Este post marca a nossa entrada na Ruta 7, chamada Carretera Austral, estrada de 1195km que liga a cidade de Puerto Montt até à Villa O`Higgins. Pensada como forma de desenvolver e conectar todos os povos até Sul esta estrada tornou-se um dos maiores pontos turísticos do Chile pela beleza do entorno ao seu traçado, percorrida principalmente por pessoas em mota, bicicleta, à boleia ou mesmo a pé.
Em viajem anterior a Puerto Montt, em Março de 2013 chegámos a fazer os primeiros 60km, voltando agora à mesma e entrando directamente no km 281, evitando alguns ferrys morosos e caros. A nossa ideia seria chegar ao final da mesma cruzando directamente à Argentina ou devido ao preço elevado do transbordo final e ao facto de se fazer uma grande travessia a pé (com tudo às costas), chegar apenas até Caleta Tortel, no km 1077.
28/11/2013 Futaleufu – Queulat
Saímos de Futaleufu e justamente antes de chegarmos ao local onde decidimos pedir boleia já tínhamos uma carrinha parada à nossa espera. Levou-nos até Puerto Ramirez . Aqui já tivemos que esperar mais um pouco, dando pelo meio para tomar o pequeno almoço, até que parou uma carrinha que nos proporcionou a boleia mais impessoal até aqui, as duas senhoras falaram somente entre si dos amigos, dos companheiros de trabalho e do que fizeram no último mês e a única pergunta que nos fizeram foi se podiam fumar… nem a habitual de onde são, em todo o caso ficámos mais que agradecidos por nos levarem até Santa Lucia, o nosso primeiro ponto da Ruta 7 denominada Carretera Austral .
Aqui sim tivemos dificuldades: parámos num ponto e víamos sair muitos carros um pouco mais à frente; aí fomos mas começaram a sair carro ainda mais a frente; aí fomos mas todos faziam parte das empresas que estão a cargo da pavimentação da estrada, agora de pedra, e só nos fariam alguns km deixando-nos a meio da obra. Depois de algumas horas os trabalhadores aconselharam-nos a avançar mais um pouco até a um local onde se param momentaneamente os carros pois só se pode circular alternadamente em cada um dos sentidos. Resultou, ao fim de 15 minutos uma carrinha de turistas franceses, já sobrelotada, nos deixou subir com tudo à caixa (o que não é permitido) e levou-nos pelos 68km de pedra e de sofrimento para as nossas nádegas, até La Junta.
Já tínhamos avançado bem mais de 120 num dia mas a ideia era chegar ao Parque Nacional Queulat 47km a Sul.
Numa gasolineira íamos perguntando se alguém ia para Sul sem grande sucesso. Em todo o caso um senhor informou que nos podia levar no dia seguinte pelas 8:30 indicando-nos onde poderíamos acampar pela noite. Já era alguma segurança mas decidimos, como antes, definir uma hora limite de espera… depois de algum frio, veio vento e muito mais frio e justamente em cima da hora um senhor, sem pedirmos, perguntou se íamos para Sul… melhor não podia ser. Já lhe tínhamos pedido boleia em Santa Lucia mas andava em manutenção de maquinas e só tinha conseguido sair do trabalho ao fim do dia. Conversámos bastante, ofereceu-nos bolachas e levou-nos ao interior do parque, garantindo que tínhamos onde acampar, fazendo para isso um desvio, mesmo sabendo que tinha mais 3 a 4 horas de viagem até casa.
Foi montar a tenda comer algo e dormir.
29/11/2013 Ventisqueiro Colgante
O dia começou cedo, pelas 8 já caminhávamos com a ideia de fazer todos os percursos deste sector do parque pois sabíamos serem todos curtos.
Logo nos primeiros metros de caminho havia indicação de um trilho que não tínhamos conhecimento... fizemos logo o desvio. Foi curto o passeio pois ao fim de 500 metros este estava vedado indicando manutenção do troço restante (que chegaria ao vale do rio Ventisquero). Em todo o caso o “nosso” final correspondia a um miradouro do qual pudemos ver pela primeira vez o Glaciar Ventisqueiro Colgante.
De volta ao caminho original seguimos para mais 4 percursos:
O primeiro, mais longo, com destino a um miradouro mesmo à frente do glaciar, onde de vez em quando soava o gelo a quebrar-se como se fossem trovões. No miradouro comemos e ficámos mais de uma hora observando muitos pássaros que passavam bem perto de nós.
Pássaros: 13:25 Chucao (esq.), 13:26 Hued Hued (centro esq.), 13:49 (centro dir.) e 19:57 (dir.)
O segundo à laguna Témpanos originada pelas águas do glaciar
O terceiro, interpretativo com vários placards informativos sobre a zona, chamado circuito do aluvião.
E o quarto até novo miradouro para o glaciar.
Ventisquero Colgante: 10:32 Vista do primeiro miradouro (esq.), 12:58 Vista do Miradouro do segundo percurso (centro) e 15:22 Vista Laguna Témpanos (dir.)
Em qualquer destes havia sempre que penetrar em bosques muito bonitos onde presenciava a Nalca, planta comestível que conhecemos em Chiloé mas que não tínhamos tido oportunidade de comer.
Nalca: 09:53 Planta (esq.) e 11:23 Pormenor da folha (dir.)
Terminamos os percursos cedo, de tal modo que perguntámos se seria possível acampar noutro sector do parque, adiantando um pouco mais a viagem.
(carregue para ver os percursos no wikiloc)
Sendo a resposta negativa aí ficamos uma noite mais e para jantar preparámos arroz com lentilhas onde a novidade foi o facto de lhe adicionarmos Nalca para provar... o sabor cítrico do talo foi uma boa adição à comida.
30/11/2013 Bosque Encantado
O plano do dia era conseguir boleia até outro sector do parque, fazer ai uma caminhada e seguir para o parque seguinte... Rio Simpson
Desde o parque de campismo até à Ruta 7 ainda fizemos uns 3km com tudo as costas. Enquanto esperávamos que alguém nos levasse veio falar connosco uma miudita da casa em frente... primeiro muito curiosa,depois contou a vida toda da sua família, depois começou a chamar-nos de 2 em 2 minutos para que víssemos ou fizéssemos algo, inclusivamente escrevemos uma carta ao pai natal ditada por ela... já só queríamos que algum carro passasse.
Veio um camião mas infelizmente era de transporte de combustível (não podem levar ninguém) e além do mais já vinha alguém ao lado do condutor mas, antes de nos apercebermos destes dois factos ainda esboçámos um sinal...na realidade o camião parou, perguntaram de onde éramos e encontraram lugar onde colocar as mochilas e nos mesmos.
Entre muita conversa e um bocadito de chocolate que nos deram, os 33km até ao ponto de partida do trilho Bosque Encantado passaram rápido.
O primeiro a fazer foi encontrar lugar onde deixar as mochilas grandes para podermos fazer o percurso...um buraco debaixo de uma grande árvore tombada pareceu-nos o sitio perfeito.
Ligámos o GPS mas não havia forma de este conseguir satélites... decidimos avançar marcando posteriormente o regresso.
O bosque é fantástico... os muitos verdes, os ribeiros, os líquenes, musgos, cogumelos e outras plantas que fazem das árvores maiores a sua casa.
Conseguimos sinal GPS, mas com pouca precisão, no entanto ao encontrarmo-nos com uma rocha grande seguimos um caminho em grande subida pela sua esquerda que nos levou a nenhum lado... apenas pedras e arbustos muito difíceis de passar... perdemos quase uma hora sem avançarmos quase nada e o GPS não ajudava mostrando que ora estávamos à esquerda ora à direita do trilho que devíamos seguir, mudando a nossa posição mesmo sem nos mexermos.
Lá no fundo víamos gente chegar a grande pedra e seguir através desta e não por onde estávamos... provavelmente estariam certos por isso decidimos descer.
Tanto dissemos mal do GPS que este “decidiu” enganchar-se no ramo de um arbusto e ficar por ai. Resultado, depois de descer quase tudo tivemos de voltar a subir para o procurar, por sorte com sucesso.
Bosque encantado: 12:53 (esq.), 12:56 (centro esq.), 12:58 (centro dir.) e 13:01 (dir.)
De regresso a grande rocha cruzámo-la e seguimos no caminho certo que nos levava a cruzar um rio. Pelo nome do trilho pensávamos que apenas andaríamos pelo meio do bosque e no fim teríamos um miradouro ... estávamos bastante enganados e ainda bem... depois de uma curta subida final chegámos a base de um glaciar com uma lagoa com cascatas e ainda blocas de gelo, simplesmente fantástico.
Glaciar e Lagoa no fim do percurso: 14:30 (esq.), 14:46 (centro esq.), 14:57 (centro dir.) e 15:02 (dir.)
O regresso foi muito menos atribulado e o GPS decidiu finalmente funcionar.
(carregue para seguir o traçado do percurso no wikiloc)
De volta a estrada almoçámos e conseguimos subir ao primeiro carro que passou, que nos levou até a reserva nacional Rio Simpson.
Aqui perguntamos onde acampar e que fazer... nenhuma das respostas foi animadora: a acampamento mais próximo era a 3km e que em todo o parque apenas havia um trilho e só de 2km. Seguimos as indicações mas passamos o camping acabando por acampar já a meio do trilho pois já se fazia tarde.
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