Este post resume a nossa curta passagem pela selva onde estivemos, 3 dos últimos 4 dias, a participar num estudo sobre o Cock of the Rock da Guiana Francesa (rupicola rupicola), ou Galo da Serra em Brasileiro.
Os machos apresentam cor laranja forte e as fêmeas castanho, sendo portanto fácil a sua distinção, enquanto adultos. Os machos costumam ter um local de pernoita e, durante o dia deslocam-se para o denominado Lek onde se pavoneiam, no chão ou, subindo nos ramos com a ausência de luz no solo, em frente aos seus semelhantes e fêmeas, a fim de conseguirem arranjar parceira. Por outro lado as fêmeas pernoitam nas grutas, nos ninhos, onde colocam os ovos e também passam no Lek para a escolha do parceiro que se efectiva com o arrancar de uma pena do eleito. Normalmente as ninhadas são anuais e de 2 crias, no entanto algumas fêmeas conseguem duas ninhadas. Comem frutos, pelo menos 60 diferentes, e vivem de 12 a 15 anos.
2012/03/19
Acordámos antes das 5 da manhã para nos levarem para a Reserva Kaw. Não tínhamos ideia do que íamos fazer ou de como poderíamos ajudar no estudo mas o importante é que estava combinado. Por sorte a responsável pelo estudo, Alizée, fala português, sendo portanto fácil a comunicação e daí que fizéssemos muitas perguntas e obtivéssemos as respostas.
A meio da viagem de 1h15 fomos buscar mais 1 participante, militar da força aérea francesa e amante de pássaros.
A localização consiste na identificação do local onde um indivíduo previamente capturado e marcado com um transmissor (preso nas costas), através de uma antena que capta a frequência do emissor salientando-a com impulsos ritmados de maior ou menor intensidade consoante a distância do nosso local ao indivíduo. A direcção é determinada pela maior força do impulso rodando a antena 360 graus em torno de um ponto.
Neste dia não fizemos qualquer tipo de trabalho, apenas apreciámos a natureza. Por volta das 18h, um pouco antes do anoitecer os pássaros voltam para o seu ninho e o dia é dado como terminado. Resumindo são aproximadamente 12 horas atrás de um pássaro que tanto nos pode fazer estar sentados no mesmo sítio o tempo todo, como de repente nos faz correr alguns quilómetros no seu encalce. Na única correria a que a “nossa” fêmea, de nome Lola, nos obrigou tivemos a sorte de ver alguns macacos.
Devido às constantes, por sorte curtas, chuvadas, haviam diversas rãs no solo, por sinal muito peculiares por se assemelharem a folhas secas.
11:37 Cock of the Rock fêmea (esq.) e 12:13 Rã (dir.)
2012/03/20
Foi basicamente um dia perdido... a ideia seria reservar um carro que iriamos alugar de 23 a dia 26 mas ou só estavam disponíveis os mais caros ou não os havia sequer... como resultado tivemos novamente de refazer planeamentos.
Nos nossos muitos quilómetros percorridos neste dia aproveitámos para comprar redes mosquiteiro para as nossas hamacas, almoçámos uma baguete com Steak Haché e queijo (sandes de hambúrguer picado, uma para os dois), procurámos o McDonalds para fazer comparação de preços e prova do cá muito anunciado McFlurry Bounty (nada de especial principalmente para os 3€ despendidos)
Aproveitámos o regresso a casa para fazer o pequeno percurso de Montabo, onde vimos um enorme ninho de formigas castanhas que tinham dizimado todas as folhas das árvores circundantes.
Ao jantar fizemos massa com atum e ananás e para sobremesa um leite creme com “Merci” escrito a canela como forma de agradecimento pela hospitalidade (dado ser a nossa última noite).
2012/03/21
À mesma hora de segunda, mas agora com todas as nossas coisas às costas saímos de casa no encontro da Alizée que nos vinha buscar novamente, agora para dois dias seguidos de estudo, com dormida na reserva.
Neste dia a fêmea decidiu não esticar muito as asas tendo-se mantido perto do ninho e passado lá algumas horas, pelo que permanecemos todo o dia nas redondezas da sua gruta.
7:33 Formiga (esq.) 8:04 Milípede (dir.)
Aproveitámos parte do tempo para introduzir alguns dos muitos dados sobre anteriores pássaros monitorizados e descansar... a meio da tarde fomos visitados por um grupo de macacos Saguim de Mãos Douradas (Saguinus midas).
Enquanto a Mónica perseguia o grupo de macacos, quase atingida pelos restos de frutos atirados, apareceram perto da gruta dois furões (Galictis vittata), aparentemente muito difíceis de serem vistos por estas bandas, tendo desaparecido e voltado a aparecer no mesmo local mais duas vezes, já a Mónica havia regressado.
13:53 Alta tecnologia na Selva (esq.), 14:03 Saguim de Mãos Douradas - Saguinus midas (centro) e 15:11 Furão - Galictis vittata (dir.). As últimas duas fotos só constam como registo do seu avistamento... a qualidade é muito fraca
18h07 a fêmea entrou no ninho para aí passar a noite, 15 minutos depois saímos em direcção ao abrigo do TRESOR disponibilizado para aí passarmos a noite.
Começámos logo por montar as hamacas o que gerou grandes risadas, principalmente pela parte da Alizée que referia nunca ter visto tais redes, principalmente para dormir. Ao que parece seriam redes de jardim, para crianças, tudo bem que sejamos pequenos mas dormir lá seria ainda assim muito desconfortável, se não impossível... sorte a nossa que o Thomas, que também iria passar a noite connosco, teve tempo de passar por casa de uns amigos para arranjar mais um par delas. Note-se que em Portugal poucas hamacas encontramos e seriam todas em rede e muito semelhantes às nossas, por isso,conselho para quem for para terras de hamacas... é comprarem-nas por lá e pedirem conselhos a locais. Também aprendemos a dormir nelas,não... não é só deitar, para dormir é suposto deitar atravessados (enviesados em relação ao eixo da rede) de forma a que o corpo fique na horizontal... e sim desta vez conseguimos dormir bem... pelo menos bastante melhor do que no México.
06:29 Verdadeira Hamaca para dormir... onde dormimos (esq.) e rede de brincar... as nossas (dir.)
20h30 jantámos, á luz das velas, um Poulet Boucane com alface e picles
2012/03/22
Desta vez foi possível dormir até ás 5h30 uma vez que já estávamos mais perto da reserva, levantar... recolher hamacas... e sair...
Ás 7h iniciámos mais um dia de monitorização, logo em direcção á gruta uma vez que a Lola já se encontrava nas redondezas... embora com um comportamento muito distinto do dia anterior, sempre perto da gruta mas pouco tempo lá dentro... ainda colocámos em questão a possibilidade de estar relacionado com a proximidade dos furões no dia anterior, mas vamos aguardar pela próxima semana em que a Alizée vai averiguar os restos das ementas bem como o conteúdo no ninho...
Durante o dia fomos ainda agraciados com a passagem de uma grande vespa a transportar uma grande aranha, bem como com um caranguejo que andava a tirar as folhas que caiam nas suas redondezas.
15:30 Onde está a Lola?? (esq.) 16:40 Caranguejo (dir.)
Pelas 19h fomos até a casa dos amigos da Alizé e Thomas agradecer as hamacas, onde mais uma vez foi a gargalhada total...
Cerca das 19h30 fomos deixados no SuperMontabo onde apareceu o nosso anfitrião Adrian dessa noite, para nos levar à sua casa que partilha com mais duas pessoas,onde simpaticamente nos ofereceu uma quiche para o jantar e conversámos um pouco sobre a nossa viagem, principalmente os objetivos no Equador onde já tinha estado... infelizmente o tempo para o conhecer foi pouco, mas ficou vontade de o voltar a encontrar.
2 comentários:
Gostei dessa parte das Hamacas....não tinha ideia que havia Hamacas tão sofisticadas..e quando contei a Maria dessa técnica disse 'claro!!!!!!' .... ė o que faz nascer com Hamacas ehehehe....
Também fiquei com uma duvida....como ė que carregavam os computadores...havia geradores? E propriamente o que ė que anotavam?
Que bom que se estão a divertir....depois não se esqueçam de agregar mais fotos dos locais aonde estão...tipo acampamentos, cidades...
Um abraço!
Ola,
Quanto aos computadores basicamente não carregámos... deu enquanto houve bateria. Em todo o caso hoje os PC têm autonomias até 11 horas, portanto suficiente para 2 dias.
Anotávamos um registo de 15 em 15 minutos da posição do pássaro e nesse momento as condições atmosféricas. Fora estes eram também anotadas todas as entradas e saídas da gruta registando-se a hora exacta e se vimos ou não o pássaro.
Já chegámos das Iles du Salut... estamos a preparar o post...valeu a pena lá ir e acabou por não sair muito caro.
Vais ter algumas surpresas relativamente ao Papillon...
Abraço
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