligo-te), todos ficámos surpresos por tal declaração de amor pois tínhamos entendido “te amo”… depois de fazer-mos um thriller já estávamos numa comédia romântica… logo depois percebemos o nosso erro e desatamos a rir.

Só havia agora que ir ao mecânico para trocar as rodas… saindo do carro para este fazer o seu trabalho entendemos porque queria o taxista mudar de pneu… dois deles tinham grandes bolhas além de todos estarem praticamente carecas. Trocou-se os pneus traseiros, remetendo-os para a mala como suplentes, caso fossem ainda necessários, e manteve-se os dianteiros mesmo com algumas bolhinhas.

Novo arranque e nova paragem pedindo-nos algum dinheiro adiantado, agora para por gás e gasolina. Só esperávamos não ter de usar o segundo combustível atendendo à experiência da nossa última viagem de carro em Samaipata.

Seguimos finalmente em direção a Torotoro, mas o tramo não foi muito longo, o taxista parou de repente e saiu para olhar para os pneus, dizendo o mesmo de sempre “no pasa nada… ahorita vamos”, sacou da chave inglesa e apertou as porcas todas.

Três horas mais à frente a estrada estava cortada com pedras pois estavam a abrir uma vala para passagem de tubos. Não se via alternativa senão esperar mas um senhor nos indicou para descer pelo talude, passando pelos jardins das casas por terra solta contornando os trabalhos até chegar à estrada, um degrau acima do terreno. Saímos do carro armando uma rampa de pedras à segunda e com um pouco de lanço o carro subiu.

Ainda não nos tínhamos acomodado ao assento do carro e ouvimos um estouro… pneu frontal esquerdo furado. Saímos todos e tal qual equipa de formula 1, tirámos o pneu da frente, trocámos pelo traseiro do mesmo lado e colocámos um dos suplentes cheios de bolhas atrás.

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Lição de Mecânica nº 1: Como recolocar o carro na estrada empedrada após desvio forçado? Sair do carro para pesar menos, fazer uma rampa com pedras e... "No passa nada", "Ahorita vamos Alla". (esq.)
Lição de Mecânica nº 2: 5 minutos depois da lição anterior, como cambiar llantas após furo no frontal esquerdo? ... "No passa nada", vai-se à bagageira buscar os pneus inicialmente trocados por estarem em mau estado, coloca-se um pneu traseiro (em melhor estado) à frente, reutiliza-se um pneu anteriormente dado como inutilizável e...  "Ahorita vamos Alla"

Faltavam apenas 15km mas quase todos em subida forte, na qual foi necessário parar uma vez mais para colocar água no depósito e por cima do motor para arrefecer o carro.

Depois de quase 5 horas para fazer 135km, chegámos à praça de Torotoro, onde se pode ver a estátua de um tiranossauro Rex. Encontrámos guia e pagámos a entrada no parque. Começaram a explicar-nos o muito que havia para fazer mas o facto de termos apenas 5 horas até regressar a Cochabamba, reduzia-nos muito a escolha: uma caminhada a um miradouro ou ida a uma gruta. Ficámo-nos pelo tour da gruta Umajallanta com duração de 4 horas.

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Parque Nacional Torotoro

Para chegar à gruta havia que ir de carro mas já não havia nenhum na vila. Disseram que nos podiam emprestar um autocarro mas ninguém tinha carta de pesados, por isso fomos procurar o nosso taxista que tinha ido em busca de um mecânico para preparar o regresso. Lá subimos por quelhos até que encontrámos a oficina onde estava o taxista, ele mesmo a arranjar o carro pois o mecânico não estava.

Fomos de táxi até ao início do percurso caminhado 1km até à casa de apoio da gruta onde alugámos apenas capacetes pois tínhamos as nossas lanternas. Pelo caminho muitas pegadas de dinossauro. 200 metros mais à frente está a entrada da gruta onde um vizcacha nos observava.

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Pegadas de dinossauro

Logo depois de entrarmos o Pedro constatou que a sua lanterna não funcionava, mas como já não tínhamos muito tempo avançámos, ficando este no meio dos restantes.

Várias estalagmites e estalactites formam esculturas cuja imaginação fértil pode fazer parecer muitas outras coisas. Passámos por escorregas naturais, saltos, pequenos troços de escalada, rastejar, travessias por corda e por fim um concerto de queña tocada pelo nosso guia no silêncio absoluto de uma grande galeria.

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Gruta Umajallanta: Estalactites e estalagmites (esq.), Rastejando (centro) e Lagoa (dir.)
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Gruta Umajallanta: Rios (esq.) e Estalagmites (dir.)
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Entrada/Saída da Gruta Umajallanta: Vista de Dentro (esq.) e de Fora (dir.)

Regressámos em passo de corrida para deixar o guia no centro e seguir para Cochabamba a fim de tentar apanhar o último autocarro até Potosí, que saía pelas 21:00.

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Parque Nacional Torotoro… de regresso a Cochabamba
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Parque Nacional Torotoro… de regresso a Cochabamba
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… de regresso a Cochabamba, panorama interior (esq.) e exterior do veiculo (dir.)

O taxista conduzia concentradíssimo para que chegássemos a horas e  assim foi, nove da noite e estávamos no Terminal correndo em busca de transporte.

Quase todas as agências estavam a fechar ou apenas tinham vagas para outros destinos, exceptuando uma que dizia ainda ter viagem mas teríamos de ser rápidos. O António e o Nuno foram pela taxa do terminal enquanto os restantes trataram dos bilhetes. Saímos guiados por um dos trabalhadores até à zona de embarque onde o nosso autocarro… já não estava. Havia então que apanhar um táxi para alcançá-lo, sabendo que ia fazer uma paragem noutro terminal não muito longe. Não nos gostou da ideia principalmente pelo facto de termos de pagar o mesmo, sem saber quanto pois não se sabia onde nos cruzaríamos com o autocarro. Ou seria isso ou passar a noite por ali por isso arriscámos.

O Sr. da agência foi connosco até fora do terminal, chamou um táxi e deu-lhe as indicações. Começámos a colocar as malas na bagageira quando, por cima das nossas aparece outra mala colocada por um senhor da agencia, era de outro passageiro para o mesmo autocarro. O Nuno retirou-a e disse que a mala não era nossa e que o táxi já tinha 4 pessoas por isso já estaria cheio. Entretanto chegou o dono da mesma que a voltou a por no carro, sendo logo retirada pelo Pedro, novamente colocada e novamente retirada fechando a bagageira. Com o tempo a passar entrámos no táxi e fomos em busca do autocarro que alcançámos antes da sua primeira paragem. Já habituados a este tipo de situação o taxista fez sinal e o motorista parou. Entrámos encontrando os nossos lugares vagos na última fila, sentando-nos 2 a 2 e deixando o lugar central desocupado.

Na paragem seguinte entrou o senhor que queria ir no táxi connosco. Ao vê-lo pensámos que iria ocupar o lugar vago entre nós e resmungar pelo anteriormente sucedido… por sorte havia outro banco livre onde se sentou nem nos vendo.

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