Momento história...
O Parque Arqueológico de San Agustin localiza-se no departamento de Huila, a cerca de 520km de Bogotá. Os vestígios estendem-se por uma área superior a 50km2, nas proximidades do desfiladeiro formado pelo rio Magdalena, salientando-se os sítios:
2012-05-25 9:37 Mapa San Agustin
- San Agustin ou Mesitas (sede do Parque)
- El Alto de los Ídolos (embora pertença ao mesmo parque encontra-se no município de Isnos);
- El Alto de las Piedras (embora pertença ao mesmo parque encontra-se no município de Isnos);
- La pelota;
- El Purutal;
- La Chaquira;
- El Tablón.
Este parque é um dos mais importantes da Colômbia, destacado pelas suas imponentes estátuas talhadas em pedra, tendo sido declarado Património da Humanidade, pela UNESCO, em 1995.
O nome Mesitas é dado devido aos montículos artificiais que cobrem as tumbas, constituídas por lajes de pedra verticais (paredes) e horizontais (teto), com aparência semelhante a mesas.
Nesta área, durante o período formativo (1000AC - 1DC) os agricultores da região viviam nas proximidades de cursos de água, fabricavam utensílios de cerâmica e enterravam os seus mortos em tumbas escavadas perto das suas vivendas.
Já no período Clássico Regional (1-900DC) produziam cerâmicas mais complexas e estátuas monumentais. A população aumentava visivelmente formando-se grandes comunidades rurais centradas em redor de centros religiosos. Nestes centros construíam grandes montículos de terra que cobriam as tumbas das entidades mais importantes.
Entre 900DC e 1550DC, Período Recente, a cerâmica muda de estilo, deixam de ser realizadas as estátuas monumentais e os enterros passam a ser feitos de baixo das suas casas. Embora a população crescesse e a agricultura intensificado, alguns povoados foram abandonados por razões desconhecidas.
No século XVI, com a chegada dos conquistadores deram-se muitas guerras e consequentemente a redução drástica da população, muitos morreram, muitos outros foram depois exportados e outros fugiram para outras regiões.
2012/05/23
Depois de muitas trocas de transporte e muitas horas de viagem chegámos a San Agustin. Nem tínhamos saído da carrinha e já estavam várias pessoas a oferecer tours e hostel. Como precisávamos fomos com um e, uma vez que os preços batiam certo com as nossas referências reservámos um tour de jipe para o dia seguinte, aceitámos a sugestão do hostel e ainda tivemos direito a um mapa com identificação dos sítios arqueológicos e pontos de passagem do tour. Foi-nos ainda oferecido um tour a cavalo para visitar um conjunto de sítios arqueológicos mais próximos do centro mas, como temos tempo, preferimos fazer o mesmo por nós próprios e a pé. No Hostel Maya, onde por todo o lado há placas de madeira com as capitais de todo o mundo (a nossa também lá está), ficámos no quarto Genebra e com acesso a cozinha (café e limonada à descrição), terraço com vista sobre toda a cidade com hamacas, uma casa de banho engraçada, Wifi e donos simpáticos.
2012-05-25 Hostel Maya: 08:43 Casa de banho (esq.) e 08:46 Sala Jantar/Estar (dir.)
Fomos comprar algo e fizemos atum com salada russa para jantar e almoço do dia seguinte e pão de alho. Como sobremesa um fruto que andamos para provar desde a Guiana Francesa mas, que finalmente conseguimos a um preço mais em conta (ainda assim quase 4€ o quilo). Chama-se pitaya e é o fruto de um cacto... parece uma flor por fora, por dentro um kiwi branco todo homogeneizado e o sabor é algo entre o melão e a pera. (note-se que o nome e a descrição é a mesma de outro fruto referido em post anterior mas este é significativamente maior).
2012/05/24
Às 9:00 começou o tour, tendo como participantes nós, duas canadianas e uma bósnia.
O primeiro ponto de passagem é El Estrecho, e como o próprio nome indica, corresponde a um estreito no rio Magdalena, onde este passa de um leito significativamente largo para apenas dois metros, gerando-se uma forte corrente. A profundidade chega aos vinte metros e, segundo o nosso guia, é um local preferencial para suicídios. Nas escorregadias margens, onde uma das canadianas teve o infortúnio de cair, existem alguns fosseis de conchas.
09:39 El Estrecho (esq.), 09:43 Fóssil de Concha (centro), e 10:58 Vale do Rio Magdalena (dir.)
Seguimos para Obando, onde visitámos umas tumbas similares a poços, através dos quais se acedia a uma galeria, com profundidades e volumes variáveis, os restos humanos (facto pelo qual eram designados de enterros secundários) eram colocados em grandes vasos cerâmicos e em redor colocavam os seus pertences que iam desde louça a joias. Infelizmente pouco foi encontrado e pouco se sabe sobre estas culturas, pois a maioria dos seus espaços fúnebres foram saqueados e não foram encontrados quaisquer testemunhos escritos. Foi possível descer a uma das tumbas e visitar um pequeno museu com os artefactos encontrados nesta e nas restantes.
Tumbas em Obando: 10:10 (esq.), 10:14 (centro) e 10:20 (dir.)
A paisagem é dominada pelo verde das montanhas das Cordilheiras Central e Oriental, com grandes extensões de terreno pertencentes a fincas (quintas), e portanto ocupadas, pelo menos nesta altura do ano, com a cultura de café, lulo, cana de açúcar, tomate, pimento, feijão e banana.
2012-05-25 15:01 Plantação de Pimentos (esq.) e 2012-05-25 09:42 Café (dir.)
Embora não estivesse inicialmente previsto o guia tinha levou-nos a ver uma unidade de produção de panela, proveniente da cana de açúcar, que se encontrava junto à estrada, no meio de uma plantação de cana.
O processo é bastante artesanal e pesado para os trabalhadores, começando pela única tarefa mecânica de espremer a cana para extração do líquido, que posteriormente é fervido, passando por vários caldeirões onde sucessivamente mexido, até que atinge uma consistência tal que é vertido em moldes de aproximadamente 20x15x10cm3 para arrefecimento e formação de “tijolos” de panela. Uma pequena parte da produção é separada para um alguidar para, depois de muito tempo a mexer, dar origem a açúcar.
Daqui seguimos para o Alto de Los Idolos, segundo maior sítio arqueológico de San Agustin, onde comprámos o bilhete combo, que nos permite aceder ainda ao Alto de las Piedras e San Agustín.
Mal chegámos, o dono do restaurante em frente veio trazer-nos o menu para escolhermos um prato que as cozinheiras tratariam de confeccionar o mesmo enquanto visitávamos o local. Os preços da carta eram 3 vezes o que nos tinham referido mas como já estamos habituados a estas coisas já tínhamos trazido almoço. As meninas que nos acompanhavam preparadas para uma refeição económica acabaram por escolher a sua refeição da lista. Enquanto subíamos a colina perguntámos-lhes se estas tinham questionado se no restaurante tinha menus do dia (comida corriente), geralmente muito mais baratos, com tudo incluído e em quantidade bastante generosa, ao que a resposta foi não... depois viemos a saber que sempre existiam os menus e ao preço que nos tinham indicado inicialmente mas, por isso mesmo, os turistas não são informados acabando por pagar bastante mais.
Neste sítio foram encontradas várias tumbas (conjunto de lajes de pedra verticais e horizontais, formando uma espécie de túnel, como um dólmen ou anta) com paredes decoradas, embora já não seja visível na sua maioria, sarcófagos monolíticos no seu interior e estátuas de pedra à entrada e na sua envolvente. A posição do corpo varia de tumba para tumba: de pé, deitado, em posição fetal... em alguns casos, existiam enterros coletivos.
12:07 Grande Monolito (esq.) e 12:12 Exemplo de tumba com sarcófago de pedra, anta e guardião (dir.)
12:17 Tumbas de cancela - paredes e tecto de pedra (esq.), 12:26 Exemplo de tumba com sarcófago de pedra de tampa trabalhada, anta e guardiões (centro) e 12:43 Panorâmica sobre toda a zona arqueológica (dir.)
Seguimos para Alto de las Piedras, perto do espaço anterior e com elementos semelhantes destacando-se o montículo I cuja estatueta principal é a de um ser humano com dentes de animal, coberto por outro ser com atributos humanos e animais.
14:04 Monolíto principal (esq.), 14:07 Tumba (centro) e 14:14 A”A Grávida” (dir.)
14:09 Guardião (esq.) e 14:12 Pinturas e Gravuras (dir.)
Vistos os dois principais sítios arqueológicos do dia, seguimos para visitar duas cascatas: primeiro Salto Los Bordones, com aproximadamente 400 metros de altura, que na apresentação do tour nos tinha sido descrita como a terceira maior cascata da América do Sul. Duvidamos muito pois na Venezuela passámos por duas maiores (mais altas) e sabemos que no Perú há pelo menos uma. Em todo o caso há muitas formas de classificar cascatas (altura contando apenas o principal desnível, altura contando o somatório dos vários saltos, largura, volume de água...) mas, mesmo assim, não conseguimos identificar em qual delas pode ser a terceira maior. Depois o Salto Mortino com 127 metros cujo mirador fica num terreno particular o que implica o pagamento da entrada.
14:44 Salto Los Bordones (esq.), 14:50 Plantações de café (centro esq.), 14:53 Panorâmica das Cordilheiras Central e Ocidental (centro dir.) e 15:57 Salto Mortinho (dir.)
Ao fim de aproximadamente 8 horas estávamos de volta a San Agustin onde voltámos às compras e fizemos jantar para o dia seguinte. Provámos novo fruto: Curuba, uma espécie de maracujá. Já tínhamos reparado anteriormente que em pequenas vilas não só os preços dos legumes eram mais baratos (como é expectável pelo facto de serem produtos de produções próprias) mas também o preço de água engarrafada, chocolates, bastante mais baixos que em enormes hipermercados nas cidades. Aproveitando a deixa, outra curiosidade prende-se com o facto de que as promoções (quando os produtos estão em pacotes familiares ou de maior volumes) supostamente mais baratas por kg ou ml não o serem cá, isto é, raramente compensa comprar quando se refere a oferta de uma percentagem do peso e compensa quase sempre comprar pacotes pequenos que perfazem em conjunto o peso de um grande... só não compensa no que respeita ao meio ambiente!
2012-05-24 16:37 Mercado (esq.), 2012-05-25 08:39 Curuba (centro) e 2012-05-24 16:53 Catedral de San Agustin (dir.)
Assim sendo, o jantar foi frango estufado com arroz de cenoura e como sobremesa fizemos leite creme, oferecendo ao donos do hostel um pouquito de tudo, tendo estes retribuído com arepas. Ainda tivemos manga também como sobremesa.
2012/05/25
Acordámos cedo pois prevíamos ter de andar muito, estando previsto fazer a pé todo o percurso do suposto tour a cavalo, com duração estimada de 5 horas, fora a visita ao parque arqueológico no fim.
Munidos apenas do mapa que nos tinha sido oferecido na agência de tours saímos em direção ao parque arqueológico, a 3km do centro da cidade.
09:37 Mapa do parque arqueológico
Depois de registar seguimos até à mesita A onde encontrámos vários montículos artificiais de terra que cobrem as tumbas construídas sobre os sarcófagos protegidas por estátuas de pedra, consistindo num enterro primário.
Mesita A, estátuas e tumbas: 10:07 (esq.) 10:16 (centro esq.) 10:33 (centro dir.) 10:35 (dir.)
Passamos para a mesita C composta por um só montículo que alberga cerca de 15 estátuas e 49 tumbas.
A caminho da “Fuente Lavapatas” encontramos uma estátua de uma rã com traços humanos cuja cabeça aponta para a fonte. Este espaço de uso cerimonial é composto por vários canais, tanques e esculturas de figuras humanas répteis e anfíbios esculpidos cuidadosamente numa enorme rocha de granito.
10:39 Estátua de Rã (esq.) e Fuente Lavapatas: 10:42 (centro) e 10:47 (dir.)
Nesta zona começávamos a ser assediados por inúmeros miúdos da escola de Pitalito a saber de onde éramos, os jogadores de futebol, como falar português, como conseguíamos viajar tanto tempo....
Depois da fonte subimos o Alto de Lavapatas onde foi encontrado um fogão datado de 3300AC, sendo considerada a evidencia humana mais antiga da zona. Na envolvente foram ainda encontradas inúmeras tumbas que pelas oferendas e tamanho se admite ter-se tratado de um cemitério infantil. Aqui encontra-se uma escultura denominada Doble yo interpretada como sendo a representação de um guerreiro com traços animais e humanos.
11:12 Monolito igual ao visto no Alto de Las Piedras
Aqui o número de miúdos á nossa volta crescia, bem como as perguntas e solicitações de fotos... ainda pedimos gelados em troca mas nem isso os desmotivou...
Aproveitando a altura em que estavam a ter uma lição sobre a zona descemos em direção à Mesita B, com ocupação habitacional no período formativo e onde foram construídos 3 montículos acompanhados de 63 estátuas no período clássico Regional. Uma das maiores estátuas foi denominada “la partera” por representar uma entidade de chapéu trapezoidal, sustentando um bebé de cabeça para baixo e outra figura humana também nessa posição.
Mesita B: 11:41 Monolito (esq.), 11:43 Tuba com 3 guardiões (esq.) e 11:49 Panorâmica (dir.)
Mesita B: 11:56 Pormenor do guardião da esquerda da tumba de acima apresentada... já jogavam baseball?? (esq.), 11:56 Águia com cobra na boca (centro esq.) 11:59 La Partera (centro dir.) e 12:01 Regresso à entrada (dir.)
Depois de visitado o pequeno museu do complexo fomos até ao bosque das estátuas onde se podem encontrar 39 estátuas dispostas ao longo de um pequeno percurso.
Monolitos Bosque de Las Esculpturas: 12:54 (esq.), 12:55 (centro esq.), 13:00 (centro dir.) e 13:11 (dir)
Antes de seguir para outros complexos arqueológicos parámos na zona de pic-nic para almoçar, onde se anunciava free Wi-Fi que afinal não funcionava porque, de acordo com o que nos foi transmitido, o município tinha deixado de a pagar.
Novamente de mapa na mão seguimos em direção a El Purutal e La Pelota, sendo que as indicações in situ não eram grande coisa obrigando-nos a questionar os habitantes locais que íamos encontrando. Por fim lá chegamos aos pequenos complexos arqueológicos, o La Pelota com 3 estátuas de pedra e El Purutal com duas tumbas e quatro estátuas.
15:18 La Pelota (esq.), El perutal: 15:30 (centro) e 15:31 (dir.)
Para chegarmos mais rápido a Chaquira, próximo destino, o Nuno decidiu atalhar por um “pequeno” trilho que julgava constar do nosso mapa, mas a verdade é que ao fim de 1 hora não tínhamos chegado a lado nenhum conhecido como seria suposto...aqui apercebemo-nos que o nosso mapa era tão bom que haviam troços do percurso com 1km e outros com 5km que no mapa apresentavam a mesma dimensão sendo portanto impossível identificar cruzamentos ou calcular durações de caminhada... voltámos para trás e seguimos pelo caminho anterior, passando pelas entradas para os dois complexos em falta, no entanto, dado o avançado da hora, deixámos a visita para o dia seguinte e seguimos de volta para o hostel.
Fomos fazer mais umas compritas para o jantar, desta vez uma espécie de tortilha com legumes.
2012/05/26
Levantámo-nos cedo para preparar as malas e subir em direção ás zonas arqueológicas em falta. Pelo caminho avistámos uma carrinha de publicidade com um senhor apoitado na parte de trás pelo que, quase impulsivamente, a Mónica levantou o dedo em pedido de boleia. Ao contrário das expectativas a carrinha parou uns metros à frente e saltámos para a parte de trás.
Seguimos por um trilho em direção a La Chaquira, que termina numa escadaria sobre um agrupamento de rochas algumas delas trabalhadas. Mais que as pedras talhadas a visita vale pelas paisagens.
Depois fomos a El Tablón onde se encontram mais algumas estátuas.
La Chaquira: 09:05 (esq.) e 09:08 (centro) e 09:58 El Tablón (dir.)
Visitados todos os complexos arqueológicos previstos fomos buscar as malas ao hostel, tentar estabelecer contacto com a família e seguir para Tierradentro.
5 comentários:
Olá construtores! :D Adorei este post com estas esculturas todas...
Bem, aquela boleia ainda foi mais radical que as dos Açores! hahaha Mt bom! :D
Beijo/Abc
Rui
É curioso ver que muitas das estatuas sao parecidas a algumas esculturas Maias! Aquela da rā é idêntica a uma que vi em Chiapas ;)
Que bom que está a correr tudo bem!
Saludos
É verdade Rui, algumas vezes tirámos o rabo da carrinha e quando este lá voltou foi bastante doloroso... mas o que interessa é que poupámos tempo :)
Estamos a finalizar o post seguinte, de uma visita a outro parque arqueológico, de outra cultura, que, no nosso entender, foi ainda mais interessante... em vez de estátuas visitámos muuuiiintas tumbas.
Abraços, e beijos da Mónica.
Daniel, é muito interessante ver em todas as culturas algumas ligações a outras por nós já visitadas... parece ter havido algum intercâmbio de conhecimento entre todas mas não se consegue explicar muito bem como.
Sim corre tudo muito bem...
Abraço
PS: Andaste desaparecido? Já sentíamos falta dos comentários do nosso comentador de serviço residente :)
É verdade...existem ligações impressionantes!
Ando bastante ocupado com o trabalho...mas não esquecido!
Que fiquem bem..
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