2012/04/19
Ás 6:30, depois de uma noite de chuva e trovoada intensa que levou ao apagão de toda a cidade, como combinado, estávamos já na companhia da Roisin e da Buffy mas, depois disto pouco correu como planeado:
- as informações que tínhamos, vindas dos responsáveis de cada uma das pousadas não batiam certo; Enquanto um referia ser melhor ir de bus para Maturin e depois Caripe o outro referia Cumaná e depois logo se vê... tendo estes dados e analisando o mapa a primeira opção, proveniente da nossa pousada, parecia ser a melhor;
- o responsável pela pousada delas tinha ficado de arranjar um táxi para os 4, tendo-o apenas feito à última hora e, depois de esperarmos alguns minutos, chegou um carro minúsculo onde não cabíamos juntamente com as mochilas. Tivemos de nos separar pois o táxi tinha sido chamado e teria de fazer o serviço. Para tentar remediar, o mesmo mandou parar outro e disse para entrarmos... já conhecendo como funcionam as coisas, perguntámos o preço antes de entrar: 40BFs... mais 10 do que seria de esperar... recusámos e andámos à chuva uns 300 metros até à praça de táxis onde arranjámos a 25Bfs. No terminal, dado os conhecimentos reduzidos de espanhol das nossas companheiras, verificámos que estas tinham acabado por pagar os 40 sem ter hipóteses de negociar... em vez de 30/4 gastou-se 40/2 + 25/2...
- no terminal, ainda sem luz, verificámos não haver qualquer autocarro para Maturín, trajecto apenas vencido por porpuesto (táxis partilhados)... o custo era quase o dobro do previsto (em vez dos 70Bfs pediam-nos 130) , com a agravante de ser feriado nacional... aplicando-se portanto taxas mais elevadas. Ainda fizemos as contas a tentar ir por Cumaná mas como previsto não compensava, ou ainda de porpuesto até San Felix de onde saem autocarros até Maturin, mas já não conseguiríamos a ligação no mesmo dia. Ainda conseguimos uma redução mínima do preço (125Bfs)... isto de termos 3 mulheres num grupo de 4, duas delas loiras, até dá jeito. Conseguimos ainda sair do terminal sem pagar a taxa de utilização do mesmo...
Fazendo bem as contas, estamos a falar de um valor baixo (ou não como vimos depois pelo preço da gasolina cá) para uma viagem em carro mais ou menos privado numa distancia de quase 400 quilómetros.
- em Maturin apanhámos quase instantaneamente um bus a Caripe mas mais uma vez o preço foi mais elevado que o previsto... também demorou uma eternidade a fazer-se 120km mas as paisagens eram muito bonitas...
Quase em Caripe parámos num posto de abastecimento onde não queríamos acreditar no que víamos: o carro à nossa frente tinha enchido o depósito com 57 litros de gasolina e o preço a pagar era a módica quantia de 4Bfs (1€->5,6Bfs no mercado oficial ou 1€->11Bfs no mercado paralelo... façam as contas ao litro...) ... achamos que podemos afirmar que as viagens são caríssimas.
Já não era muito cedo e o corpo precisava de sustento por isso fomos ao mercado comprar legumes e fruta e a uma padaria comprar uns deliciosos pães e queijo, finalmente algo a preços inferiores aos de Portugal.
A sorte foi momentânea pois enquanto comíamos tivemos a companhia de 3 bêbados locais que nos tentavam impingir um número de telefone e um lugar para dormirmos. Os nossos “no hablar”, as respostas nulas, o desprezo total, o facto de termos um bastão e navalhas nas mãos não foi suficiente para desmobiliza-los. Pelo meio recusámos uns preços bastante económicos de táxi para a gruta e acabámos por pagar bem mais quando decidimos ir.
Ainda obtivemos a informação (errada) de que não haveriam autocarros para Cumaná, cidade que, agora sim, teríamos de passar para ir a Mochima, apenas poderíamos ir de porpuesto cuja quantia seria de 125Bfs por pessoa.
Chegados à gruta, já não havia tempo para a visita completa, pelo que decidimos buscar o melhor sítio para acampar e montar as hamacas. Dado o baixo preço do parque, uma vez que ainda queríamos visitar a gruta e que provavelmente teríamos de sair muito cedo para Cumaná, decidimos passar duas noites... na primeira dormimos nas nossas hamacas e emprestamos a nossa tenda dado que as nossas companheiras não dispunham de qualquer um dos meios... na segunda invertemos os papéis... ou seja, mesmo sem casa acabámos por receber 2 couchsurfers.
Um dos momentos mais esperados do dia é aquele em que saem todos os guácharos da gruta para passar a noite em busca de alimento. Para tal basta ir para a abertura ao pôr do sol e esperar... assim o fizemos. Foi algo totalmente diferente do que já tínhamos experienciado, primeiro começamos a ouvir ao longe uns grunhidos que, com a aproximação destes, vão-se tornando cada vez mais altos quanto mais escuro fica. Depois começam-se também a ouvir os estalidos da ecolocalização que utilizam para se guiarem no escuro, à semelhança dos morcegos. Por fim, quando este barulho era quase ensurdecedor, até assustador para quem não soubesse do que se tratava, começaram a sair os pássaros.
Existem guácharos em aproximadamente 260 grutas espalhadas pela Venezuela e Brasil, sendo que esta comunidade com 7 a 10 mil pássaros é a maior. Também existem morcegos na gruta mas a razão é de 1 morcego para 100 guácharos. Estes têm a dimensão e algumas parecenças com os falcões, no entanto apenas comem frutos. Dada a dimensão das sementes estas normalmente são regurgitadas em vez de completarem todo o ciclo digestivo. Curiosas são duas protuberâncias, uma de cada lado do bico, que se assemelham a bigodes, que são utilizadas como receptores dos sinais enviados.
Esta também é a maior gruta da Venezuela com 10,2km estando abertos ao público 1200metros.
Jantámos do que tínhamos comprado, jogámos monopólio e fomos dormir pois pretendíamos acordar cedo, por volta das 4:00, para ver o regresso dos pássaros à gruta.
2012/04/20
A chuva pregou-nos dupla partida: primeiro pois não nos apeteceu sair do conforto das hamacas para nos molharmos em frente à gruta; depois, dada a sua intensidade durante toda a noite, entupiu literalmente a gruta, por pelo menos dois dias, impedindo a visita de turistas após os 500 metros.
14:10 Acampamento (esq.) e 14:44 Aranha (dir.)
Ainda com alguma esperança que a água baixasse para a tarde, de manhã fomos comprar mais algumas comidas e confirmar a existência de autocarros para Cumaná, os respectivos preços e horários. Finalmente boas notícias, não relativamente á gruta mas sim ao transporte... não só teríamos autocarro no dia seguinte (um grande jipe) como este nos viria buscar à entrada da cova, logo após o regresso dos guácharos e ainda a um preço muito apetecível (70Bfs por pessoa)... perfeito.
Depois de almoçarmos decidimos ver os 500 metros permitidos de gruta, pagando o preço de Venzuelano (20Bfs), no entanto tivemos azar pois o nosso grupo era enorme e quase impossível ouvir o guia. Em todo o caso parecia apenas que este estava a dar nomes a todas as estalactites e estalagmites mesmo que não se parecessem com nada. Quase todo o percurso foi feito com os pés dentro de água, ou melhor, guano de pássaro. Sob um ruído infernal dos pássaros visitámos algumas galerias com mais de 30 metros de altura e pudemos observar grandes formações calcárias...Quanto a animais vimos um pequeno roedor e outro talvez do tamanho de um pequeno coelho mas não conseguimos identificar no meio da escuridão...deve ter ficado muito por ver nos restantes 700 metros.
2012-04-21 05:29 Maquete na entrada na gruta (esq.), 2012-04-20 16:06 Entrada da gruta (centro) e 16:04 Início da gruta (dir.)
14:40 Vista para o exterior (esq.) e 15:42 Interior da gruta (dir.)
Saindo da gruta fizemos uma curta caminhada (1,2km que nos pareceu bastante mais) que saía do nosso acampamento até uma cascata de dimensão considerável, denominada Salto La Paila.
16:48 Cascata no caminho (esq.), 17:58 Salto la Paila (centro) e 18:40 Borboleta (dir.)
Seguimos para a entrada da gruta para esperar nova busca de comida dos guácharos, agora com comportamento totalmente diferente do dia anterior (talvez pela ausência de trovoada), saindo muito mais cedo e sem o assustador crescendo de ruído até o primeiro corajoso se aventurar.
Jantámos e fomos dormir com novo intuito de acordar às 3:30, arrumando as coisas para ver a entrada dos guácharos...
2012/04/21
Sem despertador não acordámos à hora prevista e como tal só tivemos a oportunidade de ouvir os pássaros passar pelo nosso acampamento antes de voltarem à gruta.
Coisa inédita na América do Sul, o carro veio-nos buscar quase uma hora antes do previsto... por sorte estávamos prontos.
P.S. estamos com algumas dificuldades em carregar as pilhas do GPS motivo pelo qual não temos os links dos trilhos efetuados, nem neste, nem no post anterior... estamos a tentar solucionar o problema, que provavelmente passará por comprar outro carregador cá por estas bandas.
2 comentários:
Ola pessoal!!
Por aquí no mexico também existem varias grutas aonde saem imensos pássaros pelas manhas.
A mais imponente e o "sotano de las golondrinas".
Não sabia que tinham GPS. A ver se me enviam alguma foto do modelo. É portátil?
Abraços!!
Olá,
Mais vale procurares pelo modelo na internet Garmin Dakota 10... é portátil e, quando as pilhas são boas e estão bem carregadas, tem uma autonomia bastante boa.
Abraços
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