sábado, 31 de março de 2012

América do Sul - Take 1/13 - Guiana Francesa - Parte IV

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2012/03/23

Saímos de casa pelas 7h acompanhados do Adrian na sua bicicleta, seguindo viagem para o centro de Cayenne a ritmos muito diferentes sob chuva... o Nuno parecia uma tartaruga de carapaça amarela e a Mónica de carapaça negra, atendendo ás cores das protecções das mochilas que tínhamos tanto atrás como á frente... teríamos um registo fotográfico não fosse a chuva...

Passámos por casa dos nossos anteriores anfitriões pois tínhamo-nos esquecido lá de umas coisas.

No centro comprámos umas hamacas melhorzitas com padrão de tropa como a Alizée nos havia sugerido, não são as ideais para dormir mas são bem melhores do que as nossas e não ocupam muito espaço...

aproveitámos o pouco tempo que nos restava antes de apanhar o autocarro para comprar fruta no mercado, alguns ramboutan, bacoves e uma chadéque (espécie de Toranja).

9h00-10h00 bus CAYENNE-KOUROU

No centro de Kourou andámos um pouco ás voltas até encontrar um mapa e depois lá seguimos até a casa dos nossos seguintes anfitriões, parando perto da praia para almoçar e fazer tempo até eles chegarem a casa.

Fizemos companhia à Alana durante o seu almoço aproveitando para conhecer-nos, e ao Vincent que acordou depois da sua noite de trabalho no centro espacial devido ao lançamento de um foguetão Ariane 5 com um satélite, pelas 1h34.

14h30 saímos para ver de onde partiam os barcos em direção ás iles du Salut, cuja reserva o Vincent já nos tinha feito por telefone e depois passámos no super para comprar ingredientes para o jantar, que nos propusemos a fazer, e para as refeições dos próximos 3 dias na ilha Royale. Pelo meio gerámos confusão entre um grupo de pescadores que se desentenderam após termos perguntado se podíamos comprar-lhes peixe... enquanto um dos serventes, brasileiro, disse que sim enquanto se vangloriava por ser o único no local que nos percebia e que sabia o que queríamos, o seu chefe foi perentório em recusar e a não permitir que fosse consumada a venda.

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15:32 Garça Branca

20h00 como entrada provámos um fruto de palmeira cozido (parépou), com cheiro entre batata doce, castanha e inhame (não convenceu o nosso paladar). Jantámos arroz com estufado de legumes, por nós preparados e para sobremesa um delicioso leite creme... que até a Mónica comeu :)

2012/03/24

Saímos de casa pelas 7h30 com o Vincent que nos foi levar ao barco onde tínhamos de estar pelas 7h45 para efectuar o pagamento dos bilhetes supostamente reservados no nome da Mónica. Supostamente pois lá não havia qualquer registo. Por sorte chegámos cedo e pudemos comprar bilhetes na hora.

Já no barco o Nuno reconheceu uma língua... Português e de Portugal... somos poucos mas estamos em todo o lado. Só existem 2 Portugueses a trabalhar no centro espacial e um estava connosco no barco, por sinal um gajo do Norte carago... Em pouco tempo de conversa já nos estavam a oferecer guarita para quando regressássemos das ilhas.

Á chegada, todos se separaram e dirigiram-se a velocidades distintas para pontos distintos da ilha. Nós não sabíamos muito bem para onde ir por isso ficámos para último. O nosso objectivo era saber se e onde poderíamos acampar e aproveitar para saber onde e como seriam os refúgios onde poderíamos colocar a nossa hamaca e ficar sob um tecto por dez euros. Acabámos por andar e andar e dar uma volta á ilha com tudo às costas.

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10:21 Plantas das 3 ilhas (esq.), 15:45 Ile de Saint Joseph (centro) 15:57 Ile du diable (dir.)

Por sorte ou pura coincidência o primeiro edifício por onde passámos era uma museu com a história das ilhas e dos seus reclusos, entre os quais o famoso Papillon, de nome verdadeiro Henry Charriere. Pelo que apuramos junto do museu, a história contada por este e retratada em filme não é totalmente verídica ou pelo menos não se passou com Papillon mas sim com outros reclusos. No que respeita a Papillon depois de ter sido condenado por assassinato, passou cerca de 2 anos nas iles du Salut, tendo sido enviado depois para uma prisão em Cayenne de onde escapou. No total terá escapado 3 vezes, tendo sido capturado uma vez ainda na Guiana e outra na Colômbia, à terceira escapuliu-se para a Venezuela onde não existia acordo de extradição, conseguindo assim a sua liberdade... em jeito de conclusão ele não escapou das ilhas e pouco lá viveu, no entanto o que foi retratado (eventualmente com alguma dramatização) não deixou de ser verídico na pele de outros reclusos.

Conceituada foi a prisão do Comandante Alfred Dreyfus, supostamente condenado por traição à pátria... acabando por ser liberto e novamente condenado sem qualquer tipo de provas, sendo por fim sido reconhecida a sua inocência e tendo voltado a ocupar o seu cargo. No total passou mais de 14 anos preso na ile du Diable com 14 guardas, existindo no museu cópias dos seus cadernos com rascunhos de fórmulas matemáticas e do nome da sua amada... na altura em que estaria já algo demente.

Depois do museu seguimos em direção ao Hospital, já muito degradado, à capela, presbitério, casa do médico e guarda faroleiro, enfermaria, quartel e messe dos vigilantes... onde vimos inúmeros agoutis (dasyprocta agouti)... descemos pela zona do cemitério das crianças e acabámos perto do porto onde nos teriam indicado ser o lugar de campismo e onde aproveitámos para almoçar o resto do jantar do dia anterior e frutinha da zona... depois de sair o barco de regresso a Kourou verificámos junto dos guardas que afinal o parque de campismo era noutro lugar, junto da piscina (de rochas).

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2012-03-24 11:29 Hospital (esq.), 12:21 Capela (centro) e 2012-03-26 10:26 Celas (dir.)
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11:06 Lagartixa (esq.) e 11:24 Agouti - dasyprocta agouti (dir.)

No parque montámos a nossa tenda por um lado para guardar as coisas e outro porque não tínhamos corda suficiente para as hamacas, nem cobertura para estas no caso de chover... depois foi tempo de preparar uma fogueira para aquecer o jantar, salsichas com lentilhas, a qual deve ter demorado pelo menos 30 minutos dado que a lenha lá encontrada não estava bem seca e pois pensávamos que não tínhamos nenhum isqueiro connosco.
Fizemos fogo...

Cerca das 20h fomos dormir ao som dos zumbidos das cigarras...

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2012-03-24 14:17 Casca de Cigarra e 2012-03-25 10:16 Cigarra

2012/03/25

Levantámo-nos cerca das 7h para um pequeno passeio em torno da ilha, durante o qual vimos um enorme cruzeiro aproximar-se da ilha e vários macacos capuchinho castanho (cebus apella). Depois de largos minutos a observá-los e muitas fotos tiradas quisemos provar a especialidade local... apanhar um dos milhares de côcos do chão e sofrer até conseguir provar a água ou o próprio côco. Normalmente quem está habituado e tem as ferramentas para tal consegue fazê-lo com uma catana em aproximadamente 5 segundos mas nós, munidos apenas de uma pedra demorámos quase meia hora. Para juntar a isto não sabíamos se havíamos de abrir um côco verde ou um seco. Primeiro tentámos um verde: tinha muita água mas a parte branca parecia gelatina. Depois um seco: não tinha água mas parecia não estar em boas condições... ficámo-nos por aí.

Esta é a altura em que damos muito valor aos nossos amigos agoutis que, sendo pouco maiores que um porquinho da india, conseguem abrir um côco e comer o seu interior em poucos minutos.

Voltámos para o acampamento para montar as nossas hamacas aproveitando cordas já existentes nas árvores, que a juntar às nossas foram suficientes para nos sustentar no ar. Nestas passámos toda a tarde mas embora não nos tenhamos mexido muito, não nos faltaram distrações. No parque passeavam muitos agoutis  e galos, e as formigas carregando os restos das nossas refeições deram-nos entretenimento por largos minutos. Os macacos que anteriormente tínhamos visto no lado oposto da ilha também decidiram fazer-nos uma visita e ao fim da tarde apareceram dois barulhentos, e persistentes Sairimis (sairimis sciureus) que nos levaram pão e deram origem a nova e longa sessão fotográfica. Depois de termos almoçado pão com sardinhas em lata o jantar foi igualmente enlatados, desta vez salsichas com ratatuille, mas com a diferença que fizemos uma fogueira para aquecer a comida.

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2012-03-25 9:48 Macaco capuchinho castanho - cebus apella (esq.) e 2012-03-26 12:19 e 12:21 Sairimis - sairimis sciureus (centro e dir.)

Sairimi (sairimis sciureus) atacado por casal de kiskadees (pitangus sulphuratus) em defesa do seu ninho

Importa dizer que isto a que chamamos parque de campismo não é mais que um espaço com palmeiras onde podemos colocar as tendas e/ou as hamacas. Até tem 1 sanitário misto com lugar para 3 pessoas ao mesmo tempo, mas não era muito mais que o mesmo número de buracos no chão de aspecto duvidoso... nem sequer lavatórios... ou água.

A juntar a este facto não tínhamos qualquer garfo ou colher... pedaços de baguete e uma navalha foram os nossos talheres. As mãos e cara eram lavadas com água da garrafa.

Era nossa intenção dormir nas hamacas mas os Gendarmes (polícias) da ilha aconselharam-nos a não o fazer pois se previa muito vento, que normalmente gera queda de côcos ... ocasionalmente mortal. Inclusivamente ofereceram lugar para ficarmos mas acabámos por dormir na tenda.

2012/03/26

Acordámos por volta da mesma hora do dia anterior... os côcos não tinham feito baixas.

Demos novo passeio pela ilha, desta vez pela zona das celas e por outros locais esquecidos por nós até então.

Novamente no campismo almoçámos atum com pão e milho na companhia dos Sairimis que imploravam e quase nos atacavam para obterem um pedaço de pão. Uns minutos depois vimos semelhante ritual com outros grupos de visitantes na ilha.

Após arrumadas as coisas, dirigimo-nos para o porto a fim de regressar a Kourou mas não sem antes ter nova oportunidade para ver o grupo de Macacos Capuchinho e de uma nova tentativa de abrir um côco. Este custou bem mais que os outros... mas compensou: era enorme, estava cheio de água e a parte branca era consistente... sabia mesmo a côco ralado.

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2012-03-25 15:19 Campismo (esq.), 19:14 Jantar (centro) e 2012-03-26 16:04 Côco (dir.)

Quando voltámos ao barco reencontrámos os nossos compatriotas. Parece incrível como, por um lado o mundo é tão pequeno para encontrarmos um dos dois únicos Portugueses a trabalhar no centro espacial , por outro lado numa ilha com apenas menos de 1km comprimento máximo por menos de 0,5km de largura máxima, em 3 dias nunca nos cruzámos.

Note-se que apenas estivemos na Ile Royale (maior), sendo também possível visitar a Ile Saint Joseph (a troco de 5 euros, podendo apenas permanecer nesta um par de horas). A ilha mais pequena, Ile du Diable não pode ser visitada.

Já em Kourou ainda tivemos direito a boleia para casa, tendo ficado combinado um reencontro para jantar, adiado para o dia seguinte pois os nossos anfitriões já tinham planeado fazer-nos umas pizzas. De modo a aproveitarmos o aquecimento do forno acabámos por fazer pão de alho.

2012/03/27

Este dia estava destinado à visita  ao Centro Espacial mas que só teria início pelas 13:30.

Como era dia de mercado fomos ver que especialidades de frutas diferentes havia para provarmos. Desta vez comprámos algo a que chamam golden aple (spondias dulcis), pomme d'amour (syzygium samarangense), caimite e carambole. Os sabores de cada um não se parecem com nada que tivessemos provado. Apenas o caimite reuniu o consenso quanto aos nossos gostos.

Passámos ainda pelos correios e fizemos um pequeno passeio pela floresta (mas no centro da cidade), onde a Alana nos disse ser regular encontrar-se preguiças. Não as vimos mas foi engraçada a sensação de estar no centro de uma cidade mas em floresta cerrada. Ainda acabámos por ver um grupo de Tamarins de patas douradas (saguinus midas).

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18:51 Fruta: Caimite (esq.), Pomme D'Amour (centro), Golden Apple (dir.) e Carambole (frente)  - (esq.) 10:59 e Tamarim de patas douradas - saguinus midas (dir.)

A visita ao centro espacial não é nada de especial (embora sejam mais de 2 horas, grátis), assim como o museu (4€). Deu no entanto para perceber o porquê da Guiana Francesa ter sido escolhida para local de lançamento de foguetões europeus: Primeiro por ser o território europeu, mais próximo da linha do equador, local mais central para definição de qualquer trajectória e, não menos importante, dado o achatamento da terra a força necessária para colocar um objecto no espaço é muito menor e, consequentemente, menos gasto de combustível (aqui, para uma mesma carga, gasta-se metade do combustível que na plataforma de lançamento da Rússia). Depois as condições atmosféricas são geralmente favoráveis e a proximidade ao mar permite que sempre que possa haver um problema num lançamento os foguetões caem sempre no mar, não causando baixas humanas.

Também aprendemos como são feitos os foguetões, quais as diferenças entre os três tipos que cá se fabricam (Ariane 5, Soyouz e Vega), nomeadamente a capacidade de carga de cada um, ao nível de peso e número de satélites a colocar no espaço.

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12:21 Réplica à escala 1:1 de foguetão Ariane 5 (esq.) 12:51 Museu do Espaço (centro) e 15:53 Plataforma Lançamento Ariane 5 (dir.)

Á hora do jantar fomos convidados pelo Hélder e pela Sandra para irmos a um restaurante típico comer brochettes (pequenas espetadas). O serviço é deveras estranho: temos de ser nós a pegar no menu, caderno e caneta, escrever o que queremos, entregar no balcão... mas as espetadas são muito boas. Provámos 6 brochettes diferentes- boef (boi), poulet (frango), merou (garoupa), acoupa (peixe mais comido cá), crevettes (camarão), requin (tubarão).

Arrumar as coisas todas e acordar às 3 da manhã para ir para Saint Laurent du Maroni.

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