Chegou a vez de visitar a grande cidade (mais de 100000 habitantes) mais alta do mundo (3900 metros de altitude), Potosí, que devido à exploração mineira de ouro e prata terá sido uma das cidades mais ricas do mundo. De facto, encontra-se no sopé do Cerro Rico, lugar da maior mina de prata do mundo entre os séculos XVI e XVII.
Dia 8 _-_11/06/2011 – Minas e Casa da Moeda
Chegámos pelas 7:00 ao novo terrapuerto de Potosí, procurando logo horários e preços de autocarros para o nosso próximo destino, Salar de Uyuni. Não tivemos grande sucesso pois como se trata de um destino na mesma região, havia que procurar no terminal antigo.
Seguimos de táxi para o terminal antigo onde esclarecemos as nossas dúvidas, deixando as mochilas num café para poder visitar o centro mais leves. Seguimos então de combi por ser mais barato, poupando assim para poder gastar num bom pequeno almoço no centro: Pão, Manteiga, Compotas, Chá de Coca, Sumo de Laranja, ovos mexidos, café e tostas… tudo por um euro por pessoa.
De barriga cheia começámos a procurar agencias para fazer o tour das minas. Para isso dividimo-nos pelas agencias. A Mónica encontrou a mais barata e com saída pelas 10:00 mas o trato de quem a recebeu fez-nos escolher pela agencia onde foi o Pedro cuja visita já tinha saído mas comprometiam-se a que lá chegássemos, levando-nos até à nossa guia Helen que nos aguardava.
A Helen levou-nos a umas bancas onde se vendem produtos aos mineiros e agora também aos turistas, que são aconselhados a comprar algo para dar aos mineiros. Entre o que podíamos comprar havia comida, refrigerantes, mas também álcool etílico 97º, rastilhos e dinamite. Não costumamos dar coisas só porque nos dizem mas, uma vez que íamos visitar o local onde pessoas trabalham arduamente para ganhar algum, num local muito atroz, o melhor que podíamos fazer seria levar alguma comida e algo para beberem, já que estaríamos olhar para eles sem fazer nenhum.
Fomos vestir as roupas e equipamentos apropriados (camisa e calças impermeáveis, capacete e lanternas) e seguimos numa combi até à povoação de mineiros existente em torno das entradas da mina.
Comprando refrigerantes, folhas de coca e… “uma barra de dinamite e se faz favor um rastilho” (esq.) e A caminho da mina (dir.)
Cerro Rico (esq.) e Depósito de materiais (dir.)
Tratava-se de um dia especial e como tal as senhoras construíam fornos para assar batatas, preparando-se também o sacrifício de lamas, derramando o seu sangue nas minas pedindo sorte e prosperidade. Na entrada das minas havia dezenas de lamas esperando o seu destino final.
Preparando um forno (esq.) e Lamas no corredor da morte (centro e dir.)
Começámos o percurso com o piso bastante molhado e irregular com várias linhas de caminho de ferro que conduziam os vagões por toda a mina. No tecto vários tubos conduziam ar para os trabalhadores.
Fomos parando para ver os diferentes tipos de trabalhos, lugares, condições atmosféricas. Á medida que avançávamos o calor aumentava, o ar tornava-se mais pesado e a respiração difícil (não fosse suficiente estarmos a mais de 4000 metros de altitude).
Mina: Túnel encerrado (esq.), Veio de prata no tecto (centro) e Vagão (dir.)
Mina (esq.) e Estalactite verde (dir.)
Parámos na estátua de El Tio, deus e guardião da mina, a quem se oferece álcool e folhas de coca.
Não vimos muitos mineiros uma vez que, dada a existência da festa, estavam todos a terminar o seu turno de 24 horas para poder assistir à mesma. Normalmente os turnos diários são de 12horas durante as quais quase não comem nem bebem, apenas mascando coca para enganar a fome, sede e facilitar a respiração.
El Tio e Guia Helen (esq.) e Mineiros (dir.)
As condições são tão extremas que a esperança média de vida é inferior aos 40 anos, sendo que os locais de trabalho são escolhidos pelos trabalhadores com direito de escolha de acordo com a antiguidade, assim sendo, nos locais mais remotos terminam trabalhando crianças.
Terminada a visita, e como éramos os primeiros a sair, o Nuno, a Mónica e a câmara foram abençoados com um líquido, identificado posteriormente no exterior, como sangue… a matança de lamas tinha começado, havia gente por todo o lado rodeando as lamas, havia lamas degoladas, esventradas e estripadas pelo chão e outras ainda vivas ao seu lado mas bastante calmas, que viemos a descobrir estarem totalmente bêbedas desde o dia anterior.
Sacrifício de Lamas à saída da mina
Lama (esq.) e Sacrifício (dir.)
Outro dos rituais consistia no pintar as caras com o sangue e tomar um gole de álcool etílico puro.
Pinturas com sangue de Lama (esq.) e Cholitas (centro e dir.)
De volta à combi passámos pelos fornos onde as batatas já estavam prontas… deram-nos a provar.
Em busca das batatas assadas (esq.) e Os 4 estarolas… quer dizer falsos mineiros (dir.)
Aberto o apetite voltámos ao restaurante onde tomámos o pequeno almoço para pedir quatro pratos distintos de lama, que dividimos por todos. Aproveitámos para conhecer um pouco da cidade.
Iglesia de La Merced (esq.), Catedral (centro) e Portas da Cidade (dir.)
Voltámos também à agência para reservar o tour do Salar de Uyuni, onde ficou a Mónica a tratar de tudo enquanto os meninos seguiram para a Casa da Moeda cuja visita tínhamos agendado antes. Aqui visitámos várias salas de numismática, da história e da fabricação de moedas e também uma grande sala de mineralogia. A Mónica só chegou a tempo desta última e só a deixaram entrar pela sua insistência, tendo aceite só ver uma pequena parte do lugar.
Cerro Rico visto da Plaza de Armas (esq.) e Casa da Moeda (dir.)
O Pedro e o António foram jantar pedindo também comida para os restantes para a viagem noturna, que ia ser feita numa luxuosa… carripana. Entrámos no autocarro ocupando os últimos bancos e esperámos a saída, assistindo a várias atuações musicais de uma meninas… o António acompanhava com palmas o “Si, Si, Si… yo soy de Potosi” até que nos pediram gorjeta… saídas as meninas o António continuou o concerto sozinho.
Transporte Super Lujo… ou não.
A viagem foi feita de noite mas não se conseguiu dormir muito entre o frio, a nuvem de poeira no interior e os saltos da estrada. Não fossem razões suficientes, já quando tínhamos conseguido fechar os olhos fomos todos acordados por um estrondo e um grito de uma mulher… com tanto solavanco uma caixa com uma aparelhagem de 10kg (assim indicava a caixa), tinha caído do guarda malas do tecto do autocarro, diretamente na cabeça da senhora mesmo à frente do Pedro. Esta virando-se para trás e vendo o Pedro com um sorriso na cara, julgou-o culpado pelo que lhe tinha passado, considerando-o dono do objecto voador e fez aquele olhar fulminante como se o quisesse matar.
Seguiu a viagem e chegámos a Uyuni pela 1 da manhã, onde nos esperava um dos momentos mais altos da viagem.
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