2012/06/02
Aproveitámos o sábado para descansar, atualizar o blog e dedicar à leitura e fazer algumas compras. No supermercado acordámos aderir ao vegetarianismo por uma semana e, como despedida, fomos almoçar ao KFC. Para jantar e almoço do dia seguinte fizemos legumes estufados com quinoa, que comprámos a granel como muitas outras coisas que aqui se pode comprar.
2012/06/03
Domingo, fomos conhecer o mercado em Tumbaco com os nossos anfitriões, Cecília, Francesco e Rumi... onde mais uma vez a Mónica encontrou Rambutan, que cá se chama de achotillo. Ao fim do dia conhecemos os nossos companheiros de trabalho franceses, Maxime e Sophie, com quem nos demos logo muito bem, começando instantaneamente a dividir tarefas para os dias seguintes, ficando o jantar do primeiro dia a nosso cargo. O menu foram legumes estufados (não os mesmos do dia anterior) com arroz e batata assada. Sobremesa queijo de cabra e pão caseiro (feito pelo Francesco).
2012/06/04
Iniciamos o primeiro dia de trabalho com um pequeno almoço forte, seguindo a sugestão dos franceses: flocos de aveia com leite e banana. A menos da fruta este passou a ser o nosso pequeno (grande) almoço.
O nosso horário de trabalho seria das 9:00 às 12:00 e das 12:30 às 15:00. Os franceses saíam pelas 8:30 nas suas bicicletas, nas quais tentam atravessar toda a América do Sul e nós à boleia do Francesco um pouco mais tarde. O local tem uma vista fantástica para as montanhas circundantes, nomeadamente o vulcão Rucu Pichincha com 4696 metros, mesmo junto a Quito, cuja subida planeámos fazer no fim de semana seguinte.
Chegámos à obra, tivemos uns dez minutos para conhecer os cantos à casa e começámos logo a fazer cob (6 un areia / 4 un terra / 1 un pedra pomes / palha e muita água). Os franceses que já estavam na sua terceira semana foram os nossos professores e interlocutores com os obreiros, com quem não tínhamos até então muita confiança.
Por sorte neste primeiro dias estavam a decorrer muitos diferentes trabalhos tendo nós tido oportunidade de fazer ou pelo menos aprender como se faz muitas coisas e como está a ser construída a casa.
Resumindo fizemos cob, transportámos cob a balde, colocámos cob nas paredes, começámos a fazer uma “armadura” em guadua (bambu) de uma cinta do primeiro piso para posteriormente ser betonada, vimos como fazer cofragem com guadua e começámos a colocar algumas cofragens.
15:18 Parede de cob terminada, pronta a receber a viga de cintagem (esq.) e 15:19 Guadua para fazer a armadura da viga (centro) e Armadura executada (dir.)
11:26 Vista para o vulcão Rucu Pichincha (esq.), 15:20 Paredes de cob e cofragens em guadua (centro) e 15:22 Estado da obra no final do primeiro dia de trabalho (dir.)
Não estávamos nada habituados a isto, ainda por cima a 3000 metros de altitude... chegámos a casa todos rotos. Note-se que o dia de trabalho acaba com uma caminhada de quase uma hora, aproximadamente 5km, até casa.
O jantar estava a cargo dos franceses que iam fazer lentilhas, no entanto, aproveitando a noite de lua cheia os nossos anfitriões tinham-nos convidado a participar num Temaskal: cerimónia indígena comum na América central e sul, repetida nas noites de lua nova e cheia, com o objectivo de purificação interior.
Antes de sair não tivemos grande tempo e apenas nos tinham avisado que íamos ter muito, muito calor e que devíamos levar roupa de banho.
Chegados à casa onde se iria realizar a cerimónia, ficámos com a ideia de que iriam ser mais europeus que locais... e algumas pessoas pareciam já profissionais no assunto.
No jardim estava uma tenda em forma de iglo com cerca de 9m2 onde iria decorrer a cerimónia e onde teriam de caber as 25 pessoas que lá estavam para assistir e participar, assim como todos os outros utensílios necessários: dois cornos de veado, uma fogueira com muitas pedras, umas plantas e uma tijela com tabaco que todos inalavam... a tenda representa o útero da Mãe Terra, onde nos juntamos todos como irmãos no seu interior.
Começa com a entrada das mulheres que ficam num lado e posteriormente os homens. À porta somos “benzidos” com o fumo de uns incensos e faz-se como se estivéssemos a apanhar o mesmo espalhando pela nossa cabeça e coração.
No interior começa tudo bem, em escuridão total (que continua até ao fim... daí não termos qualquer foto) com o mestre explicando um pouco o que se irá passar, agradecendo a presença de todos. Depois foi a nossa vez de nos apresentarmos e fazermos o mesmo... quase todos agradecem à pachamama (mãe terra).
Sempre que se passa algo ou alguém diz algo todos respondem “arrô” (talvez o mesmo que amén mas que por acaso tem o mesmo som que alho - ajo - em espanhol) ou algumas senhoras “arrá”.
A cerimónia consta de 4 rondas (vueltas), uma para cada um dos elementos, em cada qual são introduzidas 7 pedras em brasa (agualitas), às vezes incandescentes, cada uma com um nome específico e simbolizando um sentimento/valor representando os 28 dias lunares, nas quais são colocados diferentes incensos naturais (medicinas) à sua entrada, espalhando-se assim o seu odor. As pedras são introduzidas e depois colocadas num oco no centro da tenda com a ajuda dos dois cornos de veado.
Aqui começa a fase difícil... a porta é fechada e começa-se a sentir o calor das pedras. E fazem-se alguns cânticos enquanto se verte água sobre as pedras... o resultado é um bafo de vapor de quase insuportável que parece queimar-nos a pele ou os pulmões quando tentamos respirar... basicamente uma sauna. Depois de uma volta abre-se a porta, “descansa-se” um pouco, entra o tabaco, novas 7 pedras ... e por aí fora. Resta dizer que as pedras das voltas anteriores não chegam a arrefecer muito por isso o calor de cada volta é cada vez maior.
Resultado os corpos de todos pingavam constantemente, havia gente quase a desfalecer. Daqui vem o nome temaskal que significa casa de suar.
No fim, a melhor parte: primeiro porque é um alívio sair do forno; depois porque há comida... tudo natural, orgânico e muito saboroso: bananas, maçãs, peras, laranjas, papaia, cereja chinesa (um fruto novo), uns biscoitos, milho e espécie de tremoços.
Voltámos a casa onde, depois de comermos tudo aquilo, ainda jantámos lentilhas e ovos cozidos.
2012/06/05
Depois de um bom pequeno almoço voltamos ao trabalho em tudo semelhante ao dia anterior... excepto a chuva torrencial, juntamente com forte trovoada que nos acompanhou durante toda a hora de caminho a pé até casa.
O jantar, que estava novamente por nossa conta, foi massa com o resto das lentilhas e nova mescla de legumes, feito com a ajuda do pequeno Rumi.
2012/06/06
Mais do mesmo, com a novidade de aprendermos como se prepara a guadua para colocar na cofragem, amassarmos betão e betonarmos as vigas. Começámos a ganhar a confiança dos restantes trabalhadores que constantemente nos passavam a fazer perguntas e já nos pediam que fizéssemos algumas coisas. Nós também já nos começávamos a habituar ao trabalho forçado e cada vez conseguíamos transportar mais peso de cada vez... um balde cheio de água passou a parecer-nos algo bastante leve depois de pegarmos em centenas de cob e de betão.
Os trolhas: 10:46 Shô Nuno após betonagem da viga (esq.) 10:47 Shô David... 4 anos mais novo que nós (centro esq.) e 10:51 (centro dir.) e 13:58 (dir.) Shôra Mónica nos seguríssimos andaimes e a amassar cob.
O jantar foi puré de batata, cenoura e sambo (uma espécie de abóbora) e uma tarte de brócolos. Como sobremesa empanadas de queijo e iogurte natural.
2012/06/07
Como quase todos os dias os trabalhadores nos ofereciam sumo para beber decidimos fazer uns brigadeiros de côco para o dia seguinte. O nosso jantar foi “bacalhau” com natas mas... com corgete e cenoura em vez de bacalhau. Tudo isto feito mais uma vez com a ajuda do Rumi. Quando fomos levar este a casa com um brigadeiro para cada um da família o Francesco alertou-nos para o facto de 27% dos ovos no Equador terem salmonelas e como tal deveríamos arranjar forma de cozinhar os doces... solução: colocámos uns minutos no forno.
2012/06/08
Sendo o dia de despedida da Sophie e Maxime da obra, almoçámos juntamente com os restantes trabalhadores, oferecendo-lhes a sobremesa e os franceses as bebidas.
Neste dia finalmente nos lembrámos de fazer uma estimativa do peso amassado, carregado e elevado nos baldes: Considerando que cada balde leva 10kg de cob (talvez uma estimativa por baixo pois é muito mais pesado que quando está cheio com 7 litros de água), ao terem passado pelas nossas mãos mais de 300 (321 pelas nossas contas), temos mais de 3 toneladas... num só dia.
O fim do dia de trabalho foi um alívio para os nossos braços e costas...
Em jeito de despedida os franceses fizeram crepes salgados e doces como jantar que se realizou na casa da Cecília e Francesco. Infelizmente alguém tinha comprado fiambre e na nossa penúltima refeição antes de terminar a nossa semana de vegetarianismo acabámos por comer carne... Note-se que em 5 dias nós os quatro tínhamos ingerido 2,5kg de aveia, quase só nos pequenos almoços.
11:02 Mistura de agregados para cob (esq.) e Colunas de madeira para paredes com sistema construtivo tipo bareke 12:58 Almoço com os restantes trabalhadores e despedida da obra por parte dos franceses (centro dir.) e 13:06 Estado final da obra, uma semana de trabalho depois (dir.).
2 comentários:
Ola amigos!!
Aqui no Mexico também temos temazcal...e não há duvida que o que custa são as duas primeiras etapas...ao inicio só da vontade de desistir....mas no final o óptimo é quando te refrescas com um banho de agua!
Depois a ver se explicam melhor em que consiste esse programa aonde estão? Em que consiste?
Saludos de México :)
Olá moço,
Sim, o sair de dentro de um forno é sempre bom...
O programa consiste em apenas ajudar os nossos anfitriões a contruir a sua casa, fazendo o que for necessário: nos primeiros tempos fizemos de trolhas mas na última semana tivemos a sorte de estar a contruir um painel solar para aquecimento de água.
Podes ter acesso a projectos deste tipo por todo o mundo procurando na net pelos sites de woofing ou helpx (helpexchange).
Abraço e beijo
Ps: Estamos na sala de embarque para as galapagos...
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