sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

AS – 9/13 – Argentina XII – 2200km à boleia e Buenos Aires

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Depois de Ushuaia o nosso destino era a capital Argentina, Buenos Aires, somente a 3000km de distancia pela Ruta 3... A ideia seria fazer 2200km à boleia até entrar em Bahia Blanca, já no departamento de Buenos Aires e depois seguir em comboio, bastante mais barato que autocarro.

21/01/2014

Despedimo-nos do Mark, deixámos mensagem à Bruna que tinha saído bem cedo para o trabalho e aproveitamos o táxi que o Victor chamou para ir a uma entrevista de trabalho, para sairmos da cidade.

O tempo não estava grande coisa e ao tirarmos as mochilas do carro estas ficaram bastante sujas com a lama do chão. Ainda estivemos uns minutos a pedir boleia mas tendo começado a chover e não havendo qualquer lugar onde nos pudéssemos refugiar, decidimos caminhar um pouco até às portas da cidade. Aí chegámos e já haviam dois casais à nossa frente, esperando que nos levassem.

Como chovia, decidimos esperar num lugar abrigado que alguém os levasse. Em pouco tempo o casal de israelitas foi e perguntámos ao restante se podíamos pedir boleia, uma vez que estes estavam de bicicleta e apenas camiões os podiam levar. Assim foi e quase no mesmo segundo parou um carro para nós e um camião para eles.

O senhor só pedia para que fossemos rápidos a entrar e por as coisas e não lhe sujássemos o carro... olhando para o barro nas mochilas. Era um advogado que, cansado do seu trabalho, viajou para Ushuaia e começou um negócio de recolha, compactação e reciclagem de lixo.

Deixou-nos em Tolhuin onde existe uma padaria muito famosa. Não tendo comido nada de manhã, e não tendo nada nas mochilas a Mónica foi lá comprar algo.

Pusemo-nos ao lado da estrada e parou novo advogado que nos levou até à saída de Rio Grande, ou seja 100km mais. Recomeçou a chover, e forte... em poucos minutos estávamos todos molhados... lá encontrámos um lugar onde nos abrigarmos até que a chuva acalmasse um pouco. Secámos rápido pelo muito vento que havia e voltámos a pedir boleia... mas ninguém parava. Por fim uma van parou dizendo que só nos podia levar por 10km, mas ao menos já estaríamos fora da cidade.

Aí nos deixou, literalmente no meio do nada... aparentemente seria fácil conseguir transporte. Esperámos uns minutos e nada... decidimos ir para um lugar onde nos vissem de mais longe mas também sem grande sorte... voltámos a avançar mais uns quilómetros até a um armazém onde estavam carregando uns camiões que iam para Norte mas só no dia seguinte e nos disseram que mais à frente havia um posto controlo de camiões era um lugar onde normalmente se pedia boleia com sucesso... caminhámos mais um quilómetro e chegámos onde nos disseram, mas onde também já havia um casal e mais um rapaz a pedir boleia... se já era difícil para nós sozinhos, mais seria agora com dois grupos à nossa frente, além do mais fazia muito frio.

Algumas horas depois, estávamos todos aí e quase não passavam carros, ou porque a fronteira estaria por fechar ou porque estaria por passar a última barcaça. Tínhamos avançado apenas 210km dos 3000 que pensávamos fazer em 5 a 7 dias. Íamos perguntar aos polícias se se podia acampar ao lado da estrada e estes ofereceram um barraco onde poderíamos dormir todos, além de café e água quente. Ficámos a comer e à conversa sobre as experiencias de viagem de cada um.

22/01/2014

Levantámo-nos bem cedo para tentar apanhar algum dos camiões que tínhamos visto a carregar no dia anterior e que nos diziam se nos vissem nos levavam. Assim sendo, com muito muito frio aí estávamos pelas 6:30 da manhã com a mão no ar.

Os restantes foram-se levantando e respeitando a ordem do dia anterior deixámo-los passar à frente. Foi então que passou a carrinha com os polícias que iriam trabalhar no complexo fronteiriço... parecia um autocarro... em 100m primeiro entrou o casal de argentinos, depois subimos nós e por fim o outro argentino... eram 5 polícias e 5 turistas.

Na aduana Argentina tratámos dos papéis e tivemos de voltar a esperar, agora em local complicado pois seguia-se a aduana Chilena, muito exigente no controlo e como tal as pessoas evitam passar turistas. Além do mais, o tempo foi passando e de 5 passamos a ser pelo menos 9, incluindo o casal de israelitas (que no dia anterior não tinha passado de Rio Grande) e o casal de bicicleta (tinha conseguido chegar à aduana) mas que decidiu fazer os 14 quilómetros pedalando para ter mais possibilidades. Chegámos a ser atracão turística por parte de muitos estrangeiros que saiam dos autocarros para carimbar os passaportes.

Por fim um senhor levou o casal de argentinos, dizendo-lhes primeiro que apenas até à aduana seguinte. Despedimo-nos dizendo que esperávamos não nos encontrarmos, o que seria um sinal que algum de nós teria conseguido uma boleia longa.

Nem levou 5 minutos e um senhor perguntou-nos para onde íamos... “para Norte” respondemos nós... “Eu levo-os, vou tratar dos papéis e já volto”... impecável, não só ia à aduana Chilena, como ia cruzar o Estreito de Magalhães, cruzar novamente a fronteira para a Argentina (com o significado de deixar o Chile pela última vez... nesta viagem), e seguir até San Julian, ainda 350km depois de Rio Gallegos, onde tínhamos esperança de chegar... no total mais de 700km, ou seja 1 Portugal (passámos a medir distâncias em “Portugais” tal a dimensão destes países comparado com o nosso).

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15:47 Cruzando o Estreito de Magalhães (esq.), 16:13 Estreito de Magalhães (centro) e 19:42 Pedra Buena (dir.)

Cruzámo-nos mais duas vezes com os argentinos mas por boas razões... a boleia deles acabou por levá-los até Rio Gallegos, de onde rumariam a Calafate.

Mesmo depois de mais de 5 horas de carro ao lado de alguém com quem nunca tínhamos falado sempre tivemos tema de conversa, apesar de já estarmos bastante fartos da paisagem de pampa argentina (salvavam os nandus e os guanacos). O senhor também nos ofereceu batatas fritas, uma sandes de panado e rocklets (como M&M’s).

Chegando a San Julian, deixou-nos numa gasolineira onde pelo avançado da hora já não pensávamos pedir boleia, no entanto como haviam muitos camiões tentámos um pouco mais, nem  que fosse para saber se seguiam no dia seguinte. Sem grande sorte fomos comer à estação de serviço com preços relativamente acessíveis.

Já de noite, bem escuro saímos a procurar lugar nas traseiras para montar tenda, com a recomendação que devia ser num lugar bem visível para que nenhum camião passasse por cima de nós. Encontrámos lugar mas com um piso de gravilha não foi fácil colocar estacas... acabámos por colocá-las muito superficialmente e amarrar os fios a pedaços de escombros que fomos buscar.

23/01/2014

Acordámos, desmontámos a tenda e ao primeiro camionista que pedimos boleia, fomos aceites com a condição de lhe servirmos mate enquanto conduzia.

O jovem mas experiente camionista não só conhecia a Argentina pelo trabalho mas também porque viajava muito com a sua família, e embora não fizéssemos intenção de fazer qualquer paragem antes de Buenos Aires, a descrição de muitos dos lugares por onde ele tinha passado e que estariam a apenas alguns quilómetros da Ruta 3, deu-nos vontade de fazer tudo com mais alguma calma. Também nos foi dando informações de onde comer bom e barato e onde pedir boleia caso fosse necessário, inclusivamente de como fazê-lo até Buenos Aires (mas como havia que ser muito seletivo no camião e havendo algum risco, não consideramos a hipótese)

Em todo o caso, tivemos tempo para parar em alguns lugares onde nos ofereceu tortas fritas (a versão argentina das Sopaipillas) e ainda por uma colónia de leões marinos.

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Leões Marinhos: 14:08 (esq.), 14:09 (centro) e 14:09 (dir.)
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Leões Marinhos: 14:10 (esq.) e 14:10 (dir.)

Chegando a Comodoro Rivadavia tivemos de sair do camião enquanto este ia tratar de alguns assuntos na empresa e dado que não lhe era permitido o transporte de pessoas externas, ficando de nos reunirmos em uma hora no paradeiro El Ocho. Havia só que caminhar 2 ou 3 quilómetros cruzando a cidade e estaríamos lá... Como tínhamos tudo às costas não foi nada fácil, principalmente porque depois de 1 hora e meia ainda estávamos na cidade e, à saída, havia uma subida forte... mas não desistimos, até que chegámos ao El Tres... será que El Ocho seria o quilómetro 8? isso queria dizer que já tínhamos caminhado 5 ou 6 mas ainda faltavam 5 mais... perguntámos e confirmava-se... decidimos apanhar um autocarro para ver se chegávamos ainda em tempo útil. Para isso havia que cruzar a estrada por uma passagem superior, coisa que fazíamos justamente quando passou o “nosso” camião por baixo... descemos a correr para o apanharmos no semáforo... conseguimos.

Voltámos à estrada parando no El Ocho para comer uma tarte de fiambre e queijo.

O Quim (nome fictício inventado por nós para proteger a sua identidade e trabalho) já estava cansado de conduzir por isso deu por terminado o dia numa gasolineira algures no meio do nada antes de Puerto Madrin e quase 1 Portugal depois de San Julian. Ficámos no camião até tarde vendo um filme no seu ecrã de 24 polegadas, que às vezes ocupa enquanto conduz para se distrair um pouco, recostando-se no assento e conduzindo com o pé (já o fez muitas vezes e diz que não faz nada comparado com o que muitos dos seus colegas fazem).

Terminado o filme saímos na escuridão profunda para montar a tenda, tendo-nos dado novamente a recomendação de não nos afastarmos muito do camião para nenhum outro nos passar por cima. Tentámos meter-nos mesmo atrás mas o chão ainda era mais duro que o da noite anterior e como tal era impossível espetar estacas e desta vez nem pedras havia. Olhámos para baixo do camião e ai mesmo montamos a tenda, amarrando-a a muitos ferros deste e usando as mochilas como peso nos cantos.

24/01/2014

Seis e algo da manhã e acordámos com o barulho de um camião em funcionamento muito próximo... seria o nosso????... saímos a correr da tenda para confirmar e avisar para que não avança-se... era falso alarme provocado pelo camião do lado.

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Acampamento: 06:47 (esq.) e 06:53 (dir.)

Com o susto desmontámos tudo e fomos para a gasolineira esperar que o nosso motorista acordasse, algo que só sucedeu 3 horas depois.

Seguimos então até a entrada de Puerto Madrin, onde nem quisemos entrar e caminhámos até à gasolineira mais próxima.

Pedimos sem sucesso a várias pessoas mas de repente passou um senhor que nos pergunta para onde íamos e se fosse para norte nos levaria.

Em vez de mate, havia terere para tomar... yerba mate mas em vez de servir com água quente, era com sumo gelado de toranja... fazia-nos muito mais sentido pelo calor que se fazia sentir.

Se a anterior boleia conduzia com o pé enquanto via filmes, este era bastante nervoso, apressado e, tal e qual Toy, conduzia com o joelho.

Foi mais um Portugal de viagem terminando em Bahia Blanca, onde tomaríamos o comboio até Buenos Aires.

O Diego levou-nos até à estação de comboio mas estava vazia... o único comboio do dia tinha saído há menos de 20 minutos... pior era sexta e aos sábados não passava.Fomos perguntar preços ao hostal mais barato, que, além de não ser tão barato estava cheio. Tendo uma referência dos preços de autocarro, e sabendo que para ir de comboio teríamos de pagar 2 noites mais comida e não havia garantias de lugares na classe económica decidimos seguir viagem pela noite de bus. Mais uma vez o Diego propôs-se a levar-nos ao terminal.

Chegando ao terminal acabámos por encontrar bilhetes significativamente mais baratos do que esperávamos, reservando viagem para as 01:05.

25/01/2014

Chegámos à capital quase à mesma hora que tínhamos saído de Ushuaia e como tal significava que tínhamos feito os 3000km em apenas 4 dias. Do mesmo modo em 4 dias tínhamos passado de um lugar onde o casaco e um polar eram necessários para um lugar onde a t-shirt já era demasiado quente.

Do terminal apanhámos o metros para casa/hostel dos nossos amigos Martin e Romina. Tomámos o necessário banho e descansámos um pouco antes de sairmos de passeio ao cinema, depois jantar pizza e por fim gelado.

26/01/2014

Foi dia de por as coisas em dia, descanso e planear o que nos falta da viagem.

27/01/2014

Saímos para uma visita ao centro da cidade, caminhando muito mas não visitando muito pois é simplesmente gigante.

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13:26 Cabildo (esq.), 13:36 Obra (centro) e 14:26 Casa Governamental (dir.)
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14:45 “ A vida encontra sempre um caminho” (esq.), 16:32 Grua em Puerto Madero (centro) e 16:35 Antes e depois (dir.)
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Puerto Madero:  16:38 Gruas (esq.), 16:48 Puente de Las Mujeres (centro) e 16:53 Antes e depois (dir.) 

Pela noite fizemos verduras com natas e leite creme para os nossos anfitriões.

28/01/2014

Foi dia de chuva mas pela tarde ainda deu para sair um pouco ao bairro Recoleta.

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17:03 Selva (esq.), 17:15 Somos mesmo pequenos (centro) e 18:22 Monumento Floralis Genérica (dir.)

Pela noite voltámos a jantar todos juntos.

29/01/2014

Novo dia de descanso e de fazer malas... havia que trocar tudo o que é roupa de inverno por roupa de verão.

Pela noite fizemos bolo de chocolate para levar e deixar.

Já é sabido que as cidades são algo que não nos atrai muito... o ruído, o stress e a confusão, e Buenos Aires tem tudo isso a uma dimensão impressionante. No entanto em termos arquitectónicos e principalmente culturais, há muito que ver. Por exemplo, existe uma rua cheia de teatros com muitas salas e todas com espetáculos ao mesmo tempo e muitos museus de arte. Em todo o caso o que normalmente gostávamos mais eram as praças e jardins com gigantes árvores.

30/01/2014

Pela manhã despedimo-nos da Romina e do Martin e seguimos para o porto a fim de apanhar o barco para Colónia del Sacramento, já no nosso 11o país da viagem... o Uruguai.

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