domingo, 14 de junho de 2009

Peru – Puno – Lago Titicaca

Depois de uma viagem muito atribulada de autocarro chegámos finalmente, mas atrasados, a Puno. Tínhamos pago 30USD cada um tour de 2 dias no Lago Titicaca, com visitas às ilhas Uros, Amantani e Taquille, com tudo incluído. Devido ao nosso atraso de quase 2 horas relativamente ao início do tour quase nem parámos nas primeiras. O nosso tour tinha como guia o senhor Augusto, que embora local, parecia estar muito mais afectado com a altura do que nós pois comia metade das palavras das frases e inspirava profundamente a cada 2 ou 3 palavras. Sentimos alguma pena por todos aqueles que não entendiam castelhano, pois o inglês, além de ser muito mau, era tratado do mesmo modo.

Após uma viagem de 2 horas de barco chegámos a Uros. Para se poder entrar no “recinto” é necessária autorização da torre do controlo, uma torre flutuante com alguns locais empoleirados. No barco iam 8 de vários Tours que tinham sofrido das mesmas dificuldades em chegar a Puno.

As ilhas Uros são plataformas flutuantes construídas em junco. Demoram 1 ano a construir e duram perto de 10 desde que se façam trabalhos de manutenção mensais. Sob a ilha são construídas casas, celeiros, recintos de animais e tudo o que for necessário à subsistências da família que mora lá. Actualmente, e devido à actividade turística, cada ilha apresenta uma estrutura singular diferente de todas as outras como se se tratasse de uma imagem de marca.

De modo a distribuírem-se os lucros das visitas de turistas, cada grupo dirige-se a uma ilha diferente. Calhou-nos primeiro a ilha Suchi Maya que serviu como transbordo para nos juntarmos ao resto do grupo e deixar gente pertencente a outro grupo. Desta saímos numa totora (barco de junco) até outra ilha onde seria suposto, caso tivéssemos chegado a tempo, passar algumas horas. À saída fomos brindados com uma canção típica, cantada em Quechua e depois em castelhano. Infelizmente o nosso guia não quis que as senhoras se ficassem por esta música e quase as obrigou a cantarem em inglês (Roll, roll, roll your boat) e francês (Frère Jacques). Este foi um momento deprimente, notava-se na cara das pessoas que iam no barco que estavam um pouco incomodadas com a situação. As totoras demoram aproximadamente um mês a serem construidas por 7 pessoas a tempo inteiro navegando em média apenas um ano.

[09.014]_Lago_Titicaca_Uros [09.025]_Lago_Titicaca_Uros_Suchi_Maya [09.027]_Lago_Titicaca_Totora´
Ilhas Uros                                     Senhoras de Suchi Maya                                         Totoras

Fomos até uma ilha muito engraçada cuja construção singular era um pequeno lago com uma minúscula ilha onde estavam porquinhos da índia e coelhos. Nesta obtivemos informações relativamente às ilhas, sua construção e manutenção assim como o que acontece quando há querelas entre familiares ou alguém decide separar-se da família – basicamente corta-se a ilha com o serrote, levanta-se a ancora e cada lado segue caminhos separados.  Salientamos o facto de que nestas ilhas o Quechua ainda ser falado assim como o Aymara, anteriormente disperso pelo Peru mas agora circunscrito a esta pequena população de 1000 habitantes.

Partimos em mais três horas de viagem até à maior ilha peruana do Titicaca, capital de distrito e local onde iríamos pernoitar. Apesar de ser capital de distrito, Amantani é muito pobre e apenas alguns dos seus 5000 habitantes tem electricidade pois conseguiram pagar a instalação de painéis solares. Não terá sido sempre assim, antes havia electricidade mas a pobreza era tanta que não foi possível pagar o combustível do gerador.

Na ilha já estavam a nossa espera, mal chegámos fizemos a distribuição de 2 a 3 pessoas por habitação e seguimos para casa dos nossos anfitriões. Foi uma imagem engraçada, uma fila de turistas pelo monte acima acompanhados de várias peruanas, que depois divergiam por quelhos diferentes cada um para sua casa. Calhou-nos uma família muito pobre mas muito simpática. Fomos recebidos pela Agustina, uma rapariga da nossa idade mas notava-se exteriormente já com muitos anos de trabalho. Ela é a mais nova de uma família de 6 irmãs que entretanto foram casando e saindo de casa, vivendo agora sozinha com o pai Ricardo, depois da morte da mãe. A casa tinha um anexo com duas camas onde dormem normalmente os turistas

Quando chegámos o almoço/lanche estava quase pronto. Comemos sopa de quinoa e queijo frito, batatas, arroz e oca.

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                                       Amantani                                          Portão de entrada em Amantani

Depois do almoço reunimo-nos no campo de futebol para subirmos a um dos pontos mais altos da ilha com 4140m, o monte Pacha Tata (Pai terra). Após uma apresentação do local o guia disse que poderíamos voltar para a aldeia ou ir até ao outro monte o Pacha Mama (Mãe terra) com 4190m,  mas que teria de ser rápido pois não tardava em anoitecer. Acabámos por ser os únicos do nosso grupo que se aventuraram a ir até ao ponto mais alto da ilha. Pelo caminho passámos por muitos turistas fazendo o caminho contrário – em Amantani os turistas são distribuídos pelas aldeias assim como nas ilhas Uros. As vistas eram fantásticas e o pôr-do-sol também. Ficou rapidamente muito escuro de tal modo que não foi muito fácil voltar ao campo de futebol mesmo com lanternas. À nossa espera e com ar de chateados esperavam alguns aldeões, um dos quais o pai da Agustina, que entre Quechua e castelhano nos disse que estávamos atrasados para o jantar. Fomos então para casa jantar, desta vez sopa de cevada e um estufado de legumes . De barriga cheia fomo-nos preparar para uma demonstração de convívio local, vestindo os trajes típicos. Ouve música, ouve dança… foi divertido mas acabou cedo pois tínhamos de acordar cedo no dia seguinte.

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Taquille visto de Pacha Tata em Amantani            Caminho para Pacha Mama                Vista sobre o Titicaca de Pacha Mama

[09.072]_Amantani_Serão_típico
Os falsos peruanos

No dia seguinte foi-nos dado o pequeno almoço e antes da despedida comprámos um gorro feito pela Agustina e ainda lhe oferecemos a lanterna de dínamo da Mónica pois eles quase não tem acesso a pilhas para as suas.

Seguimos assim de barco para Taquille, a segunda maior ilha, agora muito mais desenvolvida que Amantani, inclusivamente apresentando Plaza de Armas restaurantes mercado comercial etc… Em Taquille vivem 3500 pessoas. Antigamente o tour que nós fizemos era feito exactamente ao contrário, pernoitando as pessoas em casas particulares em Taquille e visitando Amantani no dia seguinte, mas como Taquille se tornou muito cara inverteu-se a situação.

Nesta ilha é fácil distinguir-se pela indumentária o estado civil dos habitantes, bem como a sua posição hierárquica. Os gorros dos homens e a capa das mulheres apresentam diferenças que evidenciam estas características. À semelhança do que se passa em Amantani não existe polícia em Taquille, sendo as leis aplicadas e a justiça aplicada por intermédio das autoridades locais.

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                                Chegada a Taquille                                  Plaza de Armas em Taquile

Saímos do barco, fizemos uma subida desgastante até à vila principal, almoçámos truta e descemos pelo lado oposto onde estava o Barco à nossa espera. Entramos no barco e regressámos a Puno onde não tínhamos a certeza se visitaríamos a cidade ou iríamos logo para Arequipa. Preferimos a segunda hipótese tendo assim mais tempo para o Cañon del Colca. Assim sendo, chegando a Puno fomos logo para o terminal comprar bilhete.

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