domingo, 1 de novembro de 2009

La Fregeneda - Barca D’Alva (Caminho de Ferro)


Local: La Fregeneda (Espanha); Dificuldade: Média; Extensão: 17 Km; Tempo: 6h 00m; Tipo: Linear

Depois de mais de um ano após termos percorrido Barca D’Alva – Pocinho lá decidimos cumprir o prometido e seguir pelo caminho-de-ferro entre La Fregeneda e Barca D'Alva. Apenas à enésima tentativa e após vários adiamentos, conseguimos quórum suficiente entre os amigos e seguimos 4 bravos e inconscientes em direcção a Figueira de Castelo Rodrigo para um fim-de-semana de aventura. Com a chegada do Inverno e a mudança de horas tornou-se necessário começar bem cedo para aproveitar as poucas horas de luz.

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Estação La Fregeneda 8H45

Embora a ideia inicial fosse de apenas fazer o percurso pelo caminho-de-ferro, para aproveitar a proximidade de Freixo de Espada-à-Cinta, gozar o fim-de-semana ao máximo e arranjar forma de convencer mais gente a aceitar o convite, decidimos incluir no pacote a bela Calçada de Alpajares.

Depois de testadas as condições físicas dos nossos companheiros e de um merecido descanso na pensão Bago D'Ouro, Domingo seguimos num carro da mesma em direcção à vila espanhola, conduzido pelo motorista de nome tipicamente português “Andrés”.

8H45 marcava o relógio quando chegamos à estação de comboio de La Fregeneda. Nesta um sinal avisava do perigo relativo ao estado das pontes o que aumentou exponencialmente a nossa confiança… antes que o estado destas piorasse mais um bocadinho decidimos avançar.

Para começar um “pequeno túnel”… já se via a luz ao fundo mesmo antes de entrar pelo que pensámos em nem utilizar as nossas lanternas … 10 minutos depois (já de lanternas ligadas) ainda se via a luz ao fundo do túnel sem ter aumentado de dimensão (parecia que estávamos nos desenhos animados do Tsubasa nos quais os jogadores de futebol corriam corriam e nunca mais chegavam à linha meio campo que ia aparecendo vagarosamente no horizonte). A expectativa era grande tanto de chegar ao fim como de ver morcegos que com pena nossa não havia neste túnel. Á saída (ao fim de 2 km), depois das pupilas se ajustarem à luz ofuscante, os vales e as montanhas típicas do Douro recebiam-nos com a sua grandiosidade…

Túnel 1, pequena ponte 1, túnel 2 e túnel 3…. um cheiro nauseabundo, primeiro de cão molhado, depois de animal em decomposição, nos indicava a presença dos tão esperados morcegos. A avaliar pelas montanhas de guano (caca) que ocultavam a linha, deveriam existir enormes colónias de morcegos … finalmente encontrámos apenas dois grupinhos todos encavalitados, que saiam do seu nicho sem rumo, alguns direitinhos a nós…lá seguimos entre morcegos, guano, baratas, linha de caminho-de-ferro, lajes de pedra, paredes construídas pelo homem e paredes naturais. No fim do mais emocionante túnel do percurso encontrámos o rio Águeda…

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morcegos …                                                            e mais morcegos

…seguindo o rio chegamos à primeira ponte de vão considerável… a adrenalina subiu exponencialmente… ora portanto uma ponte muito alta sendo que no lado esquerdo temos um perfil metálico com 20cm de largura e uma guarda a meio metro de distancia e no lado direito umas tábuas com meio metro de largura e estado duvidoso (tirando as que estavam podres ou queimadas… tudo bem)… lá fomos dois de um lado e dois do outro seguindo pé ante pé até esta se encontrar novamente com a terra!!! Nos céus sobrevoava em círculo um bando de grifos parecendo contar até 4 na expectativa de um pequeno-almoço gratuito… Após este primeiro choque parámos para acalmar um pouco e conversar um pouco sobre como estariam as seguintes pontes e se conseguiríamos chegar ao fim.

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Ponte 1 - 10H20

Túnel 4… à saída e ainda com o ritmo cardíaco acelerado… a ponte 2… e os grifos cada vez em maior número a seguirem cada passo…
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Túnel 4 – 10H43 ...                           ponte 2 - 10H50

Túnel 5, túnel 6 e … ponte 3, esta em curva… mais uma vez dividiu-se o grupo e dois seguiram pelo lado interior e dois pelo exterior… que bela surpresa tiveram os últimos quando se aperceberam que a curva era constituída por 3 troços completamente desligados no passadiço e guardas metálicas, chegando a separação a ultrapassar meio metro. Nada que não se conseguisse passar mas com duas grandes passadas e um dose de elasticidade (homem 3; grifos 0) …

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Ponte 3 - 11H04

Até este ponto já tínhamos visto de tudo sendo a confiança tal que as pontes passavam rápido sob os nossos pés (os mais pequenos é que tinham de andar um pouco tortos para conseguirem tocar nas guardas) … Túnel 7, 8, 9 , 10, pequena ponte 2, túnel 11 e 12, ponte 4 (mais longa e alta de todas constituída por metade em pedra e outra metade em estrutura metálica), túnel 13, 14 (lugar para o desejado pic-nic) e 15, ponte 5, pequena ponte 3, mini ponte 1 (zona com 30cm de linha sem terreno por baixo) , túnel 16, grande ponte 6, túnel 17 e 18, ponte 7, túnel 19 e 20 (último) ….

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                 Ponte 6 – 12H17 …                                              nem ponte nem túnel – 14H12 …                      e ponte 9 - 14H43

PONTE 8 a qual já havia sido testada no dia anterior com passada vagarosa e insegura substituída agora por um passo de trote quase galope sem qualquer recurso aos membros superiores (pudera pois parecia nova comparando o seu estado com o das outras pontes) …

por fim após 20 Túneis e 11 Pontes chegámos à primeira estação de Portugal – Barca D’Alva.

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Ponte 11 – 15H01 …                     e Estação de Barca D'Alva – 15H21       

Importa aqui lembrar aos leitores que embora nos refiramos a pontes por simplificação da escrita, apenas uma das estruturas (a última) servia para transpor uma linha de água (neste caso o rio Águeda) e portanto apenas essa deveria ser chamada de ponte. Este comentário serve também para demonstrar alguma credibilidade junto da nossa classe profissional.

3 comentários:

Salvador disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Salvador disse...

Os meus parabéns por esta bela descrição, do meu mais recente futuro "projecto de actividade"
Vamos ver como corre.

Como dizia, excelente texto, animado e cheo de sentido de humor, muito inspirador para quem como eu anseia fazer este trajecto
A minha pergunta poe-se, em que estado estarão as pontes em 2013?

Boas caminhadas

salvador, coimbra

Nuno Gonçalves disse...

Olá Salvador,
Nao te podemos responder a essa questao, apenas que em 2009 já nao era grande coisa :).

Também como supostamente nao é permitido cruzar as pontes, duvido que alguém de um posto de turismo oficial te responda. Entao só hà que procurar em tudo que é blogs de caminhadas para ver se alguém o fez recentemente... talvez os umpardebotas ou os pegadabota

boa sorte...