sexta-feira, 8 de junho de 2012

América do Sul - Take 5/13 - Colômbia - Parte XI - Tierradentro

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2012/05/26

O nosso guia não era muito explícito no de diz respeito a viajar entre San Agustin e Tierradentro, no entanto já tínhamos falado com alguém que tinha feito esse trajecto e portanto estávamos preparados para uma viagem difícil. As informações que os locais em San Agustin nos forneciam também eram díspares quanto ao valor, modo e número de autocarros a apanhar.

Saímos de San Agustin por volta das 13:00, depois de visitar as zonas arqueológicas em falta no dia anterior, num táxi colectivo até Pitalito. Após uma hora chegámos ao terminal onde nos informaram que ou passaríamos lá a noite ou teríamos de correr para apanhar o último autocarro do dia, que inclusivamente já tinha saído mas podia esperar por nós no posto de abastecimento de combustível... claro que decidimos ir, mas já sabíamos que este não seria o último transporte até Tierradentro pois só nos levaria até La Plata. Alcançado o ”autocarro” (carrinha de 9 lugares) o motorista deu-nos infeliz notícia de que já não teríamos ligação, apenas no dia seguinte às 6:30... ficámos ainda com uma réstia de esperança mas já a contar com o facto de necessitarmos de procurar lugar onde ficar...

Chegámos a La Plata depois de 4 horas e muitos solavancos, infelizmente 1 minutos depois da saída do último transporte. Como não tínhamos parado no terminal ainda tentámos confirmar a informação, não fosse o nosso motorista apenas tentar que fossemos na sua companhia. Confirmada a informação quisemos saber mais detalhes sobre a viajem, descobrindo que afinal havia um transporte às 5:00 e procurar hostel. O guia não foi grande ajuda, e também o facto de no dia seguinte existir uma conferência em que o orador, cirurgião de profissão, mas também pastor de uma seita qualquer, iria falar sobre os milagres que Deus o ajudou a conseguir, trazendo à vila uma legião de seguidores que ocuparam quase todas as camas disponíveis. Não sabendo disso fizemos uma primeira ronda para averiguar condições e preços e, depois de escolhido o destino, lá fomos mas recebendo uma negação pois tinham ocupado todos os quartos no curto hiato de tempo. As respostas foram as mesmas até ao último de todos, hotel El Viagero, que ainda tinha o quarto mas já nos pedia mais dinheiro... conseguimos o preço inicial, mas pelo mesmo preço de outros quartos agradáveis que tínhamos visto ficámos no que se pode chamar uma espelunca... a única vantagem foi o facto de ficar mesmo em frente ao local de onde saíam os autocarros.

Voltando aos seguidores do pastor, estes eram tantos que o nosso pardieiro começou a colocar gente a dormir no chão dos corredores.

Informámos o dono que sairíamos às 5:00 ao que este respondeu não haver problema pois iria no mesmo transporte, prontificando-se desde logo para avisar o motorista da existência de mais 2 pessoas, não sem antes nos tentar enganar, adicionando 25% ao preço real dos bilhetes.

Fomos jantar a um tasco (sopa, bife, arroz, feijoada, banana frita, salada e um sumo natural), os dois por menos de 5 euros), voltando ao hotel para tentar dormir um pouco, onde verificamos que teriam mexido na nossa porta, felizmente fechada com um cadeado nosso (que alguém teria dito não ser necessário).

2012/05/27

Às 5 estávamos prontos saindo para Tierradentro com uma pontualidade pouco habitual por estes lados. Mais uma vez não se tratava de um autocarro mas agora uma carrinha de caixa aberta igual à que tínhamos andado entre Pitalito e San Agustin. A viagem, por estradas ainda piores demorou menos que as duas horas previstas e chegámos antes das 7:00, tendo assim tempo para procurar lugar onde dormir nos próximos dias, antes da abertura do parque arqueológico, pelas 8:00.

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Pássaros: 7:17 (esq.) e 7:37 (dir.)

Vimos preços e condições de várias acabando por ficar numa casa particular, porta à esquerda de uma hospedagem,  com banho privado, toalhas, sabonetes e serventia de cozinha (o melhor de todos os espaços e mais barato). O dono é muito simpático e é o próprio que tem vindo a construir tudo sozinho... tudo limpo, apresentável, simples e bonito.

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Hospedagem particular: 2012-05-28 17:45 Fachada e 2012-05-27 07:45 Quarto (dir.)

À hora de abertura entrámos no parque, comprando o bilhete, que nos dá acesso durante 2 dias e onde visitámos dois museus: primeiro o etnográfico com costumes e utensílios da região; depois o arqueológico com artefactos extraídos das várias escavações nas tumbas.

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8:28 máquina de moagem de cana de açúcar (esq.), 8:38 simulação de uma cozinha indígena (centro esq.), 9:03 Placar explicativo de um enterro primário (centro dir.) e  9:04 Placar explicativo de enterro secundário (dir.)

Note-se que na cultura Tierradentro os corpos eram enterrados primeiramente em tumbas simples de um só corpo (enterro primário) e depois desenterrados os ossos e transladados, dentro de urnas mais pequenas como potes cerâmicos, para tumbas mais complexas (hipogeus ou enterros secundários), podendo estas conter restos humanos de mais que uma pessoa. Todas estas tumbas são escavadas no solo, não havendo construção de antas ou colocação de ídolos monolíticos a proteger as mesmas, como em San Agustin.

Dos museus seguimos a pé para o Alto de Segovia (saída pelo museu etnográfico)  onde foram encontradas 64 tumbas das quais 30 estão abertas e podem ser visitadas pelo público. No sítio arqueológico os seguranças, que abriam e fechavam cada uma das tumbas,  antes e após a nossa visita, também descendo posteriormente confirmando o estado da mesma, tentavam dissuadir-nos de visitar mais que 7 ou 8 tumbas... não tiveram grande sorte pois tivemos paciência e força nas pernas para entrar em pelo menos 20. Tendo sido construídas manualmente, não há duas iguais e mais simples ou elaboradas, todas tinham algo de interessante, mesmo quando o estado de degradação não nos permitia ver muito da obra original. As tumbas distinguem-se umas das outras pelos desenhos e cores das pinturas (vermelho, negro ou amarelo), pelo número de nichos, colunas (laterais e centrais), degraus do poço de acesso e correspondente profundidade (2,5 a 6 metros), forma e profundidade dos altos e baixos relevos nas paredes e colunas.

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9:25 acesso ao Alto de Segovia (esq.), 9:50 Interior da tumba S-21 (centro) e  9:56 Escadas da tumba S-20 (dir.)

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10:00 Interior da tumba S-20 (esq.), 10:15 Escadas da tumba S-2 (centro) e 10:21 Interior da tumba S-1 (dir.)

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10:27 Interior da tumba S-3 (esq.), 10:31 Acesso à tumba S-3 (centro) e 10:43 Interior da tumba S-26 (dir)

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10:47 Vasos cerâmicos (esq.), 10:50 Acesso à tumba S-8 (centro) e 11:03 Interior da tumba S-9 (dir.)

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11:08 Interior da tumba S-10 (esq.), 11:11 Interior da tumba S-10 (centro esq.), 11:17 Interior da tumba S-11 (centro dir.) e 11:23 Acesso à tumba S-12 (dir.)

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11:25 Panorâmica do sítio arqueológico do alto de Segovia (esq.), 11:28 Interior da tumba S-7 (centro) e 11:48 Interior da tumba S-4 (dir.)

Tumba S-20 do Alto de Segovia

De Segovia subimos mais um pouco até El Duende, com mais 6 tumbas abertas, entre 1,4 e 5,8 m de profundidade. Continuámos a subir até El Tablon, local ainda mais controverso no que diz respeito a explicações quanto à sua existência, pois aqui foram encontrados monólitos similares aos de San Agustin, mas sem qualquer tumba. Parece que El Tablon em Tierradentro e Obando em San Agustin estão trocados no que diz respeito ao lugar onde se encontram ou à cultura onde se inserem.

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12:33 Vista de El Duende para Alto de Segovia (esq.) e El Tablón 13:21 (centro) e 13:23 (dir.)

Descemos até à vila de San Andrés de Pisimbalá onde existe uma curiosa igreja com mais de 400 anos, uma das poucas resistentes ao sismo de 1994 e seguinte avalancha de terra que dizimou populações inteiras. Embora fosse Domingo esta estava fechada mas informaram-nos que costumava reabrir ao fim da tarde, por isso era nossa intenção regressar. Nas ruas, em frente a muitas casas secava-se café.

IMG_713513:55 Café

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Igreja de San Andrés de Pisimbalá: 13:56 (esq.), 13:57 (centro) e 18:30 (dir.)

Almoçámos no único restaurante existente... e que almoço! banana de entrada, sopa com carne e muitos legumes, arroz, feijoada, bife de porco e dois tipos de saladas, sumo natural de amora e como sobremesa um pudim de amora. A Mónica que quase não tocou na sopa pediu se podia comer mais arroz e feijoada ao que a responsável se prontificou a encher-lhe de novo o prato. Pelo meio tínhamos perguntado se era possível comprar maizena pois não tínhamos encontrado em nenhuma loja e esta mais uma vez ofereceu-se para nos fornecer a quantidade necessária. Com tanta simpatia acabámos por arredondar o preço para cima.

Seguimos para ”casa” após algumas compras.

Fizemos logo o jantar: massa com ervilhas e cenoura, arepas de alho com farinha de milho (originais) e com farinha de trigo (invenção nossa) e sobremesa manga e leite creme, deixando um prato para o dono da casa e levando uma marmita para a dona do restaurante aquando o regresso a San Andrés para visita ao interior da igreja.

Após o regresso jantámos e fomos dormir.

2012/05/28

Saímos cedo para uma penosa subida a Al Aguacate, com muito calor, mas com paisagens totalmente compensatórias do esforço. Aqui descobriram-se 64 tumbas (42 visitáveis), bastante mais simples, talvez devido à sua localização singular... todas estas foram construídas quase seguidas e em fila na direcção da estreita cumeada da montanha. Destacam-se alguns desenhos de animais em algumas tumbas.

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10:02 Acesso a Al Aguacate (esq.) e Pinturas no interior de tumbas 11:23 (centro) e 11:53 (dir.)

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Pinturas no interior de tumbas: 11:58 (esq.) e 12:02 (centro) e 12:04 Acesso a uma tumba (dir.)

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12:38 Alinhamento das tumbas no topo de Al Aguacate (esq.), 12:38 Entrada numa tumba (centro) e 12:40 Interior de uma tumba (dir.)

Saída de tumba em Al Aguacate

Seguimos para Alto San Andrés onde estão mais 6 tumbas mas apenas 3 visitáveis. Das que podemos visitar, SA-3, SA-5 e SA-6, a maior foi encontrada já com teto abatido (SA-3). As tumbas SA-1 e SA-2 estão em reconstrução devido a danos estruturais aquando o sismo de 1994 e a tumba SA-4 nunca foi explorada. As pinturas deste complexo estão muito bem conservadas e infelizmente as mais bonitas estariam na tumba encerrada SA-1. Aqui almoçámos o resto do jantar, tendo como sobremesa uma manga e várias goiabas apanhadas no local.

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13:42 Avistamento do complexo de San Andrés (esq.) e interior da tumba SA-5 14:08 (centro) e 14:10 (dir.)

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14:10 Escadas da tumba SA-5 (esq.), 14:17  tumba SA-4 e 15:15 borboletas

Passámos novamente na vila e no caminho de casa comprámos um gelado de leite e bolacha (aproximadamente 12 cêntimos), bananas, curubas e um gelado de curuba (aproximadamente 20 cêntimos).

Fizemos o jantar: arroz com ovo e uma tentativa de banana frita.

2012/05/29

Acordámos às 4:30 para arrumar as coisas e apanhar bus (agora sim um autocarro) para Popayan.

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