sábado, 12 de setembro de 2015

Pico: Ribeirinha – Trilho da Rocha

No único mês do ano em que o Município das Lajes não agendou nenhum passeio, tivemos a feliz surpresa de um trilho organizado pela junta de Freguesia da Ribeirinha com pic nic no fim.

Juntámo-nos todos pelas 9:30 no centro da freguesia, onde começámos por visitar duas casas museu. A casa, devidamente restaurada, contém todo o tipo de mobiliário e utensílios utilizados no passado nas suas diferentes divisões: a cozinha, a casa de banho, os quartos, a sala e uma oficina de sapateiro. Ao lado um carro de bois em muito bom estado na sua guarita. Mais acima outra casa com uma atafona completa com todo o equipamento para processamento do milho, movido a força animal. A presença de locais no grupo com bastante experiencia de vida enriqueceu em muito a visita, com dados sobre o funcionamento dos utensílios, curiosidades sobre as casas e os seus moradores, recordações do passado.

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Museu (esq.), Alfaias Agrícolas (centro) e Atafona (dir.)
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Oficina Sapateiro (esq.) e Casa de Banho (centro e dir.)

Visitado o museu seguimos para o passeio propriamente dito. Dirigimo-nos até ao miradouro do Alto dos Cedros, onde já tínhamos passado uns meses antes aquando da realização do PR18PIC Nove Canadas da Ribeirinha. Embora o tempo estivesse bom, não estava o suficiente para conseguirmos ver a montanha descoberta, em todo o caso a vista compensa.
Aquando da nossa passagem anterior perguntavamo-nos onde daria um trilho de pé posto que seguia daqui com uma descida com grande pendente. Tinha uma vedação na altura por isso acabámos por não explorar... ora era mesmo por aí que agora seguia o percurso previsto, até onde antigamente se cultivava vinha e como tal tinha as respectivas adegas para processamento da uva.
Todo o caminho foi arranjado propositadamente para este evento, em todo o caso a forte pendente e o piso bastante escorregadio tornavam a caminhada algo perigosa. Algo que não impediu termos no grupo idades desde os 4 aos 77 anos. Os mais velhos com muitas recordações destes locais, por onde terão passado dezenas, senão centenas de vezes, com cestos de uva, figos, maçãs, laranjas, castanhas e lapas às costas. Se sem grande peso a movimentação não era fácil, então com uma cargas destas como seria...
Atualmente e para quem não conheceu, vendo a floresta densa de grandes incensos, é difícil imaginar que desde a cota do trilho até à costa estava tudo trabalhado com vinha ou pomares. Aqui e ali, por entre os incensos, uma figueira, um castanheiro, uma parreira com mais de 6 metros de altura trepando pelas árvores em busca do sol, agora plantas selvagens, mas que corroboram as histórias. Visitámos algumas ruínas das adegas, todas sem tecto mas algumas ainda com a cisterna, o lagar e as respectivas pedras de compressão, também algumas pias escavadas na própria rocha.

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Vista do Miradouro do Alto dos Cedros (esq.), Prova da água da cisterna (centro esq.), Ruína (centro dir.) e Floresta (dir.)
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Pequeno Lagar (esq.), Vista de Miradouro criado a meio do percurso (centro) e Regresso (dir.)

Uma curiosidade relativamente a este local tem a ver com a sua localização que em determinada altura do ano não recebe luz solar, pelo que aquando do aparecimento da filoxera (doença da vinha que dizimou a quase totalidade de vinha tradicional produzida no Pico, castas arinto e verdelho), as vinhas deste local ficaram protegidas e continuaram a produzir normalmente, enquanto por toda a ilha as colheitas eram praticamente nulas por morte das plantas.

Deram-nos indicação da existência de muitos antigos trilhos por ali, que chegavam à costa e daqui seguiam para Santo Amaro ou que, seguindo por onde estávamos intersectariam o Caminho das Voltas PR7PIC, em direção também a Santo Amaro.
Nós ficámos muito interessados, mas melhor que isso, os próprios funcionários da junta e outros locais demonstravam esse interesse em encontrar esses caminhos e abri-los novamente... tendo sido sugerido novo passeio para o São Martinho com descida até à costa.

No fim do percurso o prometido pic nic, oportunidade para conhecer mais alguns dos nossos vizinhos da ribeirinha.

Resumindo foi um dia muito bem passado, 5km caminhados, com muita informação nova e a visita a um local com muitas histórias para contar. Estão no entanto alguns quilómetros e muitas adegas por descobrir. Em todo o caso convém relembrar que não se trata de um trilho marcado (apenas o está até ao miradouro do Alto dos Cedros) e como tal não é aconselhável aventurarem-se sozinhos, principalmente porque o terreno é instável e com ventos ou chuvas fortes podem cair rochas e árvores, vedando a passagem.

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